1- INTRODUÇÃO
A doença de Parkinson foi descrita pela primeira vez em 1817, pelo médico inglês
James Parkinson. É uma doença neurológica, que afeta os movimentos do individuo.
Causa tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, e
alterações na fala e na escrita. Não é uma doença fatal, nem contagiosa, não
afeta a memória ou a capacidade intelectual do parkinsoniano.
Quase duzentos anos depois, a sociedade ainda sabe muito pouco sobre a doença de
Parkinson. O que não é de causar espanto, pois até entre os parkinsonianos
existem aqueles que não sabem que são portadores da doença.
2- DOENÇA DE PARKINSON
2.1- Conceito
A Doença de Parkinson (DP), também conhecida por parkinsonismo primário ou
paralisia agitante, é uma afecção crônica, progressiva e idiopática do sistema
nervoso central, envolvendo os gânglios da base e resultando em perturbações no
tônus, posturas anormais e movimentos involuntários (O´SULLIVAN, 1998). De
acordo com Thomson, Skinner e Piercy (2000, p. 333), esta patologia “é uma
doença de progressão lenta, que produz enfraquecimento gradual do movimento
voluntário, rigidez muscular e possivelmente tremor.”
2.2- Etiologia
Apesar dos novos conhecimentos adquiridos nos últimos anos, a causa da Doença de
Parkinson permanece desconhecida. Provavelmente, existem múltiplos fatores que
se somam: fatores genéticos, ambientais e do envelhecimento.
Dentre os vários mecanismos possivelmente implicados na degeneração celular da
Doença de Parkinson, estudos destacam os seguintes: ação de neurotoxinas
ambientais, produção de radicais livres; anormalidades mitocrondiais,
predisposição genética e envelhecimento cerebral.
2.3- Aspectos Epidemiológicos
A prevalência da Doença de Parkinson aumenta de acordo com a idade. 74% das
pessoas com esta patologia têm mais de 70 anos de idade e a media de início é de
65,3 anos. No entanto, uma a cada sete parkinsonianos apresenta menos de
cinqüenta anos de idade.
Não existe diferença na prevalência que se relacione ao sexo, classe social ou
diferenças geográficas (STOKES, 2000).
2.4- Classificação
A Doença de Parkinson é classificada por O´Sullivan (1998) como:
a) Parkinsonismo idiopático: este grupo inclui a Doença de Parkinson verdadeira,
ou paralisia agitante, sendo a forma mais freqüente entre as pessoas de
meia-idade ou idosas;
b) Parkinsonismo pós-infeccioso (parkinsonismo pós-encefálico): este tipo de
parkinsonismo , segundo se teoriza, é causado por encefalite viral, sendo
atualmente pouco freqüente;
c) Parkinsonismo tóxico: sintomas parkinsonianos ocorrem em indivíduos expostos
a alguns venenos industriais, agentes químicos, e algumas drogas;
d) Parkinsonismo arteriosclerótico (parkinsonismo vascular): o envolvimento
arteriosclerótico e o infarto do tronco cerebral envolvendo a substância negra,
os tratos nigroestriais, ou gânglios de base, também podem gerar sintomas de
parkinsonismo;
e) Parkinsonismo atípico: este representa um grupo de várias patologias, onde é
muito comum haver uma síndrome parkinsoniana associada a outras anormalidades
neurológicas.
2.5- Fisiopatologia
Segundo Stokes (2000), os sinais e sintomas do parkinsonismo é conseqüência de
uma perturbação da função de duas regiões dos núcleos da base: a substância
negra e o corpo estriado (núcleo caudado e putâmem). Praticamente toda a
dopamina do cérebro humano está contida nessas massas nucleares centrais da
substância cinzenta. Esta substância química é uma das aminas neurotransmissoras
que transmitem impulsos de um neurônio para o próximo, através da sinapse.
Esta patologia consiste em uma diminuição das reservas de dopamina (principal
neurotransmissor da via nigrostrial) da substância negra com uma conseqüente
despigmentação desta estrutura e presença de corpos de Lewy.
Atualmente, teoriza-se que esta patologia é uma aceleração normal do processo de
envelhecimento. Uma vez que no processo normal há uma perda de cerca de 50% dos
neurônios da substância negra, por volta dos 60 anos, e os sintomas da patologia
começam a surgir quando ocorre a redução de 70% destes neurônios.
2.6- Quadro Clínico
O quadro clínico da Doença de Parkinson é constituído, principalmente, pela
tríade: tremor, rigidez e bradicinesia. Os sinais e sintomas da Doença de
Parkinson são de início insidioso e assimétrico, podendo qualquer um de suas
manifestações aparecer isoladamente ou em associação, podendo variar de paciente
para paciente.
Tremor: é um dos primeiros sintomas reconhecidos e, em geral, o que leva
o paciente a procurar o médico. Inicia-se unilateralmente, tornando-se bilateral
com a progressão da doença. Aparecendo com maior freqüência quando o paciente se
encontra em repouso ou sob estresse emocional, sendo geralmente diminuído
durante a atividade física e desaparecendo durante o sono. É caracterizado por
movimentos alternados de flexo-extensão dos dedos e polegar, sendo também comum
nos lábios, mento e língua (ROWLAND, 1997).
Rigidez Muscular: é um dos sinais mais importantes, e pode ser definida
como uma resistência aumentada ao movimento passivo, que afeta toda a
musculatura estriada. Na rigidez parkinsoniana, o exagero dos reflexos tônicos
de postura, determina o aparecimento do fenômeno da “roda denteada”. Esta
rigidez confere ao paciente uma postura característica: cabeça em ligeira
flexão, tronco ligeiramente flexão, flexão moderada da perna sobre a coxa e do
antebraço sobre o braço, com exagero da pinça digital das mãos. A deambulação é
realizada em blocos e pode ocorrer a perda da oscilação recíproca dos braços.
Este fenômeno pode está ausente no início da patologia (DOENÇA DE PARKINSON,
2003).
Bradicinesia: o parkinsoniano apresenta uma dificuldade de iniciar o
movimento, além da lentidão e pobreza na realização dos mesmos. Sendo observada,
especialmente, no início dos atos voluntários e repetidos.
Além destes, outros problemas podem vir associados, são estes: alterações
posturais, alterações na marcha (marcha festinada), perda dos reflexos de ajuste
postural, diminuição ou ausência dos movimentos automáticos ou inconscientes
(face em máscara), disfunção do sistema nervoso autônomo e alterações mentais
(BENNET; PLUM, 1997).
2.7- Complicações
Diversas complicações secundárias podem se associar ao quadro existente, até
mesmo porque a maior parte dos parkinsonianos são idosos.
Atrofia e fraqueza muscular secundárias ao desuso: quando não estimulado e
exercitar-se, o paciente permanece a maior parte do tempo sentado ou inativo.
Alterações nutricionais: os parkinsonianos costumam perder peso devido a
fatores como o aumento do gasto energético decorrente da movimentação patológica
intensa; redução do apetite devido a náuseas, vômitos, mal estar estomacal;
redução da sensibilidade do paladar e do olfato; dificuldade de mastigação e
deglutição conseqüentes da rigidez facial (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 1998).
Alterações respiratórias: provenientes da diminuição da expansibilidade
torácica pela rigidez dos intercostais e das posições deflexão e flexo-adução do
tronco e dos membros superiores respectivamente, além de uma discreta redução da
capacidade vital.
Alterações circulatórias: devido a imobilidade pode surgir,
principalmente, edemas de extremidades.
Osteoporose: em geral, conseqüente a inatividade, idade típica e dieta
deficiente.
Contraturas e deformidades: ocorrem com freqüência e de maneira típica
nos flexores, adutores e pronadores e rotadores externos, levando ao
encurtamento muscular e a deformidade de tecidos moles.
Úlceras de decúbito: nos casos avançados, a inatividade prolongada e o
repouso no leito podem levar ao desenvolvimento desta complicação.
2.8- Tratamento Clínico
Ainda não existe cura para a Doença de Parkinson, no entanto o tratamento
adequado pode melhorar os sintomas e diminuir a velocidade de progressão da
patologia. Podem ser utilizados diversos tipos de medicamentos, como:
anticolinérgicos, agonistas dopaminérgicos, levodopa, inibidores da
catecol-orto-metil-transferase, inibidores da monoaminoxidase, antivirais, entre
outros (ASSOCIAÇÃO BRASIL PARKINSON, 2003).
O objetivo deste tratamento é impedir a degeneração dos neurônios da substância
negra e intensificar a transmissão em sinpses dopaminérgicas.
A determinação do estagio e do grau de limitação funcional pela Doença de
Parkinson são úteis para o planejamento da terapia anti-parkinsoniana, o
acompanhamento da evolução da patologia e para avaliar a qualidade da resposta à
terapia instituída.
2.9- Tratamento Cirúrgico
A abordagem cirúrgica na Doença de Parkinson tem quase um século. Este tipo de
tratamento pode ser dividido em três categorias: técnicas lesionais, estimulação
cerebral.
Técnicas Lesionais: a talamotomia é uma técnica indicada para o tremor,
podendo reduzi-lo em até 80%, especialmente se este for predominante em um
dimídio corporal, também reduz parcialmente a rigidez; a palidotomia
estereotática do globo pálido interno é o procedimento cirúrgico de escolha no
tratamento de discinesias induzidas por levodopa, promovendo uma notável melhora
dos sintomas.
Estimulação Cerebral Profunda (ECP): neste técnica o eletrodo implantado
no núcleo subtalâmico ou no globo pálido interno, ao atenuar as discinesias
permite o aumento da dose de levodopa e melhora os sintomas parkinsonianos.
2.10- Tratamento Fisioterapêutico
É importante que, inicialmente, seja realizada uma criteriosa avaliação do
paciente, para que se determine o real nível de comprometimento, uma vez que,
por esta ser uma patologia degenerativa e progressiva,, o tratamento
fisioterapêutico adequado é de suma importância para minimizar e retardar a
evolução da patologia, proporcionando a este paciente uma maior qualidade de
vida e funcionabilidade.
Em relação aos objetivos fisioterapêuticos, de maneira geral, é importante
manter ou melhorar a amplitude de movimento em todas as articulações; retardar o
surgimento de contraturas e deformidades; retardar a atrofia por desuso e a
fraqueza muscular; promover e incrementar o funcionamento motor e a mobilidade;
incrementar o padrão da marcha; melhorar as condições respiratórias, a
expansibilidade pulmonar e a mobilidade torácica; manter ou aumentar a
independência funcional nas atividades de vida diária; melhorar a auto-estima (THOMSON;
SKINNER; PIERCY, 2000).
Na conduta fisioterapêutica devem ser utilizados:
>> Exercícios respiratórios: técnicas de reexpansão pulmonar e técnicas de
desobstrução brônquica, caso seja necessário (KISNER; ALLEN, 2000);
>> Exercícios de relaxamento: balanço suave com técnicas rítmicas que
enfatizem a estimulação vestibular lente, na produção de um relaxamento
generalizado da musculatura do corpo (O´SULLIVAN; SCHMITZ, 1998);
>> Exercícios para amplitude de movimento: devem ser realizados exercícios
ativos, ativo-assistidos ou passivos diversas vezes ao dia, pode-se dispor das
técnicas de inibição autógena, alongamento manual ou mecânico, evitando-se os
excessos para não promover dor (STOKES, 2000);
>> Exercícios de mobilidade: deve basear-se nos padrões de movimentos
funcionais que envolvam os diversos segmentos corporais, enfatizando-se os
movimentos extensores, abdutores e rotatórios;
>> Treinamento de marcha: este treinamento busca suplantar as seguintes
deficiências primarias: deambulação festinada e arrastada, mau alinhamento
postural e reflexos posturais anormais;
>> Exercícios em grupo: estas atividades devem ser realizadas com o intuito
de melhorar a auto-estima dos pacientes, a autoconfiança, coordenação,
disfunções motoras, equilíbrio e facilitar a realização do tratamento, podendo
realizar-se atividades com bola, danças, entre outras atividades lúdicas;
>> Hidroterapia: este recurso pode fazer parte de um programa reabilitador
pela facilidade que o paciente apresenta em realizar os exercícios terapêuticos
na água, assim como pelo efeito do ambiente aquático no tônus muscular, podem
ser utilizadas as técnicas de Bad Ragaz, Watsu e HalliWick.
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Doença de Parkinson por ser uma patologia progressiva e degenerativa
desenvolve nos pacientes e seus familiares um impacto emocional ao primeiro
informe sobre a existência desta enfermidade. Entretanto, costuma-se haver uma
boa adaptação dos pacientes a essa nova realidade de suas vidas. Atualmente,
existem inúmeros tratamentos que garantem aos pacientes uma longevidade
semelhante à que teriam e uma vida normal por longos anos.
É importante lembrar e compreender que, ainda, não existe cura para a doença.
Porém, esta patologia pode e deve ser tratada, não apenas combatendo os
sintomas, como também retardando o seu progresso. Assim sendo, a grande “arma”
da medicina hoje para combater o Parkinson consiste nos remédios e cirurgias,
além da fisioterapia, a terapia ocupacional e a fonoaudiologia, entre outros
profissionais, pois através da atuação de uma equipe multidisciplinar é possível
proporcionar ao paciente uma boa qualidade de vida, funcionabilidade e
auto-estima.
4- REFERÊNCIAS
Associação Brasil Parkinson. Disponível em: <http://www.parkinson.org.br>.
Acesso em: 18 out. 2003
Doença de Parkinson. Disponível em: <http://www.emedix.com.br/artigos/neu005_1i_parkinson.shtml>.
Acesso em: 20 out. 2003
BENNET, J.C.; PLUM, F. Cecil Tratado de Medicina Interna. 20.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1997.
KISNER, C.; COLBY, L.A. Fisioterapia Respiratória. In: ___. Exercícios
Terapêuticos: Fundamentos e Técnicas. 3.ed. São Paulo: Manole, 2000. p. 634-671.
O´SULLIVAN, S.B.; SCHMITZ, T.J. Doença de Parkinson. In: ___. Fisioterapia:
avaliação e tratamento. 2.ed. São Paulo: Manole, 1998. p. 549-564.
ROWLAND, L.P. Distúrbios de movimento: In:___. Merrit: tratado de neurologia.
9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. p. 563-576.
STOKES, M. Doença de Parkinson. In: ___. Cash: neurologia para fisioterapeutas.
São Paulo: Premier, 2000. p. 167-177.
THOMSON, A.; SKINNER, A.; PIERCY, J. Mal de Parkinson. In:___. Fisioterapia de
Tidy. 12.ed. São Paulo: Santos, 2000. p. 333-335.
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