Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

 www.fisioweb.com.br 


Trabalho realizado por:
- Thais de Melo Ribeiro 1
- Marcos Antônio Furumoto
2

Contato: tath_ribeiro@hotmail.com

1 Fisioterapeuta, Pós-graduada em Fisioterapia
Músculo-esquelética na Universidade de
Ribeirão Preto – UNAERP.

2
Fisioterapeuta, Professor Adjunto do
Curso de Fisioterapia da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP


tratamentos da lombalgia gestacional:
revisão da literatura

 

RESUMO

Atualmente a lombalgia na gestação é um tema pouco discutido. Ela vem sendo considerada como uma ocorrência normal e até esperada na gravidez, o que tem contribuído para a falta de adoção de medidas profiláticas e de alívio, mesmo tendo uma alta incidência e trazendo repercussões biopsicossociais para as mulheres. Assim como a etiologia e os fatores de riscos da lombalgia gestacional são questionáveis, também existem divergências quanto ao melhor tratamento e se há realmente algum tratamento efetivo. O objetivo desse trabalho foi discutir a eficácia dos diversos tratamentos para o alívio do quadro álgico da lombalgia gestacional, baseado em uma revisão crítica da literatura. Concluiu-se que há uma resposta positiva no alívio da dor, se a gestante fizer parte de algum método de tratamento e não existem evidências que um tratamento é mais eficiente que o outro.

Palavras-chave: dor, exercício, lombalgia, gestação.

 

ABSTRACT

The low back pain in the pregnancy is little currently argued. It comes being considered as a normal occurrence and until waited in the pregnancy, what she has contributed for the lack of adaptation of prophylactic measures and relief, exactly having one high incidence and bringing biopsicosociais repercussions for the women. As well as the etiology and the risks factors of the gestational low back pain they are questionable, also they exist divergences how much to the best treatment whether if it has really some effective treatment. The objective of this work was to argue the effectiveness of the diverse treatments for the relief pain, based in a critical revision of literature. It was concluded that there is one positive reply in the relief of pain, if the pregnant are being part of some treatment method and there aren’t evidences that a treatment is more effective than other.

 Key-words: pain, exercise, low back pain, pregnancy.

 

1 INTRODUÇÃO

 

            A lombalgia é conceituada como um sintoma que afeta a parte mais baixa do dorso e a prega glútea(11). Esta manifestação clínica é um das queixas mais freqüentes no mundo industrializado e exerce um impacto enorme sobre os serviços de saúde(10).

            A maioria dos estudos de prevalência evidencia que as dores nas costas durante a gestação são queixas importantes, tanto pela alta freqüência de mulheres acometidas, quanto pela intensidade da dor e desconforto provocado. Além de influenciar de modo negativo a qualidade do sono, disposição física, desempenho no trabalho, vida social, atividades domésticas e lazer(5,25).       

No Brasil, Cecin et al.(5) encontraram que o risco relativo das gestantes em apresentar dores nas costas é quase 14 vezes maior que o de mulheres não grávidas. Destacaram a importância de oferecer mais atenção a este tipo de queixa, para maior conforto e bem-estar das pacientes.

Ainda não foi identificada a causa específica desse desconforto, as três hipóteses explicativas mais difundidas são da lombalgia decorrente de eventos fisiológicos próprios da gestação devido a modificações biomecânicas, hormonais e vasculares(5,24).

Em função da alta prevalência e de alterações biopsicossociais para a gestante, era de se esperar que programas de prevenção fossem incentivados e realizados. No entanto, os poucos programas preventivos de orientação postural à gestante encontram, na prática, obstáculos representados pela ausência de adesão e falta de continuidade na maioria dos serviços, quer na iniciativa privada, quer na rede pública(10).

A falta de aderência pode advir da desinformação acerca da temática e da falta de amplas discussões por profissionais da área da saúde, que muitas vezes acabam por considerar a lombalgia apenas como mais um desconforto inerente ao período gestacional e, portanto, de ocorrência normal, não requerendo adoção de medidas preventivas ou de alívio para esta sintomatologia(10).

Frente a tais considerações é desejável que o assunto seja amplamente debatido e que programas multidisciplinares de preparação para o parto, caracterizados pelo desenvolvimento de métodos educativos, atenção psicológica e preparo físico específico, se tornem cada vez mais comuns e procurados pela maioria das gestantes. Tendo como objetivo de assegurar o controle sobre seu corpo e sua gestação, introduzindo-as na prática de exercícios que resultam em equilíbrio físico e psíquico(7).

Objetivamos com este trabalho realizar uma revisão crítica da literatura acerca da lombalgia na gestação, evidenciando os benefícios do tratamento das dores lombares durante a gestação, além de ilustrar as diferentes formas de serem realizados.

 

2 MATERIAL E MÉTODO

           

Trata-se de um estudo descritivo com análise qualitativa dos tratamentos fisioterapêuticos na lombalgia gestacional. Foram incluídos artigos no período de 1985 a 2006, também, além dos periódicos selecionados, 3 livros com explanação sobre o assunto.

            Utilizaram-se três bases de dados para a revisão bibliográfica: LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), consultada por meio do site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), da Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), MEDILINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), acessada por meio do PUBMED, SCIELO e SCIENCE DIRECT consultado através do Conselho de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

            Os descritores utilizados para a busca de artigos são: dor e gestação; gravidez e lombalgia; exercício e lombalgia; lombalgia e gestação; exercício e gravidez; exercise and pregnancy; low back pain and pregnancy; physical activity and women´s health.

            Dentre as publicações, foram selecionados somente as de língua portuguesa e inglesa, artigos que incluíssem revisões bibliográficas, tratamentos ou pesquisas experimentais. Dessa forma foram identificados 35 artigos.

                       

3 LOMBALGIA GESTACIONAL

           

3.1 Alterações Fisiológicas

 

            A gestação é considerada um evento fisiológico que para o seu desenvolvimento é necessário que ocorram profundas e rápidas transformações, muitas vezes até exigindo o funcionamento de alguns órgãos maternos no limite de sua capacidade máxima. Em nível sistêmico, ocorrem alterações cardiovasculares, pulmonares, urinárias, digestivas e músculo-esqueléticas(11). No entanto, neste estudo daremos ênfase somente às alterações músculo-esqueléticas.

            O sistema músculo-esquelético está envolvido na prática obstétrica, já que durante a gestação acontece uma seqüência de mudanças no corpo da mulher. O útero está em constante crescimento, formando um abdômen protruso, que somado ao aumento ponderal das mamas irão influenciar na modificação do centro de gravidade, fazendo com que se desloque para frente(2). Além disso, sabemos que a liberação de hormônios, como estrógeno, progesterona e relaxina, ocasionam uma maior flexibilidade e extensibilidade das articulações, bem como uma maior retenção de água. Afetando assim, também, a estrutura do sistema músculo-esquelético(2,20).

            Todas essas modificações vão gerar a necessidade da mulher adaptar sua postura para compensar a mudança de seu centro de gravidade, alterando então, as curvaturas da coluna vertebral. A região lombar acentua sua curvatura com o crescimento uterino frontal, que por sua vez, modifica a posição do sacro deixando-o mais horizontalizado em relação à pelve. Também ocorre o aumento da cifose torácica para compensar o crescimento das mamas, o estiramento dos músculos abdominais, que perdem sua ação estabilizadora da pelve e o tensionamento da musculatura paravertebral(6,20).

Em um estudo feito sobre essas alterações nas curvaturas, Hansson et al.(14) verificaram que não existe diferença entre o grau de lordose lombar em indivíduos que não apresentavam lombalgia quando comparado ao grau daqueles que apresentavam. Sugerindo assim, que o grau da lordose lombar não seja um fator predisponente para a lombalgia. Ostgaard et al.(25) realizaram um estudo com 855 gestantes e perceberam que não houve um aumento significativo da lordose lombar no decorrer da gestação, mas consideraram a hiperlordose lombar prévia como fator de risco.

Devido à falta de estudos acerca da temática, não podemos afirmar se é realmente o aumento da lordose lombar que predispõe ao aparecimento do sintoma da lombalgia durante a gestação.

Porém, em vários estudos(10,11,23), observou-se que durante a gestação ocorre o aparecimento de algias posturais, principalmente a dor lombar independendo do fator causal.

 

            3.2 Prevalência

 

A lombalgia é conceituada como um sintoma que afeta a área entre a parte mais baixa do dorso e a prega glútea, podendo irradiar-se para os membros inferiores(11).

            Um estudo recente utilizado na cidade de Paulínia- SP, com 203 gestantes, pesquisou a prevalência de dores nas costas durante a gestação. A coleta de dados foi feita através de questionários e observou-se que 80% das gestantes tinham algias na coluna vertebral e pelve e que o local de dor mais referido era a região lombar seguida da sacroilíaca(20). Já na cidade de Uberaba- MG, 83,3% das 60 gestantes que foram pesquisadas apresentavam dor lombar(5).

            Outro estudo(34) teve como resultado 76,6% de prevalência de dores lombares nas gestantes, como também Koniak-Griffin(17) estimou que 50 a 70% das gestantes são acometidas pelas mesmas dores. E já no trabalho de Galão et al. esse valor aumentou para 78% das gestantes(12).

Também existem pesquisas(15) que relatam que 70% de todas as grávidas têm algum tipo de dor lombar e que 20% dessas mulheres permanecem com fatores residuais do problema semana após o parto. Comprovando, então, o alto índice de lombalgia durante a gestação.

 

3.3 Etiologia

 

Ainda não existe um consenso sobre a etiologia da lombalgia na gestação, o que parece evidente é que ela é multifatorial, pois a própria gravidez, ou seja, suas alterações fisiológicas, contribuem para o quadro doloroso da lombalgia(11).

            Em contra partida estudos mostram que a lombalgia na gestação muitas vezes não está ligada diretamente à gravidez, e sim, a quadros dolorosos pré-gestacional. Esses trabalhos afirmam que mulheres que sentiam dor lombar antes de ficarem grávidas têm uma probabilidade maior de terem lombalgia durante a gestação(24,26,30,34).

            Porém, Galão et al.(12) e Martins et al.(21) observaram que a dor prévia à gestação não foi fator predisponente para o aparecimento ou agravamento deste sintoma durante a gravidez. O que pode ser confirmado por Cecin et al.(5), onde eles observaram que 76% das mulheres grávidas que tinham lombalgia não apresentavam essa sintomatologia antes da gestação, contra 24% que apresentavam, mas de menor intensidade.

            O aparecimento da lombalgia gestacional também tem relação com a idade gestacional. Em uma pesquisa realizada observou-se que o pico de maior prevalência ocorreu a partir do 5° mês de gestação(5). Opondo a afirmação anterior, em outro estudo(20) verificou-se que as queixas de dor foram mais prevalentes no primeiro trimestre, e não aumentaram com o avanço da gestação.

            Já o peso da criança ao nascer e o peso ganho da mulher durante a gestação não apresentaram correlação estatisticamente significativa para explicar a lombalgia nas gestantes, resultado este obtido em um trabalho realizado na cidade de Uberaba-MG(5).

            Devido à escassez de estudos relacionados sobre os determinantes da lombalgia, não podemos afirmar de maneira fidedigna a causa da dor lombar durante a gestação. Mas, pode-se dizer que ela vai ocorrer independente se a mulher teve lombalgia pré-gestacional ou não, se houve ou não aumento da lordose lombar, isso devido às alterações fisiológicas que ocorrem em todas as mulheres durante esse período. O que poderá ser diferente é a intensidade dos sintomas.

 

4 EXERCÍCIO FÍSICO NA LOMBALGIA GESTACIONAL

 

A lombalgia na gestação interfere de maneira significativa na qualidade de vida da gestante. Ela pode causar uma incapacidade motora, insônia, depressão, afastamento do ambiente de trabalho, impedindo a mulher de levar uma vida normal(19,23,24).

            Diante de todas essas alterações, a lombalgia não deve ser considerada como mais um sintoma que aparece durante a gestação, como a maioria dos médicos relata, ela deve ser considerada uma doença e ser tratada.

Fast et al.(9) realizaram um trabalho com gestantes que apresentavam lombalgia, verificaram que estas quando procuravam seus médicos, referindo a dor, na maioria dos casos não era oferecido tratamento. E quando alguma terapêutica era aplicada, optava-se pelo uso dos analgésicos.

            Sabe-se que os analgésicos funcionam apenas para aliviar a dor momentaneamente e o uso dos mesmos, sem associar com qualquer outro tipo de conduta, por exemplo, as orientações posturais, podem levar a gestante executar atividades potencialmente agravadoras do quadro, adotando posturas inadequadas sob efeito da medicação(10).

            Por causa disto, vários estudos(7,8,28)  descrevem opções de tratamento. E como a etiologia e os fatores de risco para a lombalgia gestacional possuem divergências, elas também existem quanto ao melhor tratamento e se há realmente algum tratamento efetivo para a lombalgia gestacional.

Ostgaard et al.(24,27) afirmam que a prevenção deve começar mesmo antes da gestação, pois verificou que mulheres que apresentavam uma melhor condição muscular têm um menor risco de apresentarem lombalgia gestacional. Porém, Martins et al.(21) obteve em seu estudo a mesma resposta na evolução da dor comparando mulheres que praticavam exercício físico pré-gestacional e as que não praticavam.

O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), reconheceu que a prática da atividade física regular no período gestacional, deveria ser desenvolvida desde que a gestante apresentasse condições apropriadas e definiu algumas recomendações de interesse na prescrição de programas de exercícios na gravidez(3).

Independente do tipo, as intensidades leve ou moderada são as mais adequadas, com freqüência mínima de três vezes por semana, mantida regularmente. Devem ser evitadas as atividades intensas e é importante respeitar o limite de 140 bpm para a freqüência cardíaca materna e de 38° C para a temperatura ambiente(1,2,22).

            Complementando o programa anterior o Sport Medicine Austrália elaborou mais algumas recomendações: devem-se evitar exercícios na posição supina; pode fazer exercício desde que se consuma uma quantidade adequada de calorias, exercício e amamentação são compatíveis; interromper imediatamente se surgirem sintomas como dor abdominal, cólicas, sangramento vaginal, tontura, náusea ou vômito, palpitações e distúrbios visuais(4).

            Existem algumas contra-indicações absolutas para a prática da atividade física em gestantes portadoras de: doença cardíaca com alterações hemodinâmicas significativas, doença pulmonar restritiva, multípara com risco de prematuridade, placenta prévia depois de 26 semanas de gestação, ruptura de membranas, sangramento uterino persistente no segundo ou terceiro trimestre, cérvix incompetente e pré-eclâmpsia(3).

            A efetividade dos diferentes tratamentos é avaliada por diversos critérios e há vários estudos clínicos realizados com o objetivo de redução das lombalgias durante a gestação, usando técnicas variadas. Abordaremos neste estudo algumas dessas técnicas e o seu efeito na redução das lombalgias gestacionais.

           

5 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA LOMBAGIA GESTACIONAL

 

            É indiscutível a importância de estudos para o desenvolvimento de métodos preventivos e terapêuticos adequados, porém a escassez de trabalhos aprofundados sobre tais métodos acaba reforçando a aceitação passiva do problema(10).

            Entre trabalhos para alívio das algias posturais encontram-se aqueles que estudam a acupuntura, a hidroginástica, exercícios pélvicos. Entretanto, são métodos que apresentam como desvantagem precisar de materiais específicos para ser aplicados, como agulhas descartáveis, piscina aquecida e que na maioria das vezes não estão disponíveis(21).

 

5.1 Cinesioterapia

 

            A terapêutica mais utilizada pelos fisioterapeutas é a cinesioterapia. Tem a vantagem de ser de baixo custo, pois necessita apenas de roupas confortáveis e de um espaço para que as gestantes possam se sentar ou deitar no chão.

 Alguns protocolos já foram testados e baseiam-se no alongamento de grupos musculares específicos como peitorais, adutores da coxa, paravertebrais lombares, quadrado lombar e musculatura posterior da coxa e no fortalecimento dos músculos perineais e abdutores da coxa(28).

            No período de setembro de 1999 a maio de 2001 foi realizado um estudo(7) com gestantes entre a 18° e 22° semana de gestação que apresentavam dores lombares. Elas foram dividas em dois grupos, onde em um deles foi aplicado um programa multidisciplinar de preparo para o parto que consistia em atividades educativas, atividades fisioterápicas e orientações posturais, realizado em 10 encontros. As atividades fisioterápicas eram baseadas no protocolo descrito anteriormente acrescido do treino respiratório.

 Os autores(7) obtiveram como resultado da aplicação da técnica uma redução da intensidade, freqüência e duração da dor lombar em comparação ao grupo que não recebeu assistência do programa. A dor ficou com uma intensidade dita como leve em 57,9% e ausentes em 23,7%, com freqüência quinzenal ou mais em 50% e com duração menor do que uma hora em 55,3%. Com estes resultados, eles consideraram a cinesioterapia como um recurso adjuvante e benéfico para a lombalgia gestacional.

Garshasbi et al.(13) também utilizaram a cinesioterapia como método de tratamento e realizaram o exercício em 107 gestantes, também entre a 17° e 22° semana de gestação, durante 12 semanas com freqüência de 3 vezes por semana. Eles verificaram que a intensidade da dor no grupo experimental reduziu significativamente em relação ao grupo controle. Porém, eles não verificaram redução significativa na lordose lombar entre os dois grupos, mas observaram um aumento da flexibilidade da coluna no grupo experimental. Os resultados sugerem que o exercício durante a gestação pode reduzir a intensidade da dor lombar.

            Shim et al.(29) encontraram o mesmo resultado em relação ao alívio do quadro álgico, em gestantes coreanas que realizaram um programa de redução da dor lombar pré-estabelecido. Já em relação à limitação funcional não houve melhora significativa entre os grupos, mas a sua redução ocorreu de forma mais rápida no grupo experimental em relação ao controle. Esse resultado também pode ser encontrado por Dumas et al. (8), onde o exercício não reduziu a limitação funcional das gestantes do grupo experimental.

            Em contrapartida, nesta mesma pesquisa(8) a intensidade da dor lombar não foi reduzida com a prática de exercícios em grupo. O que pode ser questionado, pois não há explicação sobre a freqüência das atividades, se era a mesma dos trabalhos anteriores, e nem como elas eram realizadas. Ostgaard HC(24) sugere que os resultados verificados por Dumas et al.(8) poderia dever ao fato de todas as gestantes terem recebido o mesmo tratamento, enfatizando a importância do tratamento individualizado.

            Para obter um resultado mais completo, Ostgaard et al.(27) dividiu 407 gestantes com queixas lombares em três grupos. O grupo A era o controle, o B realizava a atividade física em grupo, e o C a atividade era feita individualmente. Eles obtiveram um alívio do quadro álgico tanto no grupo B quanto no C, mas com maior intensidade no grupo C, afirmando então que o trabalho individual é mais benéfico do que o realizado em grupo e que quando mais precoce é a intervenção dos terapeutas mais significativa é a diminuição dos sintomas inicias, com maior redução da dor.

 

5.2 Stretching Global Ativo

 

O stretching global ativo é um método composto de várias posturas de exercícios, onde o paciente faz alongamentos excêntricos globais associados ao trabalho respiratório, para reposicionar as cadeias musculares. Souchard(31) afirma que o comprimento ganho é diretamente proporcional ao tempo de tração, o que significa que estiramentos prolongados, mantidos o mais tempo possível, serão sempre mais eficazes do que trações bruscas.

            Também afirma que um dos princípios da reeducação postural global é que estirar o músculo por mais tempo permite diminuir a força da tração aplicada sobre o mesmo. E que as posturas de estiramento são mais eficazes sobre os músculos “frios”, ou seja, que em treinamento de base as auto-posturas devem ser praticadas antes de qualquer aquecimento.

            Para Souchard(31) o corpo é dividido em duas cadeias musculares, uma anterior e outra posterior, e o papel de cada uma delas é perfeitamente definido. Toda modificação anormal de uma delas acarretará a perturbação da função que ela deve cumprir. E com objetivo de reduzir essa alteração ele criou inúmeras posturas de correção que permitem alongar cadeias musculares encurtadas.

            As regiões lombar e pélvica fazem parte das duas cadeias e funcionam como gangorra. Se a cadeia mestra posterior estiver predominando, a região lombar tende a ficar retificada, em resposta à tração dos músculos posteriores dos membros inferiores. Se a predominância for da cadeia anterior, a região lombar ficará em atitude hiperlordótica, devido à tração dos músculos anteriores e internos dos membros inferiores. Essas duas posições podem causar algias musculares.

            Martins et al.(21) aplicaram o princípio do método de stretching no tratamento da lombalgia durante a gestação, e comprovou que a realização do mesmo reduzia a intensidade da dor lombar nas gestantes em comparação àquelas que não realizaram o método. Eles utilizaram duas posturas específicas conhecidas como auto-postura de rã no chão com insistência nos membros inferiores (abertura coxofemoral), e a sentada (fechamento coxofemoral), juntamente com trabalho respiratório de dois movimentos básicos: a respiração torácica superior e inferior.

            Estes resultados são semelhantes aos de Khalil et al.(16), no qual homens e mulheres foram submetidos a manobras de alongamento com o objetivo de redução da dor lombar e verificaram que a intervenção proporcionou aumento da força muscular, da amplitude de movimento articular, da condutividade nervosa e diminuição na intensidade da dor.

            Segundo Souchard(31), a postura de abertura do ângulo coxofemoral alonga os músculos intimamente relacionados com a coluna lombar e pelve, como adutores da coxa, psoas, ilíaco, músculos anteriores da perna e músculos profundos das nádegas. A outra postura de fechamento do ângulo coxofemoral são alongados os músculos espinhais, adutores da coxa, fáscia lata, isquiotibiais, tríceps sural, músculos profundos dos glúteos e músculos inspiratórios - principalmente a porção posterior do diafragma que se fixa nas vértebras lombares.

            Tendo em vista essa afirmação, não existe diferença significativa entre a aplicação do método stretching global ativo e da cinesioterapia, pois os dois partem do princípio do alongamento de musculaturas semelhantes, mudando apenas a forma que os músculos são alongados. Somado a isso, as duas técnicas reduzem a intensidade da dor, porém sem poder afirmar se uma técnica é mais eficaz do que a outra.

 

6 TRATAMENTOS ALTERNATIVOS NA LOMBALGIA GESTACIONAL

 

6.1 Acupuntura

 

            A acupuntura também é utilizada no tratamento das lombalgias gestacionais. Derivada dos radicais latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar, respectivamente, a acupuntura visa à terapia e cura das enfermidades pela aplicação de estímulos através da pele, com a inserção de agulhas em pontos específicos chamados de acupontos(32).

 Trata-se também de uma terapia reflexa, em que o estímulo de uma área age sobre outras. Para este fim, utiliza, principalmente, o estímulo nociceptivo. Porém, esse método tem a desvantagem de ter alto custo por causa dos materiais necessários para a sua aplicação(32).

            Kvorning et al.(18) aplicaram a acupuntura em gestantes no último trimestre da gestação, com o objetivo de avaliar a sua eficácia em relação à diminuição da intensidade da dor lombar nas gestantes. No grupo experimental os pontos eram escolhidos de acordo com a dor de cada paciente, baseado nos pontos da acupuntura tradicional.

            Eles observaram que a intensidade da dor reduziu em 60% das gestantes do grupo experimental, em comparação com a redução de apenas 14% no grupo controle. Além da dor, também avaliaram o incômodo que sentiam durante a atividade da vida diária (AVD´s) e perceberam que o grupo da acupuntura teve uma redução de 43% do incômodo comparado com apenas 9% do controle.

Ternov et al.(33)  também obtiveram redução da dor em 72% das gestantes que usaram a técnica da acupuntura. Pode-se concluir que a acupuntura é um método eficaz na redução da intensidade da dor lombar na gestação sem trazer efeitos adversos.

            Foi feito um estudo(35) comparando a eficácia da acupuntura com a cinesioterapia no tratamento das lombalgias gestacionais. Os autores perceberam que a intensidade da dor reduziu em ambos os grupos, mas no que utilizou a acupuntura, a redução foi mais significativa. Então, concluíram que a acupuntura é um recurso melhor do que a cinesioterapia.

            Essa afirmação pode ser questionada pelo fato de que a aplicação da acupuntura foi feita individualmente, ou seja, nos pontos dolorosos específicos de cada gestante. Já a cinesioterapia foi feita em grupo, utilizando o mesmo tratamento para todas as gestantes. E sabe-se que a cinesioterapia aplicada de forma individual tem mais eficácia do que a aplicada em grupo(27).

            Então, pode-se afirmar que a acupuntura reduz a dor lombar na gestante, porém se ela tem mais eficácia do que os outros métodos ainda não, devido à escassez de estudos nessa área.

 

6.2 Natação e Hidroginástica

 

            A natação, assim como a hidroginástica, é benéfica na lombalgia gestacional, pois a água exerce um efeito relaxante, além de permitir que o peso corporal seja mais bem sustentado. Sua propriedade de flutuação permite diminuir o impacto dos exercícios sobre as articulações, além de promover movimentos amplos. O exercício feito com regularidade também impede o edema nos tornozelos(2).

            A temperatura da água não deverá ser muito elevada e nem muito baixa, devendo-se manter em torno de 28°C a 30°C. Se muito quente, poderá aumentar a temperatura corporal da gestante e se muito fria, poderá provocar câimbras súbitas devido ao esfriamento do corpo materno(2).

            A prática da natação e da hidroginástica além de provocar benefícios físicos, melhora o estado psicológico da gestante, diminui a tensão dos músculos e da sobrecarga de peso nas articulações(2).

 

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

           

Cada vez mais se constrói um conceito de ampla aceitação de que queixas de lombalgia não podem ser mais interpretadas como algo inerente à gestação. A mulher que vivencia esse problema, deve ter sua queixa valorizada pelo médico ou enfermeiro. Ao enfermeiro cabem as orientações quanto aos hábitos de vida a serem mudados, ao médico cabe o tratamento medicamentoso, e ao fisioterapeuta, a orientação sobre os exercícios adequados e técnicas de relaxamento.

            A redução das dores nas costas é importante para a gestante, tanto do ponto de vista psicológico quanto físico. Dependendo do grau de dor durante a gestação, são inúmeras as alterações que podem ocorrer na vida dessas mulheres. Além desse incômodo, durante a gestação, ela pode perdurar alguns anos após o parto quando não tratada.

  A fisioterapia obstétrica é uma das especialidades da área de saúde que pode contribuir para o alívio das lombalgias que surgem nesse período, utilizando recursos variados como forma de tratamento.

             Tendo por base a revisão, ainda não existe um consenso no estabelecimento da conduta ideal para a prática da atividade física na gestante. Não se encontrou na literatura, qualquer tipo de padronização de atividade recomendada por órgãos especializados. Cada autor estabeleceu o tipo de atividade de interesse no estudo, sua duração, intensidade e freqüência.

            Todavia, conclui-se que quando indicada, a prática de atividade física regular, moderada, controlada e orientada pode produzir efeitos benéficos sobre a saúde da gestante e do feto.

 

 

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- Publicado em 28/01/08

 


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