Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

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Trabalho realizado por:
- Flávia Pimentel de Alvarenga Nassif (*)

Contato:
pimentelalvarenga@hotmail.com

(*) Fisioterapeuta - Pós-Graduada em Fisioterapia Neurofuncional (ESEHA/RJ);
Pós-Graduanda em Fisioterapia aplicada em Ortopedia e Traumatologia - UNICAMP/SP.


Avaliação e programa fisioterapêuticos na lesão traumática
do plexo braquial: Relato de caso.

Evaluation and physiotherapic program on brachial
plexus traumatic injuries: Report of a case.

 

RESUMO

O plexo braquial é responsável pela inervação sensitiva e motora do membro superior. As lesões do plexo braquial são decorrentes de acidentes, parto e síndromes compressivas. No entanto, a grande maioria das paralisias é de origem traumática e envolve a quase totalidade das raízes. Descrevo o caso de um paciente do sexo masculino, 36 anos, vítima de atropelamento, apresentando lesão de plexo braquial do tipo avulsão das raízes dos troncos superior (C5 e C6) e médio (C7); submetido à reparação cirúrgica. Observando que após cinco meses de tratamento fisioterapêutico, o mesmo obteve alguma melhora na organização corporal, movimentação ativa nas articulações do punho e cotovelo, recuperação parcial da sensibilidade e diminuição do quadro álgico.

Palavras-chave: Plexo braquial; lesão do nervo; reabilitação.


ABSTRACT

The plexus brachial its responsible for sensitive enervation and motor of the superior member. The brachial plexus’ injuries are current of accidents, childbirth and compressive syndrome. However, the greater number of paralysis its traumatic origin and involves almost totality of  bases. Describing  case of patient male sex, thirty-six years old, victim of
trample, introducing Brachial Plexus injuries of sort avulsion of root base (superior C5 e C6) and medium ( C7 ); subjected the surgery reparation. Observing after five months of some improvement in corporeal scheme’s organization, active movimentation in wrist and elbow articulation, sensibility partial recuperation and diminution of pain symptom.

Key words: Brachial plexus; nerve injuries; rehabilitation.



INTRODUÇÃO

Os primeiros relatos sobre lesão do plexo braquial por mecanismo de tração de origem obstétrica surgiram em 1764, por Smelie. Somente em 1872, Duchene de Boulogne descreveu quatro crianças com paralisia alta do plexo braquial resultante do esforço na liberação dos ombros durante o parto. Já em 1874, Erb se referiu à paralisia alta do plexo braquial em adultos, porém com as mesmas características da descrição de Duchene. Augusta Klumpke, em 1885, explicou o sinal de Horner na lesão do plexo braquial por avulsão das raízes C8-T1 com envolvimento do sistema nervoso simpático cervical homolateral. Esta se uniu a Dejerine dando origem à denominação nas paralisias baixas do plexo braquial (paralisia de Dejerine-Klumpke), da mesma forma que Erb-Duchene nas paralisias altas. 1,5

Atualmente, a maioria das lesões de plexo braquial é traumática não obstétrica, causada principalmente por acidentes de trânsito. Este fator tem grande importância sócio-econômica _ obtém grave repercussão na vida familiar, profissional e na qualidade de vida do indivíduo _ em razão da faixa etária acometida. 1,2

Os nervos periféricos são constituídos por grupos de axônios e seus envoltórios de tecido conjuntivo. Transportam a informação entre os efetores ou os receptores situados na periferia e o corpo celular, situado na medula no caso dos nervos motores e no gânglio espinhal no caso dos nervos sensitivos. Salvo em casos particulares, as lesões nervosas periféricas não acarretam a morte do corpo celular e em teoria a regeneração é possível. Esta regeneração potencial do nervo se baseia nos princípios da reabilitação. 2,3
Existe uma discordância entre os trabalhos experimentais e a prática clínica. Muitos dos dados obtidos em estudos não apresentam ainda uma aplicação clínica. Mas, todos os protocolos de reabilitação devem basear-se no conhecimento da fisiologia dos nervos periféricos. 3
Os objetivos desse estudo foram: 1) estudar o caso de uma lesão de plexo braquial traumática nos níveis C5, C6 e C7; 2) oferecer ao Fisioterapeuta as informações necessárias para uma avaliação de plexo braquial; 3) e proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente.


RELATO DE CASO

Paciente sexo masculino, 36 anos, carpinteiro, dominância à direita, vítima de atropelamento em Junho/2003, apresentando lesão de plexo braquial à direita do tipo avulsão de C5, C6 e C7 sem lesões associadas. Foi submetido a procedimentos cirúrgicos no hospital Souza Aguiar em fevereiro/2004, onde realizou neurotização de nervo cubital para nervo músculo-cutâneo e de nervo acessório para nervo supra-escapular. Em Julho/2004 procurou atendimento fisioterapêutico, apresentando quadro álgico em região cervical e paralisia de membro superior direito, passando por uma avaliação. (Fig. 1)



Fig. 1



AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

* Inspeção da pele: hipotrofia de membro superior direito e alterações tróficas (pele ressecada);
* Sinais especiais: Sinal de Horner: negativo
                            Sinal da dançarina balinesa: positivo (Fig.2)
                            Sinal da escápula alada: positivo (Fig.3)



(Fig.2)



(Fig.3)



* Sensibilidade:

- Zona autônoma: nervo mediano – hipoestesia (+++/++++)
nervo ulnar – hipoestesia (+/++++)
- Dolorosa: região tenar – positivo
região hipotenar – hipoestesia
- Teste de Tinel: positivo (supra e infraclaviculares);
- Estereognosia: normal;
-Térmica: anestesia do dedo polegar, hipoestesia do indicador e região lateral do antebraço;
- Discriminativa (Prova de Weber): normal para nervos mediano e ulnar;

* Avaliação Motora:

- Amplitude de movimento: com limitação para flexão de ombro (40º), supinação (70º), flexão de punho (60º) e extensão de punho (40º);
- Força muscular:
elevação de ombro – grau 4
abdução de ombro – grau 0
adução de ombro – grau 0
rotação externa – grau 1
rotação interna – grau 1
flexão anterior de ombro – grau 0
extensão de ombro – grau 0
flexão de cotovelo – grau 2
extensão de cotovelo – grau 0
pronação – grau 4
supinação – grau 0
extensão de punho – grau 0
flexão de punho – grau 4

* Avaliação Motora da Mão:

- musculatura intrínseca
eminência hipotenar (abdução e flexão do 5º dedo preservadas);
eminência tenar (adução do polegar preservada e incapacidade para abduzir o polegar);
- interósseos: Prova de Egawa preservada;
* Reflexos: arreflexia biciptal (C5 e C6), estilorradial (C6) e triciptal (C7);
* Avaliação Global: assimetria de ombros (ombro direito elevado), hipotrofia da região periescapular (escápula direita alada), aumento da cifose dorsal; cabeça protusa e rodada para a esquerda e, subluxação da cabeça umeral à direita (Sinal de Dragona positivo). (Fig.4)



(Fig.4)


Com base nos dados provenientes da avaliação realizada,3,5,6 um plano fisioterapêutico foi conduzido em ambiente ambulatorial, duas vezes por semana durante uma hora, explorando-se vários decúbitos para a realização destes exercícios, visando:1) diminuir as aderências do tecido cicatricial; 2) diminuir o quadro álgico da região cervical, através de manobras manuais de mobilização tecidual e posicionamentos; 3) manter o amplitude normal de movimentos articulares, evitando retrações cápsulo-ligamentosas das articulações comprometidas,por meio de mobilizações articulares, exercícios passivos e assistidos ; 4) manter a musculatura antagonista através de exercícios de alongamento (respeitando o limite da dor); 5) aumentar a sensibilidade proprioceptiva 7, estimular os reflexos de flexão através de manobras de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (Método Kabat) 8, exercícios de dissociação de cinturas em cadeia fechada utilizando a bola Suíça 9 e técnicas de dessensibilização; 6) melhorar a organização do esquema corporal através de exercícios associados ao trabalho respiratório, buscando o aumento da expansibilidade torácica.10


DISCUSSÃO

As lesões do plexo braquial podem ter diversas etiologias, tais como colisões de motocicleta, bicicleta, automóveis, atropelamentos, quedas de altura, quedas de objetos sobre o ombro, acidentes industriais, projéteis de arma de fogo, arma branca, tocotraumatismo e síndrome do desfiladeiro torácico. 1

Segundo a classificação de Seddon (proposta em 1943), o paciente em questão é portador do terceiro nível de lesão, denominada neurotmese, que implica a perda da continuidade total ou parcial de um nervo periférico, a qual não é possível a regeneração espontânea. Já Sunderland propôs uma classificação mais precisa subdividindo a neurotmese em três tipos. O tipo 3 de Sunderland corresponde a uma perda da continuidade do axônio e dos tecidos endoneurais, mas o perineuro está intacto. Esta lesão é observada nas compressões importantes e nos traumatismos por alongamento. O tipo 4 soma-se ao tipo 3 a uma perda da continuidade do perineuro (e portanto, da barreira hematoencefálica que representa) com conservação do epineuro, enquanto que o tipo 5 consiste em uma ruptura do epineuro como a que se observa nas lesões por secção. A principal limitação destas classificações é sua falta de aparato prognóstico, já que a gravidade da lesão só costuma ser conhecida posteriormente. 3,5,6

Nas avulsões radiculares do plexo braquial e nos traumatismos por alongamento, há possibilidade de reinervar a parte distal do plexo realizando anastomoses (neurotizações) com nervos vizinhos. Estas anastomoses são apenas paliativas e não devemos esperar resultados funcionais completos. Têm apenas a finalidade de evitar amputações, as dores crônicas e também para conservar o trofismo do membro pela recuperação parcial da sensibilidade. 1,4

A maioria dos autores afirma que os resultados deste tipo de cirurgia ainda não são satisfatórios sob o ponto de vista da motricidade e da sensibilidade, sendo esta última, ainda mais difícil. 1,3

Nota-se que, o resultado das neurotizações é muito variável, em alguns casos há diminuição das dores, em outros não há nenhuma influência nos sintomas dolorosos e, grande parte dos pacientes operados não se encontra membro fantasma. 3,4,10



CONCLUSÃO

O tratamento reabilitador de um paciente com uma lesão do plexo braquial é um trabalho em longo prazo e complexo. É necessário repetir periodicamente as avaliações do diagnóstico fisioterapêutico (funcional) já que se trata de um processo evolutivo. Deve ser ensinado ao paciente a se proteger e a potencializar ao máximo suas capacidades, uma vez que as seqüelas são freqüentes e requerem, às vezes, a aprendizagem de compensações.

Apesar da gravidade da lesão, foi adquirida uma diminuição do quadro álgico na região cervical e um grau de funcionalidade que o permitiu o uso assistido da mão nas suas atividades da vida diária, ou seja, consegue escovar os dentes, pentear o cabelo e alimentar-se com o membro acometido. Este, porém, retornará a microcirurgia para uma segunda intervenção cirúrgica objetivando a melhora da função da mão.

Ressalta-se ainda, a importância de uma equipe multidisciplinar e, principalmente, interdisciplinar ao se tratar de plexopatia braquial, pois a abordagem fisioterapêutica se baseia no diagnóstico, no nível da lesão, no procedimento cirúrgico e no exame físico do paciente.



REFERÊNCIAS

1. BIJOS, P. e col. Aspectos clínicos e epidemiológicos das lesões do plexo braquial.
Revista do Instituto Nacional de Tráumato-Ortopedia, Rio de Janeiro, V. II, p.11-21, n.1, 2004.

2. LIANZA, S. e col. Medicina de reabilitação. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan; 2001.p.331-332.

3. DUMONTIER, C. e col. Prise en charge et rééducation des lésions nerveuses
périphérques.
Encycl Méd Chir, 26 - 465 - A - 10, 2002, 16p.

4. RODRIGUES, F. Estudo sobre a dor após lesão traumática do plexo braquial e seu tratamento. Revista Brasileira de Neurologia, Rio de Janeiro, 21 (3): 77-100,1985.

5. FERREIRA, A. Lesões Nervosas Periféricas: Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Ed. Santos, 2001.

6. LECH, O. e col. Membro superior: Abordagem fisioterapêutica das patologias
ortopédicas mais comuns.
Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2005.

7. SOUZA, A.de. Propriocepção. Rio de janeiro: Ed.Medsi; 2004.p.95-99.

8. ADLER; BECKERS & BUCK. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva: Método Kabat. São Paulo: Ed. Manole; 1999.p.51-101.

9. CARRIÉRE, B. Bola Suíça: Teoria, exercícios básicos e aplicação clínica. São Paulo: Ed. Manole; 1999.p.227-232.

10. COUTINHO & RODRIGUES. Estudo da função respiratória nas lesões por
avulsão traumática do plexo braquial
. Revista Brasileira de Neurologia, Rio de Janeiro, 39 (4): 45-51, 2003.

 

 
 

Obs.:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de seu autor.
- Publicado em 15/05/07

 


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