Resumo
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo comparativo entre duas técnicas
de alongamento: estático e por facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP),
em relação a sua eficácia no desenvolvimento da flexibilidade em jogadores de
futsal. A amostra foi composta por 16 atletas de futsal, na faixa etária entre
18 e 37 anos, que foram assim divididos: o grupo A (n=7), realizou o alongamento
pela técnica estática, o grupo B (n=9), realizou o alongamento pela técnica de
FNP, e o grupo C (n=8), composto por não atletas, não realizou o tratamento. O
período experimental foi de 6 semanas, consistindo de 4 sessões semanais. Para
mensurar a amplitude articular de flexão do quadril, utilizou-se o goniômetro e
a caixa de sentar e alcançar de Wells. Na comparação das médias dos grupos A, B
e C, através da ANOVA, verificou-se não existir diferença significativa para um
p<0,05. Entre as médias pré e pós-teste obtidas pelo goniômetro, somente no
grupo B houve uma diferença estatística para um p<0,05. O mesmo não ocorreu
quando as médias foram registradas pela caixa de Wells nos três grupos
analisados. Conclui-se que obteve-se um resultado significativo no aumento da
flexibilidade do quadril nos atletas de futsal pela técnica FNP, em comparação
com o grupo que realizou o alongamento pela técnica estática, quando mensurados
pelo goniômetro.
Palavras-Chaves: flexibilidade; alongamento; futsal.
Introdução
O futsal é uma modalidade esportiva muito difundida em nosso meio cultural,
sendo um dos esportes coletivos que mais cresce em praticantes no mundo1.
Semelhante ao futebol de campo, o futsal envolve uma série de contatos diretos e
sobrecargas repetitivas nos músculos e articulações. Essas sobrecargas intensas
provocam desequilíbrios e encurtamentos musculares que podem prejudicar o
desenvolvimento dos atletas².
A flexibilidade é uma qualidade física também essencial à saúde geral das
pessoas atletas e não atletas, pois ajuda na prevenção de espasmos musculares,
má postura, lesões musculares, tensões neuromusculares generalizadas e
lombalgias3 4 5.
Entre os fundamentos básicos do treinamento desportivo aplicado ao futebol, a
flexibilidade é vista como uma qualidade física de extremo valor para as
necessidades esportivas dos atletas, mas que, não raramente, é relegada a um
segundo plano na prática diária desses treinamentos.
Os jogadores de futebol de campo têm a tendência ao encurtamento dos músculos
isquiotibiais (músculos semitendíneo, semimembranáceo e porção longa do bíceps
da coxa), pois os atletas realizam amplitudes de movimentos limitados nos
membros inferiores durante a sua prática desportiva6, semelhante ao que ocorre
com os atletas de futsal.
A flexibilidade é reconhecida como uma qualidade motora indispensável a qualquer
tipo de esporte. Os profissionais que atuam na área, como os professores de
educação física, técnicos desportivos, fisioterapeutas..., têm como objetivos
principais obter o melhor rendimento do atleta, prevenir lesões e desenvolver a
máxima amplitude de movimento envolvida nas habilidades motoras esportivas.
Para alguns autores78910, uma boa elasticidade muscular proporciona
ao atleta o aperfeiçoamento do gesto desportivo, eficiência mecânica (melhora da
performance e menor gasto energético), profilaxia de lesões, melhor agilidade,
velocidade e força, que são qualidades essenciais aos jogadores de futebol.
Os encurtamentos musculares, levam à disfunções estáticas e dinâmicas
interferindo na postura e na performance do dia a dia³. O estilo de vida
sedentário, tão presente nos dias atuais, não propicia movimentos amplos e
restringe a flexibilidade. Os músculos encurtados tendem a tornar-se cada vez
mais encurtados ao realizarem movimentos com amplitude limitada.
Em estudos de McHugh, Magnusson, Gleim & Nicholas (1993) apud¹¹, relataram que
jogadores de futebol de mais de 30 anos exibiriam perfis inferiores de
flexibilidade estática de tronco, quadril e membros inferiores, quando
comparados com jogadores mais jovens. Há com isso, uma tendência a considerar-se
que a prática do futebol tenda a reduzir a flexibilidade.
A demanda de força e potência nas habilidades atléticas e a fraca atenção dado à
flexibilidade, contribuem para o desequilíbrio biomecânico postural,
encurtamento muscular e para lesões músculo-tendíneas, que podem desencadear
prejuízos na qualidade da performance atlética ou até mesmo ocasionar o abandono
do atleta³.
Uma boa flexibilidade irá garantir ao atleta a execução de movimentos com
amplitudes articulares dentro das necessidades específicas de sua modalidade
esportiva, diminuindo a suscetibilidade de lesões em músculos e tendões,
permitindo assim, a obtenção de arcos articulares mais amplos, possibilitando a
execução de movimentos e gestos desportivos que de outra forma seriam limitados.
No futebol, mais especificamente no futsal, os atletas desempenham suas
atividades de forma que nem toda a amplitude articular é utilizada, ao
contrário, estes utilizam uma amplitude limitada de movimentos de abdução,
flexão e extensão, principalmente da articulação do quadril, o que pode levar ao
encurtamento adaptativo da unidade músculo-tendão, alteração dos padrões
biomecânicos normais, diminuir a eficiência na produção de força e aumentar as
chances de lesão¹².
No futsal, a postura do atleta em quadra, seja na condução da bola, trotes,
corridas e passes é de semi-flexão de quadril e joelhos. Esta semi-flexão pode
se fixar e repercutir na postura estática e dinâmica deste atleta, contribuindo
para alterações ascendentes na cadeia posterior, como hiperextensão da
articulação do joelho, achatamento da coluna lombar e inclinação posterior da
pelve decorrentes de encurtamentos¹³. Caso não se modifique esta configuração
biomecânica errônea da postura, através do treinamento da flexibilidade e do
fortalecimento muscular, estes desequilíbrios musculares trarão sérias
conseqüências à saúde do atleta.
Na prática esportiva, destaca-se um grande número de técnicas utilizadas para
manter ou ampliar a amplitude de movimento de uma articulação, e
conseqüentemente a flexibilidade. São os chamados exercícios de alongamento,
sendo os mais utilizados e conhecidos: o alongamento estático, o balístico e por
facilitação neuromuscular proprioceptiva.
O alongamento pode ser classificado em: alongamento estático, é a técnica que
utiliza da amplitude de movimento (ADM) sem ênfase na velocidade, sendo
caracterizada pela manutenção de uma determinada posição da articulação por um
período de tempo; alongamento balístico que corresponde à habilidade de se
utilizar a ADM na performance de uma atividade física em velocidade rápidas do
tipo “sacudidas” e facilitação neuromuscular proprioceptiva, técnica criada por
Kabat na década de 50 para auxiliar na terapia de pacientes paralisados, através
de mecanismos neurofisiológicos atuando sobre o fuso muscular, facilitando o
movimento pretendido e inibindo o grupo muscular antagonista ao movimento. Esta
técnica também é aplicada aos esportes, sendo mais reconhecida no meio
desportivo como 3S “Scientific Streching for Sport”7.
O alongamento balístico pode deixar o músculo alvo mais encurtado que seu
comprimento pré alongamento, deixando-o susceptível a lesões físicas, devido ao
dilaceramento microscópico de fibras musculares que formam cicatrizes, havendo
perda gradual da elasticidade muscular8. Logo, esta técnica de
alongamento não é apropriada para desenvolver a flexibilidade em atletas de
futsal.
Em razão da importância da flexibilidade nos treinamentos do futsal, este estudo
apresenta o seguinte problema:
Qual das técnicas de alongamento - estático ou por facilitação neuromuscular
proprioceptiva - é a mais eficiente para desenvolver a amplitude de flexão do
quadril em jogadores de futsal na categoria adulta?
Objetivo
O objetivo deste estudo foi analisar e comparar os índices de flexibilidade em
jogadores de futsal, quando submetidos às técnicas de alongamento estático e por
facilitação neuromuscular proprioceptiva no desenvolvimento da amplitude
articular de flexão do quadril.
Formulação de Hipóteses:
Em função do problema apresentado para este estudo experimental, envolvendo duas
técnicas de alongamento, as seguintes hipóteses foram testadas:
Hipótese 1: A técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva
apresenta índices superiores no desenvolvimento da amplitude de movimento de
flexão do quadril em atletas de futsal, quando comparada com a técnica de
alongamento Estático;
Hipótese 2: A técnica de alongamento Estática apresenta índices superiores
no desenvolvimento da amplitude de movimento de flexão do quadril em atletas de
futsal, quando comparada com a técnica de Facilitação Neuromuscular
Proprioceptiva.
Hipótese nula: As duas técnicas de alongamento não apresentam diferenças
estatística no desenvolvimento da amplitude de movimento de flexão do quadril em
atletas de futsal.
Materiais e métodos
A amostra utilizada na pesquisa foi de 16 atletas de futsal, do sexo masculino,
categoria adulta, com idades entre 18 e 37 anos que representaram a cidade de
Santa Maria (RS), em competições a nível local e estadual, e um grupo de 8
sujeitos não atletas, que constituíram o grupo controle.
Os atletas foram assim divididos: 7 atletas realizaram os alongamentos na forma
estática, ou seja, a articulação permanecia na posição alongada por 20 segundos
e os outros 9 atletas realizaram os alongamentos pela técnica FNP, modalidade
CRAC- contração-relaxamento antagonista-contração, que atua por promover a
inibição recíproca do músculo-alvo, em decorrência de mecanismos
neurofisiológicos, permitindo um alongamento mais profundo14.
O grupo controle foi orientado a não exercer qualquer tipo de atividade
esportiva e nenhum exercício para desenvolver a flexibilidade durante o período
do estudo.
Todos os sujeitos participantes deste estudo, concordaram com a participação
voluntária após serem informados dos procedimentos a serem realizados, tendo
para isso assinado um termo de consentimento informado. O período de experimento
foi de 6 semanas, sendo os alongamentos realizados durante os treinos sempre
antecedendo ao período de atividades com bola.
A articulação do quadril por ser a mais solicitada no futsal10, foi a
escolhida para se mensurar a flexibilidade do atleta através da goniometria, que
registra a amplitude do movimento em graus e pela caixa de sentar e alcançar de
Wells e Dillon (1952) que mensura o alcance do movimento de forma linear.
Tratamento estatístico dos dados
Após a coleta dos dados nos três grupos avaliados, os mesmos foram submetidos ao
Teste de Normalidade de Shapiro Wilk. Todos os dados obtiveram índices de
normalidade e foram submetidos a procedimentos estatísticos descritivos para
verificar se o objetivo e a hipótese foram atingidos. Os valores obtidos pré e
pós a aplicação das técnicas de alongamento intra-grupo, mensurados através de
dois métodos de medição de flexibilidade, foram comparados através do teste “t”
de Student, para amostras dependentes com nível de significância de 5%. A
comparação das médias inter-grupos realizou-se através da análise de variância (ANOVA).
Resultados e discussões
A partir do tratamento estatístico estabelecido foram efetuados os cálculos das
médias e desvios padrões das variáveis idade, massa corporal e estatura dos
atletas de futsal e do grupo controle. Os dados da Tabela 1, servem somente para
caracterizar os grupos estudados.
Tabela 1. Médias e desvios padrões das variáveis idade, massa corporal e
estatura dos sujeitos analisados do grupo A, grupo B e do grupo C.
GRUPOS |
VARIÁVEIS |
MASSA CORPORAL
(kg) |
ESTATURA
(m) |
IDADE
(ANOS) |
A (n=7) |
MÉDIA |
72,6 |
1,70 |
22,7 |
DES. PADRÃO |
7,39 |
0,08 |
3,64 |
B (n=9) |
MÉDIA |
76,8 |
1,80 |
23,8 |
DES. PADRÃO |
9,44 |
0,06 |
5,49 |
C (n=8) |
MÉDIA |
72,11 |
1,80 |
22,38 |
DES. PADRÃO |
8,77 |
0,06 |
3,34 |
|
|
|
|
|
Estes resultados apresentados servem apenas para caracterizar a amostra
estudada, sendo que a flexibilidade pode sofrer influências de alguns fatores
como a idade que, segundo Zakharov apud15, apresenta seu nível máximo
entre 14 e 17 anos. Já para Hollman & Hettinger apud15, a
flexibilidade é a única capacidade física que alcança seu desenvolvimento máximo
no limite entre a idade infantil e juvenil, declinando em seguida.
As médias de idade, peso e estatura aqui relatadas não interferiram na avaliação
da flexibilidade dos grupos analisados, pois os sujeitos são adultos não
apresentando qualquer deformidade óssea ou estrutural que comprometa o
desempenho destes nos testes.
Na Tabela 2 e Figura 6, têm-se os resultados das médias, desvio padrão e
coeficiente de variação dos dados coletados através do Goniômetro, obtidos no
pré-teste e no pós-teste do grupo A (Estático).
Tabela 2. Valores da amplitude de flexão do quadril, obtidos pelo goniômetro nos
sujeitos do grupo A (Estático).
SUJEITOS |
AMPLITUDE
(graus) |
PRÉ-TESTE |
PÓS-TESTE |
Sujeito 1 |
78 |
80 |
Sujeito 2 |
75 |
75 |
Sujeito 3 |
76 |
70 |
Sujeito 4 |
62 |
75 |
Sujeito 5 |
80 |
90 |
Sujeito 6 |
72 |
75 |
Sujeito 7 |
72 |
65 |
Média |
73,57 |
75,71 |
Desvio Padrão |
5,88 |
7,87 |
Coeficiente de variação (%) |
8,0 |
10,4 |
|
Figura 6: Valores da amplitude de
flexão do quadril, obtidos pelo goniômetro nos sujeitos do grupo A. |
Na Tabela 2 e Figura 6, observamos que o valor da média no pré-teste foi de
73,57º e este subiu para 75,71º no pós-teste nos sujeitos que praticaram o
treinamento do alongamento da forma estática. Para melhor observar o aumento
médio da variável, calculou-se as diferenças nas médias entre o pré e o pós
teste, que foi de 2,14º, o que representou um aumento médio de 2,9%. Através do
teste ‘t”, observou-se que não houve diferença significativa para um p<0,05. A
fim de padronizar o teste para verificar a amplitude de flexão do quadril, os
autores¹³ recomendam que a região lombar esteja firmemente plana sobre uma
superfície rígida para registrar a amplitude articular da flexão que, segundo os
autores, é em torno de 70º com uma rotação pélvica de 10º associado, perfazendo
80º de flexão na qual os autores consideram normal. Para16 17 a
amplitude de flexão do quadril com o joelho fletido é em torno de 120º e com o
joelho em extensão, essa amplitude fica em torno dos 90º. A partir desses
valores considera-se o fato de que os atletas em sua maioria, não obtiveram uma
amplitude de movimento ativo do quadril próximo do considerado normal pelos
autores acima mencionados, possivelmente porque os atletas não estavam bem
condicionados na prática do alongamento e pela natureza do futsal, que é um
esporte com mais ênfase na performance da força e velocidade. Além desses
fatores, menciona-se o fato de que o registro do movimento foi realizado sempre
sem um prévio aquecimento.
Na Tabela 3 e Figura 7, apresenta-se os dados do grupo A, obtidos pela caixa de
sentar e alcançar de Wells que avalia a flexibilidade de forma linear.
Tabela 3. Índices lineares da flexibilidade, obtidos pela caixa de sentar e
alcançar de Wells, nos sujeitos do grupo A.
SUJEITOS |
ÍNDICES
LINEARES (cm) |
PRÉ-TESTE |
PÓS-TESTE |
Sujeito 1 |
27 |
27 |
Sujeito 2 |
37 |
37 |
Sujeito 3 |
24 |
26 |
Sujeito 4 |
18 |
18 |
Sujeito 5 |
40 |
42 |
Sujeito 6 |
33 |
30 |
Sujeito 7 |
19 |
16 |
Média |
28,29 |
28 |
Desvio Padrão |
8,64 |
9,40 |
Coeficiente de variação (%) |
30,53 |
33,57 |
Observando-se a Tabela 3 e Figura 7, constata-se que as médias no pré-teste
(28,29 cm) e pós-teste (28cm), não apresentaram alterações significativas para
um p<0,05 pois foram praticamente semelhantes. No pós-teste, o desvio padrão foi
maior (9,40cm) que no pré-teste (8,64cm).
Observando-se os índices obtidos pelos atletas do grupo A, verifica-se que estes
permaneceram praticamente sem alterações mantendo os índices alcançados no
primeiro dia da avaliação. Mesmo utilizando uma técnica de alongamento para
desenvolver a flexibilidade os atletas apenas mantiveram a sua mobilidade,
possivelmente por que o futsal é uma modalidade esportiva na qual a amplitude de
movimento do quadril é mais solicitada, conseqüentemente apresenta movimentos de
forma mais limitada devido a especificidade do esporte.
Estudos apontam para a especificidade da flexibilidade de acordo com a atividade
desportiva desempenhada pelos atletas. Jogadores de beisebol e participantes de
atletismo são acima da média em flexibilidade em algumas partes do corpo como o
quadril, enquanto que jogadores de basquete e futebol mostram pouca
flexibilidade nesta articulação6.
Esportes que requerem movimentos de alta velocidade e rápida aceleração como o
futsal, provocam distensões nos isquiotibiais e estas lesões estão associadas a
fadiga muscular, aquecimento insuficiente, lesão prévia, pouca flexibilidade,
além de desequilíbrio de força muscular entre as porções lateral e medial dos
isquiotibiais18.
Conforme diz Manno apud12, o déficit da valência flexibilidade é
fator limitante na velocidade máxima de realização do movimento e da
aprendizagem das técnicas desportivas, o que aumenta o gasto energético
facilitando a fadiga e lesões musculares. Logo, níveis reduzidos de
flexibilidade prejudicam a performance atlética e aumentam as chances de lesão
3 9 19.
|
Figura 7: Índices
lineares da flexibilidade, obtidos pela caixa de sentar e alcançar de
Wells, nos sujeitos do grupo A (Estático). |
Comparando-se os valores das médias obtidas entre o goniômetro e Wells, após o
tratamento realizado pelo alongamento Estático, observamos que não houve
diferenças para um p<0,05 para os dois métodos, apesar de o alongamento estático
mensurado pelo goniômetro apresentar um aumento médio em torno de 2% a mais do
que a avaliação pela caixa de Wells.
Na Figura 8 e Tabela 4, verificamos os efeitos do alongamento pela técnica de
facilitação neuromuscular proprioceptiva, realizado no grupo B com um “n” de 9
atletas, onde utilizou-se inicialmente para a mensuração um goniômetro.
|
Figura 8: Valores da
amplitude de flexão do quadril, obtidos pelo goniômetro nos sujeitos do
grupo B (FNP). |
Tabela 4. Valores da amplitude de flexão do quadril, obtidos pelo goniômetro nos
sujeitos do grupo B (FNP).
SUJEITOS |
AMPLITUDE
(graus) |
PRÉ-TESTE |
PÓS-TESTE |
Sujeito 1 |
78 |
72 |
Sujeito 2 |
75 |
80 |
Sujeito 3 |
78 |
85 |
Sujeito 4 |
75 |
80 |
Sujeito 5 |
62 |
90 |
Sujeito 6 |
65 |
80 |
Sujeito 7 |
76 |
80 |
Sujeito 8 |
62 |
80 |
Sujeito 9 |
75 |
88 |
Média |
71,78 |
81,67 |
Desvio Padrão |
6,74 |
5,34 |
Coeficiente de variação (%) |
9,39 |
6,54 |
Na Tabela 4 e Figura 8, a média pré-teste foi de 71,78º com um desvio padrão de
6,74º, e para o pós-teste a média ficou em 81,67º com um desvio padrão de 5,34º.
O aumento entre as médias foi de 13,78% entre o pré e o pós-teste. O teste “t”
mostrou um aumento significativo para um p<0,05, quando utilizou-se o goniômetro
para a mensuração da amplitude articular do quadril.
Os atletas desse grupo tiveram um bom rendimento com a técnica de alongamento
por FNP obtendo valores mais expressivos de amplitude de movimento do quadril,
portanto um maior alcance de flexão e maior flexibilidade dessa região.
A técnica de FNP é considerada um técnica de alongamento que obtém arcos de
amplitude articular e flexibilidade de forma mais rápida, principalmente em
pessoas com alto nível de controle neuromuscular20.
A técnica de FNP baseia-se nas diversas combinações de mecanismos fisiológicos
do controle neuromuscular. Essas combinações incluem a ativação dos impulsos do
OTG através de uma contração isométrica do músculo agonista do movimento,
inibindo sua ativação, deflagrando o reflexo de alongamento inverso o qual
relaxa o músculo alvo.
O CRAC (Contração-Relaxamento, Antagonista-Contração) é um padrão de FNP
habitualmente empregado para aumentar a flexibilidade. Seu mecanismo de ação é
sobre a inibição recíproca e no reflexo de alongamento inverso. Por exemplo,
para obter uma maior amplitude de flexão do membro inferior, deve-se pedir ao
sujeito (atleta), que eleve ativamente o membro inferior até seu limite máximo
indolor de amplitude com o joelho em extensão, e após pedir para que exerça uma
contração isométrica máxima da musculatura agonista (extensores do quadril),
contra a resistência oferecida por um companheiro e manter por 6 segundos, em
seguida o sujeito contrai ativamente os músculos antagonistas (flexores do
quadril) para uma nova posição e repete-se este procedimento por 3 vezes14.
Na Tabela 5 e Figura 9, apresentam-se os dados coletados com o mesmo grupo de
atletas, sendo a mensuração da flexibilidade, realizada pela caixa de sentar e
alcançar de Wells.
Tabela 5. Índices lineares da flexibilidade, obtidos pela caixa de sentar e
alcançar de Wells, nos sujeitos do grupo B.
SUJEITOS |
ÍNDICES
LINEARES (cm) |
PRÉ-TESTE |
PÓS-TESTE |
Sujeito 1 |
25 |
28 |
Sujeito 2 |
19 |
24 |
Sujeito 3 |
25 |
32 |
Sujeito 4 |
22 |
28 |
Sujeito 5 |
25 |
24 |
Sujeito 6 |
33 |
29 |
Sujeito 7 |
34 |
37 |
Sujeito 8 |
18 |
20 |
Sujeito 9 |
29 |
30 |
Média |
25,56 |
28 |
Desvio Padrão |
5,61 |
4,97 |
Coeficiente de variação (%) |
21,97 |
17,77 |
Na Tabela 5 e Figura 9, constata-se que pela caixa de sentar e alcançar de Wells
a média pré-teste passou de 25,56 cm com um desvio padrão de 5,61 cm, para uma
média de 28 cm no pós-teste com um desvio padrão de 4,97 cm, ou seja, um aumento
médio de 9,55%, mesmo assim não houve diferença significativa para um p<0,05.
Logo, observamos que a mensuração realizada com o goniômetro sobre a amplitude
articular do quadril mostrou diferença significativa para um p< 0,05, já a
avaliação pela caixa de sentar e alcançar de Wells não apresentou essa
diferença. Isto ocorreu possivelmente porque a flexibilidade é específica de
cada articulação6 7 20 21, sendo que o teste de Wells procura
conhecer, de maneira geral, a flexibilidade na região da coluna vertebral e dos
isquiotibiais, já o goniômetro universal registra a amplitude de movimento de
uma dada articulação.
|
Figura 9: Índices
lineares da flexibilidade, obtidos pela caixa de sentar e alcançar de
Wells, nos sujeitos do grupo B. |
Através da revisão da literatura, observa-se vários estudos que citam a caixa de
sentar e alcançar de Wells para a mensuração da flexibilidade em diversos
sujeitos, atletas e não atletas, por ser uma maneira prática e rápida de
averiguar a qualidade física da flexibilidade3 9 10 22, entretanto
essa forma de mensuração é muito criticada por23, que sustenta a
posição de que a medida linear no teste de sentar e alcançar, é no mínimo
“grosseira e insatisfatória, visando a comparação de indivíduos”.
O grupo controle, grupo C, selecionado para este estudo, não realizou nenhuma
atividade para desenvolver a sua flexibilidade. Através da Tabela 6 e Figura 10,
verifica-se os dados coletados por meio do goniômetro, na amplitude de flexão do
quadril de um grupo de sujeitos sedentários com características semelhantes aos
grupos analisados.
Tabela 6. Valores da amplitude de flexão do quadril do grupo controle mensurado
pelo goniômetro.
SUJEITOS |
AMPLITUDE
(graus) |
PRÉ-TESTE |
PÓS-TESTE |
Sujeito 1 |
78 |
79 |
Sujeito 2 |
75 |
85 |
Sujeito 3 |
75 |
79 |
Sujeito 4 |
75 |
72 |
Sujeito 5 |
72 |
70 |
Sujeito 6 |
70 |
80 |
Sujeito 7 |
76 |
70 |
Sujeito 8 |
75 |
85 |
Média |
74,5 |
77,50 |
Desvio Padrão |
2,45 |
6,16 |
Coeficiente de variação (%) |
3,29 |
7,95 |
Observando-se a Tabela 6 e Figura 10, nota-se que a média obtida no pré-teste
foi de 74,5º com um desvio padrão de 2,45º. No pós-teste a média foi de 77,50º
com um desvio padrão de 6,16º. O aumento médio do pré-teste para o pós-teste foi
de apenas 4,02%. Não houve diferença estatística significativa entre as médias
pré e pós-teste para um p<0,05.
|
Figura 10: Valores
da amplitude de flexão do quadril do grupo controle mensurado pelo
goniômetro. |
Na Figura 11 e Tabela 7, observa-se os resultados obtidos nos sujeitos do grupo
controle sobre os índices de flexibilidade, quando mensurado pela caixa de Wells.
|
Figura 11: Índices
lineares da flexibilidade, obtidos pela caixa de sentar e alcançar de
Wells, nos sujeitos do grupo C. |
Tabela 7. Índices lineares da flexibilidade, obtidos pela caixa de sentar e
alcançar de Wells, nos sujeitos do grupo C.
SUJEITOS |
ÍNDICES
LINEARES (cm) |
PRÉ-TESTE |
PÓS-TESTE |
Sujeito 1 |
29 |
31 |
Sujeito 2 |
27 |
32 |
Sujeito 3 |
34 |
34 |
Sujeito 4 |
29 |
29 |
Sujeito 5 |
34 |
32 |
Sujeito 6 |
19 |
20 |
Sujeito 7 |
23 |
19 |
Sujeito 8 |
22 |
20 |
Média |
27,13 |
27,13 |
Desvio Padrão |
5,49 |
6,33 |
Coeficiente de variação (%) |
20,23 |
23,35 |
Na Tabela 7 e Figura 11, verifica-se os resultados das médias pré e pós-teste,
que foram idênticas, alcançando um índice de 27,13 cm obtido pela caixa de Wells.
Este dado demonstra que durante o período do estudo os sujeitos do grupo
controle, sedentários em sua maioria, não pioraram e não melhoraram seus índices
de flexibilidade, quando mensurados pela caixa de Wells.
Para analisar os dados coletados inter-grupos foi realizada a análise de
variância (ANOVA) entre os grupos A, B e C. Foram analisados os valores das
médias obtidas pela goniometria e caixa de Wells, no pré-teste dos grupos A, B e
C, que demonstrou não haver diferença estatisticamente significativa para um p<0,05.
O mesmo procedimento foi efetuado para analisar os valores das médias no
pós-teste dos grupos A, B e C, que também não demonstraram resultados
estatisticamente significativos para um p<0,05.
Considerações Finais
O presente estudo conseguiu resgatar a importância da flexibilidade no meio
desportivo, beneficiando a performance esportiva e a qualidade de movimento do
atleta. O estudo demonstrou que os índices médios da amplitude articular do
quadril nos atletas de futsal melhoraram pelas duas técnicas de alongamento,
sendo a técnica por FNP estatisticamente superior ao alongamento estático,
quando mensurado pelo goniômetro. Essa conclusão vai ao encontro de outras
pesquisas envolvendo a flexibilidade3 22, Holt e Smith apud24
Osterning apud24, que referem a técnica por FNP superior a outras
técnicas de alongamento, no desenvolvimento da flexibilidade. Recomenda-se,
portanto, uma maior divulgação desta técnica entre os atletas de futsal e
preparadores físicos. físicos a fim de contribuir para a melhora da
flexibilidade e a prevenção de lesões, envolvendo principalmente os músculos
isquiotibiais que são rotineiramente submetidos a determinadas lesões, como
distensões e contraturas, características desse esporte.
Os atletas da equipe relataram maior facilidade para desempenhar a máxima
amplitude de flexão do quadril após o uso da técnica de alongamento por FNP e
também descreveram que seus músculos ficaram mais “soltos e flexíveis”.
A técnica FNP é realizada em dupla, por isso despende um maior tempo que a
técnica de alongamento Estático, e talvez por este motivo, muitos treinadores de
futsal não utilizam essa técnica. Porém, neste estudo, a técnica por FNP
apresentou uma melhora nos índices de amplitude articular do quadril,
consequentemente melhora da flexibilidade dos atletas, sendo válido dedicar um
maior tempo de alongamento em benefício do próprio atleta.
Sugere-se que sejam realizados mais estudos que comparem as técnicas de
alongamento em diversas modalidades esportivas e que se utilize atletas do sexo
feminino em diferentes faixas etárias para confirmar os resultados aqui
encontrados. Também recomenda-se mais pesquisas no sentido de comparar e
correlacionar as diferentes técnicas de mensurar os índices de flexibilidade em
diversas articulações do corpo humano.
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Study of the static and Proprioceptive Neuromuscle
Facilitation streching techniques in the development of the flexibility in
indoor soccer players.
Abstract
The purpose of this work was develop a comparetive study between two streching
techniques: static or for Proprioceptive Neuromuscular Facilitation PNF-
relative at its efficient on the development of indoor football players
flexibility. The sample was composed of 16 indoor football athletes that were
separate as it follow: The Group A composed of 7 athletes performed stretching
using static technique, the Group B composed of 9 athletes performed the
stretching using PNF technique and a third group composed by 8 non-athletes
named Group C, not performed the treatment. The period of experience was of 6
weeks with 4 sessions weekly. To measure the range of motion of hip flexion was
used the Goniometry and the sit-and-reach test. In the comparison of averages of
groups A, B e C through the ANOVA, we found there is no significant difference
for a p< 0,05. Between averages pre and post-test, obtained by Goniometry, only
at the Group B there was a statistic difference for a p<0,05. The same not
happened when the averages was registered by the sit-and-reach test at the three
groups analyzed. A significant increase of hip flexibility on indoor football
athletes using PNF technique was observed in comparison with the group which
performed stretching by static technique when measured by Goniometry.
Keywords: flexibility, streching, indoor football.
- Artigo elaborado a partir da monografia de especialização, defendida em
28 de fevereiro de 2002, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência do
Movimento Humano, Subárea Biomecânica, do Centro de educação Física e Desportos
(CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – RS.
-
Anderson Vesz Cattelan -
Aluno do Programa de Pós-Graduação em
Ciência do Movimento Humano, Subárea Biomecânica, do Centro de Educação Física e
Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – RS.
-
Carlos Bolli Mota -
Prof. Adj.. Dr. do Centro de Educação
Física e Desportos da UFSM.
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