A palavra fáscia designa uma
membrana de tecido conjuntivo fibroso de proteção: um órgão (fáscia
periesofagiana, fáscia peri e intrafaringiana) ou de um conjunto orgânico
(fáscia endocárdica, fáscia parietalis). Fáscia também designa tecidos de
nutrição, como a fáscia superficialis, fáscia própria.
As fáscias são formadas de tecido derivado do mesoderma embrionário e estão como
base de numerosas técnicas, e para isso, é preciso um atento estudo sobre elas,
sendo que aqui, a palavra “fáscia”, ou o estudo dela será visto na globalidade
(é assim que a fáscia deve ser vista nas técnicas manuais, como um todo).
Os osteopatas foram os primeiros a ter noção de globalidade. Na verdade, não se
trata de várias fáscias e sim de uma fáscia, palavra usada no singular, que
designa um grande conjunto membranoso. Tudo está ligado entre si, formando uma
continuidade, que nada mais é que a globalidade. É o conjunto tissular de uma
única peça, em que se apoiam todas as modernas técnicas de terapia manual. A
principal tese é que, a ação da menor tensão sobre qualquer região da fáscia,
seja esta tensão ativa ou passiva, irá repercutir em toda a fáscia, ou seja, se
temos uma disfunção em um músculo que se insere no pé, esta disfunção formará
uma “cadeia” em que irá gerar uma continuidade desta disfunção, podendo causar
algias em locais distantes do “verdadeiro” local da disfunção, como na coluna,
ou no braço (um músculo interfere no outro). Portanto, se o paciente relata dor
na coluna é necessário avaliarmos o paciente como um todo, e não só a sua
coluna, já que temos essa noção de globalidade.
Seja qual for o nome que a fáscia leve, ela sempre possui a mesma estrutura de
base e representa cerca de 70% dos tecidos humanos. A fáscia é um conjunto de
tecido conjuntivo, ou seja, tecido de preenchimento e para um melhor estudo,
devemos observar o seguinte:
- Como todo tecido, o conjuntivo é formado por células conjuntivas que se chamam
blastos. Nos ossos essa célula é chamada osteoblasto e na cartilagem,
condroblastos. Sua fisiologia é de secretar colágeno e elastina, duas proteínas
que se renovam, sendo a elastina uma proteína de longa duração e de formação
estável e o colágeno uma proteína de curta duração que se modifica durante toda
a vida.
O colágeno e a elastina, no interior do tecido constituem fibras (formam uma
trama que não se anasomosam): as fibras de elastina instalam-se formando uma
rede de malhas largas ao londo de todo tecido; as fibras de colágeno agrupam em
feixes conjuntivos. A fibras de colágeno são cimentadas entre si por uma
substância mucóide de ligação que tem a propriedade de fixar substâncias
retiradas do meio interno. Essas substâncias fazem a especialidade dos
diferentes tecidos conjuntivos.
Sabemos que a secreção do colágeno ocorre pela tensão do tecido e, de acordo com
a forma da tensão, essa secreção ocorre diferentemente: se o tecido suporta
tensões curtas mas recorrentes, as moléculas colaginosas instalam-se em paralelo
e as fibras de colágeno e os feixes conjuntivos multiplicam-se ( há uma
densificação do tecido, torna-se mais compacto, resistente, mas perde
progressivamente sua elasticidade), mas, se a tensão suportada pelo tecido é
contínua e prolongada, as moléculas de colágeno e os feixes conjuntivos
alongam-se (fenômeno do crescimento).
Não se conhece ainda o que leva à secreção da elastina.
- A “substância fundamental” ocupa todo espaço deixado livre entre as células
conjuntivas e é constituída de feixes conjuntivos colaginosos, pela rede de
elastina e pelo líquido lacunar.
O líquido lacunar ocupa todos os espaços deixados livres entre as células
conjuntivas, os feixes colaginosos e a rede de elastina. O volume desses espaços
é função da maior ou menor densificação do tecido. O líquido lacunar é a “linfa
intersticial” pois de seu meio os capilares linfáticos retiram os elementos que
se transformam em linfa. Trata-se do plasma sangüíneo. A linfa intersticial é
sede de uma imensa atividade metabólica, ela encerra um grande número de células
nutritivas e um número ainda maior de células macrófagas, o que lhe dá o papel
principal de nutrição celular e eliminação. Ou seja, o tecido conjuntivo, em si
só, é a sede de grande atividade celular (leucócitos e macrófagos).
O tecido fascial varia em espessura e densidade, de acordo com as solicitações
mecânicas, e a quantidade de linfa circulante reduz-se com a densificação do
tecido.
- Líquidos do meio interior (circulação):
Os líquidos internos circulantes são divididos em sangue, linfa, líquido
cefalorraquiano, plasma, etc. Por base, esses líquidos são os mesmos, de acordo
com a permeabilidade das membranas e das circunstâncias funcionais, ele circula
por todo o corpo levando nutriente e trazendo elementos nocivos, que se
regeneram para iniciar o ciclo.
O sangue arterial passa por capilares cada vez mais finos até chegar aos últimos
capilares (chamados capilares “fenestrados”). Aqui, o plasma transborda para
nutrir os tecidos e passa a ocupar os espaços lacunares (os do tecido
conjuntivo) onde começa a eliminação. Da linfa intersticial, os capilares
linfáticos extraem os primeiros elementos da linfa que está nos gânglios, e
assim, a linfa definitiva volta ao circuito venoso, participando, com isso, do
ciclo.
O líquido cefalorraquidiano é ao mesmo tempo plasma e linfa no sistema nervoso.
Ele é originário do sangue e a ele retorna.
Tendo a visão da globalidade, da continuidade da fáscia, entendemos como e
quanto uma pequena anormalidade do esqueleto ou a menor perturbação articular
pode influenciar e repercurtir sobre a circulação dos líquidos corporais. O
movimento rítmico da fáscia é o agente mecânico da circulação dos líquidos.
Mesmo tendo a visão da globalidade, para um melhor estudo, subdividimos a fáscia
em 3 camadas: superficial, muscular e subserosa.
A) Fáscia Superficial – é o tecido frouxo que se interpõe entre a lâmina
superficial da camada muscular e a pele, sua função metabólica é considerável,
assegurando a nutrição da camada epitelial da pele. Esta fáscia é embebida de
linfa intersticial e ocupa um papel considerável na circulação dos fluídos.
B) Fáscia Muscular – é o esqueleto fibroso. Dá ao corpo sua morfologia.
De espessura variável, desdobra-se várias vezes para envolver os músculos
superficiais (lâmina superficial), os músculos profundos (lâmina profunda) e
emite tabiques intermusculares que separam os músculos em grupos funcionais.
Podemos dizer que a fáscia muscular encontra-se estendida sobre o esqueleto, de
modo que algumas inserções são fixas: coluna, esterno, fíbula. Outras ainda
estão sobre ossos sesamóides: escápula, patela, sacro.
Assim, podemos ver que qualquer movimento, qualquer deslocamento de uma peça,
repercute no conjunto.
C) Fáscia Visceral ou Subserosa – situa-se entre a camada de revestimento
interno da fáscia profunda e as membranas serosas que revestem as cavidades do
corpo. É muito delgada em algumas áreas (por exemplo, entre a pleura e a parede
torácica) e espessa em outras, muitas vezes um coxim gorduroso como o que
envolve o rim.
Uma fenda, mais ou menos evidente separa a fáscia subserosa da fáscia profunda,
o que permite um grau considerável de movimento, de deslizamento entre as duas
fáscias.
CONCLUSÃO
É extremamente importante termos em mente as várias funções da fáscia, além de
suas já conhecidas atuações de proteção e sustentação corporal.
A fáscia desempenha outros papéis que são fundamentais para o funcionamento
saudável do organismo humano. Entre estas funções podemos citar:
- A função tônica, onde a fáscia fornece tônus ao sistema muscular, mesmo quando
este está em repouso, ou sem atividade neuromuscular.
- É parte fundamental do metabolismo do corpo e do mecanismo pelo qual o corpo
distribui os fluidos.
- É sede de intensa atividade celular, sendo o campo da ação dos leucócitos e
macrófagos (o que lhe confere importância fundamental nos processos
inflamatórios).
- É o local onde a gordura é depositada e estocada.
- Íntegra no processo de coordenação motora através da transmissão de tensões.
- Compõe o sistema de drenagem linfática (bomba linfática), fato que lhe confere
grande importância, pois quando ocorre inflamações, aderências e restrições que
envolvam o tecido fascial, este sistema pode ficar comprometido.
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