Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

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Escrito por:
Marco Aurélio Nunes das neves

Acadêmico da Clínica Escola da Universidade Salgado de Oliveira


Pré-cinéticos e a Influência da
Mobilização na Síndrome do Túnel do Carpo
Estudo de Caso


RESUMO:

Na Síndrome do túnel do carpo (STC), o nervo mediano é patologicamente comprimido ao passar sob o retináculo flexor, onde os sintoma incluem parestesias, formigamento, queimação na palma da mão, comprometimentos da dor na mão com o uso repetitivo, fraqueza e atrofia muscular (deformação de “mão de macaco”) levando a diminuição articular. O objetivo desse trabalho é apresentar dados sobre a importância da mobilização intra-articular na reabilitação do paciente, influenciando assim no ganho do arco de movimento (AM) em pós-cirúrgico de (STC).
Este trabalho é baseado em um estudo de caso proposto pela Clínica Escola da Universidade Salgado de Oliveira, num período de setembro á novembro de 2003, onde os resultados foram analizados durante 10 sessões, duas vezes por semana, sendo analizados os movimentos de flexão, extensão, desvio ulnar e desvio radial antes e depois de cada sessão através da goniometria.

No tratamento foram utilizados pré-cinéticos e cinéticos como o infravermelho, laser, movimentos intra-articulares, theraband, toalha, bola e exercícios de alongamentos Foram utilizados testes específicos como Phalem, Phalem invertido, Sinal de Tinel e Filkenstein na anamnese. Observou-se de um modo geral que através da mobilização ocorreu um aumento da amplitude pré e pós-tratamento e um efeito cumulativo pré e pós-tratamento.

Foram alcançados valores da amplitude no membro de controle e no membro experimental semelhantes para o desvio radial e ulnar, para os movimentos de flexão e extensão não foram totalmente alcançados, mas apresentam tendência para esta ocorrência.

Observou-se que a mobilização exerce grande influência na reabilitação do paciente inibindo a dor, quebrando os espasmos musculares e fornecendo um feedback ao SNC dos sincronismos dos músculos agonistas e antagonistas, assim como no pré-cinético melhorando a vascularização, remoção de produtos degradados e aceleração do processo cicatricial.

Observou-se também que 10 sessões não foram suficientes para restabelecer o (AM) total do paciente. Estudos adicionais em grupos são necessários para a verificação da eficácia do tratamento na população.


I -INTRODUÇÃO:

Em 1998, Bennett et al. [1] relataram que no (STC), o nervo mediano é patologicamente comprimido no punho ao passar sob o retináculo flexor, segundo mostrado na figura 1. Os sintomas incluem sensações de parestesia, formigamento e queimação na palma de uma ou ambas as mãos, nos dedos suprimidos pelo nervo mediano, incluindo I, II, III e IV dedos. Em alguns pacientes, os sintomas podem persistir durante anos sem sinais objetivos de lesão no nervo mediano. Em outros, pode aparecer irritação, inflamação e edema da articulação do punho devido a trauma (como queda sobre a mão).

Em 1992, Kisner e Colby [2]. Relataram também que os comprometimentos comuns são o aumento da dor na mão com o uso repetitivo, fraqueza ou atrofia nos músculos tênares e dois primeiros lumbricais, deformação em “mão de macaco”, retração no adutor do polegar e extensores extrínsecos do polegar e dedos II e III, perda sensorial na distribuição do nervo mediano, possível diminuição na mobilidade articular do punho e articulações Metacarpo Falangianas do polegar e dedos II e III.

No pós-operatório a liberação cirúrgica do ligamento transverso do carpo é feita para avaliar as forças compressivas no nervo mediano. A terapia pode ser usada após a cirurgia se houver restrições ou fraquezas musculares. As terapias funcionais incluem mobilizações de articulações restritas, massagem do tecido cicatricial, exercícios de alongamentos e fortalecimento para os músculos fracos, treinamento de fortalecimento e resistência à fadiga nos músculos estabilizadores do ombro, cotovelo e antebraço.

O objetivo desse trabalho é apresentar dados que demonstram a importância da mobilização (realizado em 10 sessões) na recuperação do paciente devido à perda da função, fraqueza muscular e diminuição da mobilidade articular, influenciando assim no ganho de arco de movimento (AM), em pós-cirúrgico de síndrome do túnel do carpo.




 

Figura 1: trajeto nervo mediano (extraída do Atlas Neter)




II-MATERIAIS E MÉTODOS:

II. 1) ANAMNESE:

Este caso é baseado em estudo de um caso clínico de uma paciente com STC, M. B. da Cruz, 44 anos, servente, sexo feminino, realizou uma cirurgia reparadora no punho direito no dia 15 de agosto de 2003. Depois de passado um mês de cirurgia a paciente relatou ardências na região tenar da mão direita e dores nas articulações interfalangianas (proximal, media e distal), sendo tratada na ocasião com medicamentos Cataflan® e Dipirona® (SIC).

Constatou-se ao exame físico a presença de rubor na região do punho, presença de edema no punho e leve edema nas mãos, dor à palpação em região hipotênar e tênar. Foi observado que a força muscular estava diminuída, grau 3 [2]. Ao exame físico, os resultados obtidos com a goniometria mostraram arco incompleto de movimento.

Foram também realizados testes de Phalem, Phalem Invertido, Sinal de tinel, sendo estes positivos e teste de Filkenstein [3].


II. 2) METODOLOGIA:

O tratamento proposto pela Clínica Escola da Universidade Salgado de Oliveira (CEU), foi de duas sessões por semana com duração de 60 minutos para cada sessão, onde foram realizados Pré-cinéticos e Cinéticos no tratamento. Como Pré-cinéticos foram utilizados o Infravermelho da marca (Infraphil® 150 w L2), durante 20 minutos com um raio de incidência de 90º e uma distância de 30 centímetros entre a lâmpada e o paciente. Com o paciente em posição sentada, com o antebraço direito (experimental) em posição de drenagem objetivou-se reduzir o edema residual e também promover o relaxamento de estruturas musculares extrínsecas e intrínsecas da mão, assim como permitir uma melhor vascularização tecidual.
Também foi utilizado como Pré-Cinético no tratamento da cicatriz o Laser Arseneto de gálio (KLD® infra red livm 904), onde na sua aplicação foram escolhidos cinco pontos e em cada ponto foram realizadas duas séries de uma aplicação de 20 segundos em cada ponto e uma dose de quatro joules/cm², com o intuito de acelerar o processo cicatricial, e uma técnica de Ciriax na cicatriz com o objetivo de reparar o tecido e evitar quelóides.

No tratamento Pré-Cinético foi utilizado exercício passivo como alongamentos regulares e ritmados (stretching) nos músculos flexores e extensores do punho. Nos exercícios cinéticos, foi utilizados movimentos passivos como mobilizações das falanges distais, médias e proximais, mobilizações carpometacárpicas, mobilizações do carpo, mobilização da articulação rádio-ulnar distal.

Na mobilização foram utilizados movimentos acessórios intra-articulares com oscilações rítmicas de grau I e grau II, aplicando pequenas oscilações de forma homogêneas e regular de 2 a 3 oscilações por segundo durante 1 a 2 minutos em cada articulação.

Com o paciente sentado e o antebraço em repouso, estabilizou-se a articulação a ser tratada com a mão proximal e com a mão dominante realizou-se o procedimento (tração, giro e deslizamento), com o objetivo de tratar a disfunção articular, rigidez e a hipomobilidade articular. Nos exercícios ativos livres realizou-se movimento de oponência para estimular a apreensão, trabalho com bola e exercício com toalha. No exercício com toalha, colocou-se o paciente sentado com o membro superior em cima da maca com o membro superior em pronação, orientando-o a puxar a toalha e o terapeuta impondo uma resistência. Já nos exercícios com o elástico (theraband), colocou-se o paciente sentado com o membro superior em supinação, com a mão a ser exercitada pendente em cima da maca segurando o theraband, impõe-se uma resistência. Com esses exercícios objetivou-se a resistência e ganho de força muscular.

Foi analisado o (AM), com o paciente em posição ortostática, com o antebraço em pronação, punho do paciente em posição neutra. Colocou-se o goniômetro C. CARCI no centro do processo estilóide do rádio, instruindo o paciente para flexionar o punho. Na extensão foi realizada a mesma posição, instruindo o paciente para realizar uma extensão. Na realização da mensuração do desvio ulnar e radial, com o paciente com o punho na posição neutra e mão pronada, colocou-se o goniômetro no plano coronal, com o centro na junção rádio-ulnar, instruindo o paciente a realizar um desvio ulnar e radial. As medidas dos (AM) foram realizadas no lado afetado da paciente (direito, experimental) e contralateral (esquerdo, controle).


III-RESULTADOS

A figura 2 mostra a evolução dos (AM) para desvio ulnar, desvio radial, flexão e extensão de punho. No desvio ulnar mostra que nas três primeiras sessões houve um aumento da amplitude do (AM), onde o maior ganho foi á partir da terceira sessão no pré e pós-tratamento. Houve também um decréscimo do (AM) entre a quarta e quinta sessão, tal fenômeno se deve ao fato do paciente não estar realizando exercícios no âmbito do lar, para que ocorra uma preservação e estabilização do (AM). A partir do momento em que o paciente realizou exercícios diários, ocorreu um aumento da amplitude já na quinta sessão e um efeito cumulativo onde observou-se a estabilização e a amplitude total do (AM) á partir da sexta sessão.

No desvio radial observou-se evolução já nas primeiras sessões. O paciente obteve uma diminuição da amplitude de movimento á partir da terceira sessão até a quinta sessão, tal fenômeno ocorreu também pelo fato do paciente não estar realizando exercícios diários, ou devido ao quadro álgico do paciente. Nota-se uma estabilização do (AM) á partir da sétima sessão.

Já na flexão de punho o paciente obteve ganho na amplitude de movimento apesar de ocorrer um decréscimo na amplitude total nas três primeiras sessões, tal fenômeno também se deve ao fato da falta de exercício realizados diariamente, ou devido ao quadro álgico do paciente, mas á partir da terceira sessão obteve-se um aumento do (AM) e um efeito cumulativo no pré e pós-tratamento.

Na extensão de punho houve um ganho da amplitude do (AM) nas primeiras sessões, mas também ocorreu uma perda da amplitude total do movimento. Tal fenômeno deve-se ao fato do paciente não estar realizando exercícios diários, ou devido ao quadro álgico do paciente. A partir da terceira sessão nota-se um aumento do (AM) e um efeito cumulativo pré e pós-tratamento.

Observou-se que, de modo geral, houve aumento da amplitude pré e pós-sessão e um efeito cumulativo no pré e pós-tratamento.

Nota-se uma estabilização do arco de movimento para desvio ulnar a partir da 6a sessão e para o desvio radial a partir da 7a sessão. Tal fenômeno não ocorre para os movimentos de flexão e extensão de punho, mas apresentam tendência para esta ocorrência.



 

Desvio Ulnar Desvio Radial
   
Flexão Extensão
   
   

Figura 2: Gráficos de evolução do arco de movimento no desvio ulnar, desvio radial, flexão e extensão de punho no membro experimental.




A figura 3 apresenta a comparação entre o membro controle (esquerdo) e o afetado (direito). Pode-se notar que para os desvios radial e ulnar no segmento experimental foram alcançados valores de amplitude de movimento semelhantes ao membro controle. Para os movimentos de flexão e extensão de punho, tais valores não foram totalmente alcançados, apesar de a diferença residual para a flexão ser menor que para a extensão.
 


 

 

Figura 3: Gráfico comparativo do arco de movimento no desvio ulnar, desvio radial, flexão e extensão de punho entre os membros experimental e controle.




IV-DISCUSSÃO

A utilização do Infravermelho, como pré- cinético foi de grande influência no tratamento proposto devido o aumento de temperatura no tecido resultando no aumento das atividades metabólicas. Segundo Clyton [4], ocorre um aumento do fluxo sanguíneo na circulação cutânea devido a vasodilatação dos vasos sanguíneos na pele, esse processo faz com que células e agentes químicos sejam levados à área para ajudar no processo de reparação e remoção dos produtos degradados decorrentes da lesão.

Observações clínicas sugere que o calor pode aliviar o espasmo muscular, isso pode ser explicado por uma redução na excitabilidade dos fusos musculares em decorrência de uma redução na atividade y eferente que ocorre com o aquecimento.

A técnica de contato utilizado com a laserterapia justifica-se pela maximização da irradiância ou da densidade de potência, portanto o fluxo luminoso no interior do tecido alvo está assegurado na eficácia do tratamento, assim as lesões situadas mais profundamente sejam tratadas mais eficazmente. A técnica também se justifica pelo fato de uma maior velocidade de cicatrização, reparo e oclusão das feridas e como um meio acelerador na regeneração dos nervos e reduções concomitantes na dor.

Segundo Guyton [5], o nosso organismo possui receptores sensoriais que tem origem na superfície do corpo ou em suas estruturas profundas que incluem sensações como tato, pressão, calor e dor e a deformação dos receptores causam respostas, começando com o reflexo de defesa a nível de medula espinhal que inibem a ação dos estímulos dolorosos.

Já Brunnstom [6], descreve que as articulações possuem receptores sensoriais que são encontrados nas cápsulas e ligamentos, onde o receptor é estimulado ao ser deformado, assim a informação a partir dos receptores articulares continuamente fornece informações por feedback ao sistema nervoso. Então conclui-se que através da mobilização intra-articular conseguimos deformar estes receptores através de estímulos mecânicos que irão chegar à medula espinhal, trazidos pelos nervos periféricos inibindo a transmissão dos sinais de dor.

Outro mecanismo que inibirá a dor é a quebra do espasmo muscular, Guyton [5], afirma que a isquemia é um dos mais importantes estímulos doloroso, devido à compressão de vasos produzidos pela isquemia, o que levará a uma diminuição do fluxo sanguíneo, permitindo o acúmulo de diferentes produtos metabólicos nos tecidos como, ácidos e a bradicinina que produzem efeitos irritativos sobre as terminações neurais de dor.

Brunnstom [6], relata que quando uma articulação não é livre para mover-se, os músculos que a movem não conseguem ser livres para move-lá, onde a função muscular prejudicada perpetua-se e pode causar deteriorização em articulações normais, baseado neste princípio os movimentos acessórios realizam a diminuição dos espasmos musculares.

Kisner e Colby [2], relatam que a mobilização estimula a atividade biológica movimentando o líquido sinovial trazendo nutrientes para a cartilagem avascular.Técnicas de mobilização intra-articular leve ajudam a manter a troca de nutrientes e assim prevenir os efeitos dolorosos e degenerativo da estase quando uma articulação está edemaciada ou dolorosa.

Impulsos nervosos aferentes de receptores articulares transmitem informações para o SNC, tornando-se uma fonte importante de feedback proprioceptivo.



V-CONCLUSÃO

Os resultados demonstram a importância da mobilização na reabilitação de pós-cirúrgico de STC em um período de dez sessões de tratamento.

O tratamento ainda está em continuidade, pois como verificado nos resultados, 10 sessões não foram suficientes para o restabelecimento do arco de movimento para flexão e extensão (em comparação com o outro membro), neste paciente. Estudos adicionais são necessários em grupos de pacientes e com grupos de controle, para a verificação da eficácia do tratamento na população.



VI-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1. CECIL Medicina Interna Básica, Andreolli Bennett, Carpinter Plum, editora Guanabara Koogam, 4ªedição

2. Exercícios Terapûticos Fundamentos e Técnicas, Colby, Lynn Allen, editora Manole, 3ª edição, 1996.

3. Manual Fotográfico de Testes Ortopédicos e Neurológicos, Joseph J. Cipriano, Warem T. Jann, Manole, 3ª edição, 1999.

4. Eletrotermoterapia de Clayton, Sheila Kitchen e Sara Basin, editora Manole, 10ª edição, 1998.

5. Fisiologia Humana, Guyton, editora Guanabara Koogan, 6ªedição, 1988.

6. Cinesiologia Clínica de Brunnstom, editora Manole, 5ªedição, 1997.


 

Obs.:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de seu autor.
- Publicado em 07/04/04

   
   


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