Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

 www.fisioweb.com.br 


Trabalho realizado por:
- Flavia Silva Teixeira
- Selma Helena Barreto
- Stella Dark Cruz

Acadêmicos do curso de Fisioterapia Reumatológica da UNIVERSO.


SÍNDROME DE BEHÇET

 

INTRODUÇÃO

Doença sempre implica um estado anormal do corpo, a respeito de estrutura ou função de uma parte ou de todo o organismo. Pode ser temporária ou uma deficiência permanente.

Infelizmente o sistema de defesa imune ocasionalmente pode funcionar mal, e alguns elementos do mecanismo de defesa reagem contra partes do corpo.

As doenças reumáticas constituem uma das causas mais comuns de dor, incapacidades e perdas econômicas.

Quebrando este mito que as doenças reumáticas acometem somente o Sistema Osteoarticular, muitos pacientes/clientes apresentam queixas relacionadas aos outros órgãos como: rins, coração, pulmões, pele...

As causas são desconhecidas, e a interação de múltiplos agentes é provável.


MECANISMO DA DOENÇA AUTO – IMUNE

Sendo uma doença de imune complexo, os tecidos autólogos são lesados como “espectadores inocentes”. Os auto-anticorpos não são dirigidos contra os componentes celulares do órgão-alvo, mas sim contra o antígeno, autólogos ou heterólogos do soro. Os complexos (Ag+Ac) resultantes ligam-se inespecíficamente a membrana ou autólogas e fixam complemento. A fixação e subseqüente ativação dos componentes do complemento produzem uma resposta inflamatória local que resulta em lesão tissular.


DEFINIÇÃO

A Síndrome de Behçet recebeu o nome do dermatologista turco Prof. Dr. Hulusi Behçet (1889-1948).

Uma enfermidade reumática de evolução crônica, que tem a capacidade de produzir inflamação a nível de grandes vasos sanguíneos, por isso é considerada uma Vasculite Sistêmica.

Foi descrita em 1937, o Dr. Behçet publicou seus achados clínicos como um complexo de sintomas triplos de úlceras orais, urogenitais, e lesões de pele.

Em 1947, a síndrome foi reconhecida no Congresso Nacional de Dermatologia.



    Dr. Hulusi Behçet



ETIOLOGIA


É uma doença rara, mas uma das primeiras descrições foi por Hipócrates na antiga Grécia, em 450 a.C que relatou pessoas com ulcerações aftosas, oculares e genitais recorrentes.

Mas há um consenso que esta doença geralmente afeta pessoas oriundas do Mediterrâneo e do Leste como China e Turquia, um sinônimo do seu nome é Doença da Rota da Seda.

Segundo pesquisadores como os médicos Benedictos Adamantiades (1931), Tommas (1989), Castro (1995) e entre outros, é uma desordem multissistêmica inflamatória rara de provável natureza auto-imune, que apresenta clínica específica e às vezes incapacitante.


INCIDÊNCIA

* Idade: Grande em adultos entre 20 a 30 anos, mas acomete crianças.

* Raça: Grupos raciais diferentes e variados prognósticos, mas é baixa em países ocidentais, e em negros.

* Sexo: Ambos os sexos, mas o masculino é mais afetado.

* Herança: Admite uma base imunogenética devido relação com certos tipos de HLA-B (Antígeno Leucocitário Humano).

* Outros: Alguns tipos de alimentos podem desencadear as aftas, e as bactérias estimularem o sistema imunológico local, acarretando nos sintomas.


FISIOPATOLOGIA


A característica da doença é composta por várias afecções, de evolução crônica cujos sinais e sintomas podem aparecer de modo insidioso ou abrupto, com acometimento de vários órgãos.

Uma patologia relacionada à imunidade, resultado de uma inflamação sistêmica dos vasos sanguíneos de grandes calibres onde há deterioração e obstrução do fluxo de sangue e dano na parede vascular.



CLÍNICA

Considerada como uma Artropatia Soro Negativa (FR-), a tríade característica é composta por ulcerações orais, genitais e lesões oculares.

A evolução clínica como já foi dito é crônica, porém se manifesta freqüentemente por remissões e exacerbações.

Acomete os sistemas:

* Tegumentar: pele e mucosa, eritemas nodosos, úlceras dolorosas e de superfície com pseudomembrana amarelada.

* Osteoarticular: Artrite assimétrica oligoarticular periférica de MMII, auto limitada e deformante, que afeta geralmente joelhos e tornozelos. A predileção à destruição de superfícies articulares se apresenta naqueles sítios submetidos aos maiores suportes de carga ou estresse de cisalhamento.

* Extrarticulares: uretrites, uveíte anterior, conjuntivite, esclerite e retinite.


Obs: A SB tem uma probabilidade quatorze vezes maior de manifestar complicações trombóticas arteriais e venosas profundas, aneurismas, e infecções gastrintestinais.

O comprometimento do SNC resulta muitas vezes em invalidez acentuada ou morte, as manifestações podem incluir paralisia de nervos cranianos, convulsões, encefalites, distúrbios mentais e lesões medulares em casos mais avançados, hipópio e neurite do nervo óptico (que surgem por causas metabólicas na SB). São freqüentes a leucocitose e o aumento da velocidade de hemossedimentação.


QUADRO CLÍNICO

Permite um diagnóstico através de conjuntos de critérios de classificação bem definidos.

1. Ulcerações Orais recorrentes (Pelo menos três vezes em um ano).
2. Ulcerações Genitais recorrentes.
3. Lesões Oculares (uveíte antero-posterior, células no vítreo ou vasculite retiniana).
4. Lesões Cutâneas (eritema nodoso, pseudofoliculite, lesões populopustulares ou acneiformes).
5. Teste de Patergia positivo.


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Um paciente/cliente pode ser classificado como portador da SB quando o critério 1 está presente, associado a quaisquer dois dos demais critérios, não necessariamente de forma simultânea.

Fonte: International Study Group for Behçet’s Disease,1990.


Obs: A escala da dor varia muito da área da lesão, do tecido acometido.



SINAIS E SINTOMAS


* Extrarticulares


A) ÚLCERAS ORAIS (AFTAS): São recidivantes em 100% dos casos, são dolorosas, de tamanho e aspecto variáveis, aparecem no palato mole, língua, e orofaringe. Desaparecem por volta de 10 dias sem deixar cicatrizes.

 

Aftas ou Úlceras Orais

    

 

Úlceras com Pseudomembrana Amarelada

   




B) ÚLCERAS GENITAIS: As úlceras nos homens são mais no escroto que no pênis, nas mulheres se apresenta no orifício uretral, que fica visivelmente afetado e a extensão perineal também, como o bulbo do vestíbulo e os lábios. São dolorosas, geralmente maiores, e mais profundas deixando cicatrizes.

A SB não é contagiosa e não se transmite sexualmente.

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A uretrite, que ocorre muita das vezes, é inflamação na uretra que pode ser causada pela bactéria Chlamydia, intracelular semelhante a vírus.


 

Úlceras no Pênis e próximo ao Escroto (Virilha)

  


 

Úlceras na Extensão da Vagina e algumas Nodosas

  



C) LESÕES OCULARES: As uveítes estão presentes em 60 a 70% dos casos, uma inflamação do trato uveal não granulomatosa de inicio agudo, dor pronunciada ao redor da córnea, e vermelhidão.

As aderências impedem o fluxo do humor aquoso levando ao glaucoma, podendo determinar o aparecimento de cataratas, seguindo fulminantemente para a cegueira.

Obs: O sexo masculino é mais afetado, sendo a uveíte bilateral mais freqüente em 88% dos casos, e a unilateral em 12%.
 

Lesões Oculares (Uveítes e Hipópio)

   

 


D) LESÕES CUTÂNEAS: Implicam 80% dos casos, com foliculites, pústulas, vesículas, furúnculos...

 

Lesões Cutâneas (Pseudofoliculites)

 



* Intrarticular


E) ARTRALGIA E ARTRITE: São uma causa secundária na SB, observadas em cerca de 2/3 dos pacientes/clientes, em 65% dos casos, a artrite não é erosiva, mas se não for tratada, depois de meses ou anos pode instalar-se espessando o tecido periarticular, podendo ocorrer atrofia de pele e dos músculos.

Obs: Os sinais e sintomas podem durar dias ou semanas

 

Ressonância Nuclear Magnética mostrando paciente com Artrite no Joelho

 

A FISIOPATOLOGIA DA DESTRUIÇÃO ARTICULAR

Inflamação na Articulação (Sinovite) ==> Derrame Sinovial ==> Tecido de Granulação Recobre a Cartilagem (Pannus) ==> Destruição da Cápsula Articular e Osso Subcondral ==> Dor ==> Perda da Mobilidade Articular ==> Fraqueza dos Músculos Periarticulares ==> Lesões Tendinosas e Ligamentares ==> Instabilidade e Deformidade da Articulação ==> Disfunção e Desuso da Articulação ==> Atrofias Musculares e Deformidades por Contraturas.

 

Comparação entre um Joelho Normal e um com Osteoartrite (Cão)




DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO


Não há testes laboratoriais ou histopatológicos que fornecem o diagnóstico de certeza da doença, esta se baseia através dos critérios, além de poder contar ainda com a reação de Patergia (Ressaltando que é um teste que apresenta uma baixa sensibilidade, além de ser inespecifico).


Critérios Clínicos para a Avaliação da Atividade da Síndrome de Behçet


* Úlceras genitais e orais.
* Eritema nodoso e pústulas.
* Artralgias e artrite.
* Náuseas ou vômitos.
* Diarréia e cefaléias.
* Sinais ou sintomas de atividade ocular.
* Sinais ou sintomas de atividade do SNC em grandes vasos.
* Auto-avaliação do paciente/cliente (Sobre escala semiquantitativa).
* Impressão geral da clínica (Sobre escala semiquantitativa).


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A presença dos critérios acima é utilizada para quantificar a atividade da SB, e um índice produzido pela soma simples dos critérios positivos.

Porém, as validades deste índice entre diferentes centros ainda não foram convenientemente avaliadas.

Fonte: Lawton, 2004.



TESTE DE PATERGIA


É uma reatividade cutânea a traumas mecânicos repetitivos, feito com picadas de agulha, de 3 a 5, o local é demarcado para inspeção. Após 24 ou 48 horas das picadas surgem pústulas ou bolhas, o teste é positivo em cerca de 60 a 70% dos casos.

 

Teste de Patergia com Reação Positiva



PROTOCOLO DE TRATAMENTO CONSERVADOR FUNCIONAL

Como a causa é desconhecida, o tratamento é realizado de acordo com os sintomas individuais.

* Terapêutica Medicamentosa: Os corticóides tópicos e orais, antiinflamatórios não esteróides, analgésicos e outras drogas imunossupressoras têm sido empregadas com êxito, nas lesões cutâneas e ulcerações.

* Terapêutica Osteoarticular: A fisioterapia consiste em reduzir a dor e o processo inflamatório, preservar a função, evitar seqüelas e prevenir deformidades.Contribuindo para o conforto do paciente/cliente, e o seu bem-estar.


FISIOTERAPIA NAS ARTICULAÇÕES ARTRÍTICAS


O pré-cinético e o cinético são recomendados para manter a mobilidade e prevenir a fibrose articular.


> PRÉ-CINÉTICO


Visando combater a reatividade, o repouso sempre será bem vindo, por causa da vasodilatação no processo inflamatório.


Eletrotermofototerapia:


1. TENS: para analgesia, com liberação de opiáceos naturais a nível cortical promovendo relaxamento.

2. Crioterapia: Com o segmento a ser tratado em drenagem postural, para facilitar o retorno venoso, e dando um intervalo de 10 a 15 minutos, para usar as outras técnicas pré-cinéticas ou cinéticas.
Obs: Sempre realizar o teste, para detectar a reação na pele de papúla.

3. Ultra-Som (Pulsátil): Tem o mesmo efeito do LASER, só é mais lento, prevalecendo o efeito mecânico e secundariamente o térmico.

NB. LASER – AsGa: para a fotobiomodulação, e tem efeito profundo, mas com uso de corticóides fica contra indicado, por alguns estudos comprovarem isso.

4. Contraste: Promovendo a ginástica vascular.



> CINÉTICO

As mobilizações passivas e ativas precisam ser estimuladas para eliminar a rigidez, e aumentar do arco de movimento, empregando juntamente exercícios isométricos, isotônicos, e resistidos. Com o terapeuta fornecendo supervisão direta e assistência física.


Cinesioterapia:


1. Massagem Sueca Neoromuscular: Preparando a região para outras manobras, com efeitos calmantes e energéticos, aumentando a circulação geral, observando sempre a Lei do Ritmo.

2. Mobilização Mio-Fascial:
Para alongamento tecidual, equilibrando os dois lados, oferecendo tensão as fáscias.

3. Técnica de Mulligan: Manual, indicada para hipomobilidade intra-articular, sem dor, realizando movimentos acessórios.

4. Técnica de Codman: Usada para evitar aderências, e melhorar o suprimento sanguíneo.

5. Técnica de Maitland: Para restabelecer a função e inibir a dor passivamente, com micro-movimentos articulares.

6. Bola Suíça: com o objetivo de isometria, isotonia, treino postural e mobilizações lúdicas, principalmente com crianças.

7. Hidroterapia: È ideal para as patologias reumáticas, mas tendo a restrição de só ser feita quando as lesões e as úlceras estiverem cicatrizadas.

8. MARP: Fazendo uma morfo-ánalise e seu reagente postural, trabalhando os três pilares: corpo real, o emocional e o vivenciado, através do toque.

9. Técnicas de Relaxamento:

* Jacobson, que visa um relaxamento progressivo, para a normalização da cinestesia, reduzindo a excitabilidade cerebral, colocando o córtex em repouso.

* Shultz, para um autocontrole, diminuindo a algia. É induzido por exercícios fisiológicos racionais, levando ao relaxamento neuromuscular.



CONCLUSÃO


Por ter uma etiologia duvidosa a Síndrome de Behçet, tem que ser tratada a partir do momento que for diagnosticada, mas não esquecendo que todos os protocolos de tratamento têm suas indicações e contra-indicações.

O paciente/cliente portador da SB tem que ser atendido por uma equipe multidisciplinar, englobando médicos nas áreas especificas de cada lesão, fisioterapeutas, psicólogos, e contar com uma assistência social, enxergando este ser como um todo.

Os profissionais têm que saber que eles estão presentes nas questões culturais, sociais na vida e no sofrimento, lembrando que todos os pacientes/clientes desejam falar de sua doença, seja em nível de curiosidade ou conforto emocional.


“A importância da intervenção precoce da fisioterapia não pode ser superestimada. As deformidades não são sempre inevitáveis. Mas a educação preventiva ao paciente/cliente é a consideração mais importante na preservação articular. Isso envolve ensiná-lo realizar as atividades diárias usando técnicas que irão evitar e prevenir um desgaste desnecessário nas estruturas articulares envolvidas e também para conservar a energia”.



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www.manualmerk.net
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www.wgate.com.br/fisioweb
www.saudevidaonline.com.br
www.interfisio.com.br
www.abcdasaude.com.br

 

Obs.:
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- Publicado em 16/11/06

 


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