Um estudo cinesiológico
1)Inervação recíproca e co-contração
A grande maioria dos movimentos humanos é realizada de forma irrestrita e
perfeitamente ordenada; isso acontece em decorrência de reflexos existentes em
nosso corpo durante o movimento resultantes de um processo conhecido com
inervação recíproca. Neste processo acontece o seguinte: proprioceptores
presentes no músculo conhecido pelo nome de fusos musculares são sensíveis ao
grau de estiramento das fibras musculares. Portanto quando há um estiramento
destas fibras o fuso muscular detecta a modificação e também sofre distensão, o
que ativa o neurônio 1-a (neurônio anuloespiralado) presente em sua região
central. Este neurônio ramifica-se e atinge a região anterior da substância
cinzenta medular, local onde estão os motoneurônios. Algumas ramificações do
neurônio 1-a mandam PPSE'S (potenciais pós-sinápticos excitatórios) para
motoneurônios alfa que inervam o músculo, provocando assim a contração muscular.
Porém, outras ramificações do neurônio 1-a estabelecem sinapses com
interneurônios inibitórios presentes na medula que, por sua vez, enviam PPSI'S
(potenciais pós-sinápticos inibitórios) para motoneurônios dos antagonistas aos
músculos que se contraíram, provocando sua inibição. Assim, o estiramento
muscular dá origem a um reflexo que gera a contração dos músculos agonistas e
relaxamento dos músculos antagonistas.
Sherrington observou que em animais descerebrados ou anestesiados nos quais os
controles voluntários está abolidos impulsos neurais aferentes que estimulam os
neurônio motores de dado músculo inibem reflexamente os neurônios motores dos
músculos antagonistas.Este efeito é conhecido como inervação recíproca, e o
mecanismo pelo qual ele funciona e a inibição recíproca do músculo
antagonistas.Um movimento incoordenado pode sobrevir se é excitação do agonista
não for acompanhada dessa inibição reflexa correspondente do antagonista.
Sherrington também observou que os músculos antagonistas podem contrair-se
simultaneamente com os agonistas, o que ele atribuiu a uma inervação recíproca
dupla. Estudos sobre o papel dos fusos musculares na produção de um reflexo de
estiramento sugerem que essa teoria não é mas defensável.
Sherrington verificou também que após ser submetida a inibição reflexa, a
estimulação neural para um músculo esquelético tende a aumentar (descarga
rebote). Em conseqüência, a aplicação de estimulo que causa flexão (ou extensão)
de um membro tende a ser seguida de extensão (ou flexão) ativa do membro
(indução sucessiva) quando o efeito inibitório é suspenso. Já em 1925, Tilney e
Pike concluíram que sobre condições normais não eram capazes de observar os
fenômenos de Sherrington que a “coordenação muscular depende principalmente da
relação de co-contraçao sincrônica nos grupos de músculos antagonista”.
Sugeriram que um possível resultado do distúrbio dessa relação de co- contração
fosse hiperextensão pelos agonista, seguida hipercorreção pelos antagonista.
Sobreviria uma serie irregular de oscilações, o que pode explicar os sintomas
clínicos de ataxia.
Somente os músculos que atuam sobre uma única articulação são considerados
antagonistas verdadeiros. Os músculos que atuam sobre, mas de uma articulação
agem às vezes como antagonista e outras vezes como sinergistas. O músculo reto
da coxa normalmente atua como antagonista dos músculos do jarrete, mas se o
quadril e o joelho são fletidos simultaneamente, o músculo reto da coxa atua
sinergicamente com eles. Em alguns músculos multipenados , uma parte pode atuar
como antagonista e a outra como sinergista.
Quando um agonista atinge a amplitude final da contração, ele começa a causar
estimulação proprioceptiva do músculo antagonista . A contração resultante do
antagonista, então, oferece resistência a fase final do movimento agonista. A
posição do movimento onde essa resistência ocorre varia com articulação e
músculos envolvidos.
É possível demonstrar a inervação recíproca no homem em movimentos voluntários
sem resistência, movimentos reflexos como o reflexo patelar e, em caso de
espasticidade, uma condição que leva a um encurtamento estrutural dos músculos
envolvidos. Mostrou-se que a estimulação elétrica de músculos antagonistas
aqueles em espasmos resulta em relaxamento dos músculos espásticos.Alguns
investidores acreditam que, no movimento voluntário normal, a co-contraçao é
antes a regra do que a exceção, e faltam evidências satisfatórias de que a
inervação recíproca exerce o papel geralmente atribuído a ela cinesiologistas;outros
afirmam que durante o movimento o antagonista se relaxa completamente, com uma
única exceção – o final de um movimento semelhante a uma chicotada e uma
articulação em dobradiça.
As evidências sugerem que os músculos antagonistas comportem-se de três maneiras
distintas:
1) Quando há resistência externa é tão grande que a articulação não consegue se
mover, os antagonistas se relaxam.
2) Quando os músculos estão atuando contra uma resistência moderada, os
antagonistas tornam-se ativos para desacelera o movimento.
3) Quando não há resistência externa a ser superada e o membro deve move-se com
grande precisão, a tensão tende a ser mantida nos grupos agonistas e
antagonistas, com o primeiro predominando.
(...) "este tipo de organização em que há ativação de um conjunto de neurônios e
inibição dos neurônios antagonistas é designado por inervação recíproca"(...)
(Guerra, Falcão e Moreira,2001, pág. 3)
Um bom exemplo de inervação recíproca acontece no movimento de musculação
conhecido pelo nome de flexão do cotovelo. Neste movimento o músculo bíceps
braquial age como agonistas ao realizar sua contração no movimento do antebraço
em direção antero-posterior, ao mesmo tempo que o músculo tríceps braquial age
como antagonista, já que se relaxa durante o movimento. Falando de músculos
agonistas e antagonistas, o presente artigo passará a partir de agora a
descrever com maior riqueza de detalhes como ocorre a relação entre estes dois
agentes durante o movimento.
2) Inibição
Exemplos de inibição graduada são vistos na maioria dos movimentos voluntários.
O conceito de co-contração estabelece que o movimento geralmente envolve a
contração simultânea de grupos musculares antagonistas, embora possa haver uma
nítida diferença nas forças exercidas pelos membros do par. Quando a resistência
externa aos agonistas é grande, a co-contração dos antagonistas é mínima, um
efeito inibitória central atua sobre os antagonistas para reduzir a resistência
ao movimento. Essa inibição ocorre em reflexos involuntários, embora talvez
aprendidos. È controlada na medula espinhal e níveis inferiores do cérebro e é
aproximadamente proporcional à quantidade de força necessária para que os
agonistas realizem o movimento.
Um fisioterapeuta,administrador de primeiros socorros ou atleta eventualmente
pode fazer uso do fenômeno de inibição de antagonistas. As cãibras e espasmos
musculares, especialmente quando agudos, as vezes são aliviados por uma forte
estimulação voluntária ou elétrica do antagonista do músculo.
Como em outros reflexos, a inibição de antagonista pode ser sobrepujada ou
modificada sob certas condições. Por exemplo, na amplitude máxima de movimento o
antagonista inibido pode ser alongado o suficiente para iniciar uma contração
miotática.
Uma tensão geral excessiva associada ao estresse emocional também modifica a
inibição reflexa de antagonistas. Nos estágios inicias do aprendizado motor,
fatores como o medo, constrangimento e motivação intensa podem resultar em
contrações indiscriminadas de grupos musculares, interferindo assim um movimento
regular e eficaz. Atletas treinados aprenderam padrões coordenados de contração
e inibição;estas foram tão fortemente condicionadas que apenas estresses
intensos são capazes de interferir .Em qualquer atleta, a remoção da tensão
geral excessiva minimiza a produção de impulsos motores e irrelevantes,
permitindo que ocorram os reflexos condicionados para a contração e inibição. Os
técnicos, professores e fisioterapeutas que enfatizam o relaxamento geral,
minimizam o medo e têm cautela no emprego de estresses para motivação durante o
processo de aprendizado, estão agindo com base em princípios fisiológicos e
psicológicos.
3) Classificação dos músculos
Anatomicamente, os músculos podem ser classificados obedecendo a
diversos critérios. Nesta seção vamos falar sobre a classificação dos músculos
quanto à sua função. Lembrando sempre que tal classificação refere-se apenas aos
músculos esqueléticos.
Foi visto anteriormente que os músculos envolvidos em um movimento qualquer não
se contraem independentemente uns dos outros. Na verdade eles estão interligados
por um processo conhecido por inervação recíproca, onde cada músculo tem uma
função diferente. De acordo com Dangelo e Fattini (2000) os músculos podem ser
classificados em três categorias quanto à sua função: agonistas, antagonistas e
sinergistas.
3.1) Os músculos agonistas : são os agentes principais na execução de um
movimento. Geralmente são os músculos que se contraem ativamente, sendo que além
daqueles que produzem movimentos, também são considerados agonistas os que se
contraem para permitir a manutenção de uma postura. Um exemplo de músculo
agonista é o glúteo médio no movimento de abdução da coxa.
3.1.1) O papel do agonista : quando um músculo sofre uma contração com
encurtamento,diz-se que ele é agonista para as ações articulares resultantes.Por
exemplo, o tríceps do braço é um agonistas para a extensão do cotovelo.Alguns
músculos são agonistas para mais de uma ação numa dada articulação;muitos tem
uma ou mais ações sobre cada uma de duas ou mais articulações que eles por acaso
atravessam. O bíceps do braço, por exemplo, é agonista para a flexão do cotovelo
e supinação rádio-ulnar, e, além disso, é agonista para várias ações da
articulação do ombro, devido a sua inserção proximal por duas cabeças da
escápula.O agonista causa um movimento, algumas vezes, é denominado músculo
principal do movimento.
3.2) Os músculos antagonistas: são aqueles que possuem ação anatômica
oposta à dos agonistas, seja para regular a rapidez ou a potência desta ação.
Usualmente os antagonistas são músculos que não estão se contraindo e que nem
auxiliam nem resistem ao movimento, mas que passivamente, principalmente em
atletas mais experientes e habilidosos, se relaxam permitindo a maior facilidade
do movimento (Bompa, 1993). Um exemplo de músculo antagonista é o adutor magno
na abdução da coxa.
3.2.1) O papel do antagonista: um antagonista é um músculo cuja contração
tende a produzir uma ação articular exatamente oposta a uma ação articular dada
de outro músculo especificado.Um músculo extensor é, potencialmente, antagonista
de um músculo flexor. Assim, o bíceps do braço é antagonista do tríceps do braço
com relação à extensão do cotovelo, e do músculo pronador redondo com relação a
pronação rádio-ulnar. O bíceps do braço não é antagonista do músculo braquial,
pois ele não se opõe a nenhum movimento para o qual o braquial seja agonista. O
antagonista tem o potencial de se opor ao agonista, mas geralmente se relaxa
enquanto o agonista trabalha.Quando o agonista se contrai ao mesmo tempo que o
antagonista, ocorre uma co-contração.
3.3) Os músculos sinergistas: os quais podem ser conceituados como sendo
os músculos que se contraem ao mesmo tempo dos agonistas, porém não são
considerados os principais responsáveis pelo movimento ou manutenção da postura.
3.3.1)O papel do sinergista: é um termo usado por alguns autores para
determinar o papel dos músculos agonistas secundários. A desvantagem deste termo
é que, embora indique que um músculo está em ação, não especifica como essa ação
ocorre.
Normalmente os músculos sinergistas sempre estão em número maior do que um. Por
exemplo: os músculos sinergistas no movimento de abdução da coxa são o reto
femoral, o glúteo máximo, tensor da fáscia lata, glúteo mínimo, sartório e
piriforme.
Uma vez que os movimentos são inteiramente influenciados pela interação entre
grupos musculares agonistas e antagonistas, um movimento espasmódico ou
realizado rigidamente, pode resultar de uma interação inapropriada entre os dois
grupos (ibdem, ). Daí a importância do treinamento no que diz respeito a
proporcionar um relaxamento mais eficiente dos músculos antagônicos e desta
maneira melhorar a suavidade da contração muscular
4) Ações agonistas, antagonistas e sinergistas
A classificação anatômica das ações musculares ocorre quando o
músculo atua sozinho, sua fixação proximal é estabilizada (por outros músculos
ou pelo peso corporal), e a fixação distal move-se em movimento de cadeia aberta
com uma contração concêntrica contra a gravidade ou muito leve resistência.Assim
não é surpreendentes que as definições agonistas,antagonistas e sinergistas não
sejam constantes para os músculos mas variam com a movimentação e as forças
impostas que ocorre em função.
5) Tipos de contração muscular
A maior e mais freqüente fonte de força gerada no corpo humano é pela
contração dos músculos, sendo que estes nunca se contraem isoladamente pois isto
produziria um movimento não funcional estereotipado. Por exemplo, a contração
isolada do bíceps braquial produziria flexão no cotovelo, supinação no antebraço
e flexão do ombro. Ao invés disso, diversos músculos em uma refinada combinação
de forças contribuem para produzir a força desejada e o resultante movimento.
Existem três tipos de contração muscular: isotônica, isométrica e isocinética.
5.1) As contrações isotônicas: consistem no tipo mais conhecido de
contração muscular. Caracterizam-se principalmente pelo encurtamento do músculo
com tensão constante ao levantar uma carga (ibdem, ). Dividem-se em dois
subtipos: as contrações concêntricas e as contrações excêntricas. As contrações
isotônicas concêntricas são aquelas onde as extremidades aproximadas. Já com a
contração isotônica excêntrica fenômeno oposto ocorre, ou seja, a resistência ao
músculo (peso) supera a força muscular e as extremidades do músculo são
afastadas. Na rosca direta este tipo de contração fica caracterizado quando o
peso levantado volta a sua posição inicial, fazendo com que as extremidades do
bíceps braquial sejam afastadas.
5.2) As contrações isométricas: neste tipo de contração o músculo produz
força sem alteração macroscópica no ângulo da articulação, ou seja, não há
mudança no comprimento do músculo. A sua aplicação se dá contra uma resistência
(peso) irremovível como, por exemplo, uma parede, e sua finalidade normalmente é
de manutenção da postura e estabilização das articulações. Na prática sugere-se
trabalhar este tipo de contração com o número de 5 a 10 repetições, com o tempo
de 5 a 7 segundos por contração e freqüência de 3 a 5 vezes por semana em um
trabalho com 50% da força máxima.
5.3) As contrações isocinéticas: Neste tipo de contração a força gerada
pelo músculo ao encurtar-se com velocidade constante teoricamente é máxima
durante toda a amplitude do movimento (Fox, 2000). O trabalho com este tipo de
contração normalmente exige um equipamento especial criado para permitir uma
velocidade constante de contração, não importando a carga (Bompa, 1993).
6) Considerações finais
O presente texto teve por objetivo o "Estudo Cinesiológico dos Músculos"
referindo-se aos agonistas e antagonistas, uma vez que os mesmos atuam através
de mecanismos que foram amplamente descritos e exemplificados ao longo desta
apresentação. Para este trabalho foram utilizados arquivos bibliográficos
diversos, sites de busca da internet e ainda algumas consultas a profissionais
desta área de atuação. Procuramos abordar o maior número possível de exemplos e
de situações prático-teóricas, com o intuito de florescer o nosso conhecimento e
também, como não poderia deixar de ser, deixar-nos em condições de melhor
discutir os referidos assuntos, tornando-nos ainda mais capazes na arte da
fisioterapia.
Por fim, entendemos que exercícios desta natureza devam ser realizados com
freqüência, pois a elucidação da investigação científica age como elemento
fundamental no processo de desenvolvimento profissional em que estamos
inseridos.
Referências bibliográficas:
1)GUYTON, Arthur C. Fisiologia humana. Traduzido por Charles Alfred Esberard.
6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
2)GUERRA, Miguel, FALCÃO, Manuel, MOREIRA, Adelino Leite. Reflexos
osteotendinosos. [on line] Disponível na internet. URL: http://www.Fisiologia.med.up.pt/textos-apoio/reflexos.
Pdf.14.dez.2002.
3)MAUGHAN, Ron, GLEESON, Michael, GREENHAFF, Paul L. Bioquímica do exercício e
do treinamento. Traduzido por Elisabeth de Oliveira e Marcos Ikeda. São Paulo:
Manole, 2000.
4)DANGELO, José Geraldo, FATTINI, Carlo Américo.Anatomia Humana Sistêmica e
Segmentar. 2.ed.São Paulo: Atheneu, 2000.
5)FOSS, Merle L., KETEYIAN, Steven J. Bases fisiológicas do exercício e do
esporte. Traduzido por Giuseppe Taranto. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2000.
6)RASCH, Philip J.,Cinesiologia e anatomia aplicada.7.ed.Guanabara Koogan.
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