Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

 www.fisioweb.com.br 


Trabalho realizado por:
- Cristiano Gomes
¹
- Janaíne Negrello
¹
- Rodrigo Medeiros da Rosa ¹
- Anderson V. Cattelan
²

¹ Acadêmicos do VIII nível do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo-RS.
.
² Professor da Disciplina de Fisioterapia Ortopedia e traumatológica II da faculdade De Fisioterapia da
Universidade de Passo Fundo-RS.

E-mail: andercatte@upf.br


TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM PACIENTES COM CONTRATURA DE DUPUYTREN – UMA REVISÃO DE LITERATURA


INTRODUÇÃO:

A contratura palmar foi inicialmente descrita por Cooper na Inglaterra, diferenciando-a das contraturas produzidas pelas lesões dos tendões flexores e bainhas sendo também descrita por Boyer na França por volta de 1823. Em 1832, Guillaume Dupuytren publica um artigo descrevendo a afecção na qual existia relato minucioso da patologia e de seu tratamento cirúrgico e, devido a esta descrição detalhada, a doença passou a receber o nome de enfermidade de Dupuytren ou contratura de Dupuytren. (Almeida; Barros; Barros, 1997; Coral et al., 1999).

A enfermidade consiste basicamente em uma doença fibro-proliferativa da fáscia palmar, caracterizada pela degeneração de fibras elásticas, espessamento e hialinização do feixe de fibras de colágeno da fáscia palmar, com formação de nódulos e contração.


EPIDEMIOLOGIA

A incidência é maior no sexo masculino, com uma relação de 7:1, ocorrendo mais comumente no dedo anular (Connoly; Davey; Boscheinen –Morrin, 2002). A doença de Dupuytren incide mais freqüentemente em homens entre a 5ª e 7ª décadas de idade, principalmente em homens de origem escandinava ou celta, sendo rara em negros e asiáticos (Coral et al., 1999).

O início do quadro clínico normalmente sucede após a 5° década de vida e em sua forma mais evolutiva ocasiona déficit de extensão digital (figura 1) (Fernandes; Fridman; Silva, 1999). Nos pacientes acometidos pela contratura de Dupuytren, verifica-se lesão semelhante na fáscia plantar medial conhecida por doença de Ledderhose que ocorre em 5 a 10% dos casos e na fáscia profunda do pênis chamada de doença de Peyronie acometendo de 1 a 3%.



Figura 1.Posição da mão com contratura de Dupuytren atingindo a bainha do tendão do 5o dedo.



ETIOLOGIA:

Para Freitas; Pardini e Neder (1997), a etiologia e a fisiopatologia da contratura de Dupuytren continuam sendo obscuras. Conolly, Davey e Boscheinen- Morrin (2002) referem que existe uma história familiar positiva em 25% dos casos, apesar de a contratura ocorrer principalmente em trabalhadores manuais e ser também observada em sedentários, alcoólatras, diabéticos e epiléticos. Basicamente os três componentes da aponeurose palmar envolvido na contratura de Dupuytren são: as bandas pré tendinosas, o ligamento natatório e o ligamento transverso superficial, esses três componentes da fáscia podem estar acometidos sozinhos ou combinados, dependendo do estagio de severidade da doença (Lech, 2004). Complementam Almeida, Barros e Barros (1997), algumas teorias sobre o aparecimento da doença:

A) Teoria intrínseca: Na qual a enfermidade tem sua origem em segmentos bem definidos da aponeurose normal preexistente

B) Teoria extrínseca: Refere a metaplasia do tecido fibroadiposo como causa da enfermidade, autores acreditam ainda que a síntese das duas teorias seria uma abordagem mais aceitável.


C) Teoria histoquímica: Estabelece a adiposidade palmar como sítio de origem da enfermidade, sendo que alterações na composição e distribuição de ácidos graxos levem a hipóxia na pele e tecido adiposo dos pacientes (Rabinowitz; Ostermann; Bora apud Almeida; Barros; Barros, 1997). Estudos recentes indicam grande potencial para isquemia induzida pela geração de radicais livres, os quais poderiam estimular a proliferação de fibroblastos, desse modo a relação entre a idade, o diabetes, o uso de álcool e o fumo com a doença estariam relacionados à geração de radicais livres (Paletta, 1978 ). Foram também observadas alterações profundas que imitam as que ocorrem durante o processo de cicatrização, como aumento da atividade da enzima lisiloxidase, do colágeno total e do colágeno do tipo III, encontrado no tecido cicatricial e de granulação, bem como em pacientes portadores desta enfermidade.

D) Teoria histológica: Ocorre a participação dos fibroblastos, sendo que alguns estudos recentes, demonstraram que os fibroblastos encontrados nos pacientes com enfermidade de Dupuytren são idênticos aos da fáscia normal, apenas em maior número e situados em torno de microvasos estenosados (Almeida, Barros e Barros, 1997), e, miofibroblastos que pareciam participar de forma preponderante no estabelecimento da enfermidade estão presentes apenas nos nódulos e ausentes nas cordas, não sendo, portanto, responsáveis pela retração e contratura da aponeurose palmar enferma (Gosset, 1985 apud Almeida, Barros e Barros, 1997).


TRATAMENTO CONSERVADOR:

Os casos mais leves são tratados conservadoramente, na tentativa de evitar contratura articulares secundarias, por meio de exercícios de extensão forçada e aumento da extensibilidade da fáscia através do uso de correntes ultrassônicas ou outra modalidade de calor profundo (Lech, 2004). A utilização da radioterapia, a ingestão de vitamina E, e o uso de corticoterapia também é indicado na fase nodular da doença, associados à imobilização da mão afetada. Segundo Agne (2004) o uso do ultrassom tem se verificado eficiente no tratamento conservador da Contratura de Dupuytren, aliviando a dor e diminuindo a retração cicatricial. Para Machado (2000), outra técnica fisioterapêutica que tem se mostrado eficaz é o uso do banho de parafina no segmento acometido.


TRATAMENTO CIRÚRGICO:

O tratamento cirúrgico é indicado quando as faixas faciais palmares produzem uma contratura em flexão das articulações metacarpofalangeana ou interfalangeana ou uma contratura em adução do polegar ou de outras membranas interdigitais (Connoly; Davey; Boscheinen –Morrin, 2002).

Há várias controvérsias no tratamento da contratura de Dupuytren. Diferentes técnicas para liberação da contratura são utilizadas na prática clínica como: a) fasciectomia regional, b) fasciectomia radical, c) palma aberta, d) dermofasciectomia, etc... Essas técnicas necessitam de centro cirúrgico, equipe cirúrgica especializada, internação hospitalar, tempo cirúrgico prolongado e cuidados pós-operatórios intensos, para evitar ou tratar as complicações na extensa ferida operatória, tais como hematoma, edema, infecção, necrose e rigidez articular (Chambriard et al, 1996).

Em estudo realizado por Fernandes; Fridman; Silva (1999), 30 pacientes num período de 48 meses foram submetidos a fasciectomia regional. Em todos os casos, utilizou-se a técnica cirúrgica da palma aberta, proposta por McCash. Na totalidade dos pacientes houve acometimento da borda ulnar da mão. Foram necessários 25 dias, em média para completar a cicatrização cutânea. Obteve-se déficit residual articular médio de 20 graus, sempre ao nível da articulação interfalangiana proximal. Cinqüenta dias, em média, foram necessários para que os pacientes retornassem a atividade manual independente.

Em um outro estudo realizado por Almeida, Barros e Barros (1997), foi realizada a avaliação de 100 pacientes portadores de enfermidade de Dupuytren, no período de 1984 a 1994. A faixa etária variou de 39 a 73 anos, com média de 52 anos, sendo 88 pacientes do sexo masculino e 12 do feminino. Com relação à lateralidade, foi observado envolvimento bilateral em 45% dos casos, acometimento apenas à direita em 32% e à esquerda em 23%. Houve predominância do envolvimento dos dedos mínimo e anular em 60% dos casos, polegar em 25%, dedo médio em 10% e indicador em 5%. Os pacientes foram acompanhados por período de dois a quatro anos, sendo em média três anos, e divididos em estágios evolutivos da enfermidade no momento do tratamento e da indicação cirúrgica para padronização dos resultados. Obteve-se, nos pacientes acompanhados em média por três anos, correção completa em 85% dos casos, correção parcial em 15% dos casos; perda parcial de extensão em 5% e perda parcial de flexão em 10% dos pacientes.



TIPOS DE TRATAMENTO CIRÚRGICO:

* Fasciotomia: trata-se simplesmente da secção da faixa contraída. O procedimento é adequado para pacientes idosos, pois ele produz um bom resultado inicial; entretanto pode haver recorrência do quadro.

* Fasciectomia Radical: Ressecção extensa de toda a aponeurose. Este procedimento apresenta o risco de complicações da ferida.

* Fasciectomia Local ou Regional: Produz o melhor resultado global com a menor morbidade (Connoly; Davey; Boscheinen –Morrin, 2002).


FISIOTERAPIA:

Para a reabilitação pós-operatória são realizados exercícios ativos ao longo de toda a amplitude articular. Esses devem ser iniciados se possível no primeiro dia de pós-operatório. Todos os movimentos de polegar, dedos e punho são realizados regularmente e modificados até a obtenção de toda a amplitude articular. Podem ser utilizadas talas para posicionamento de extensão dos dedos, em conjunto com um programa cinesioterápico (Lech, 2004).

O uso de splints é muito importante para obter um melhor resultado e evitar recidiva. É freqüentemente útil usar um splint ao dormir por diversos meses após a cirurgia.


CONCLUSÃO:

A contratura de Dupuytren é uma patologia de origem obscura e de tratamento, às vezes, controverso, mas, independente da forma de atuação, os resultados são satisfatórios do ponto de vista de recuperação funcional do paciente e encontra-se em relação direta com os estágios evolutivos da doença. É um assunto que necessita de estudos mais aprofundados, apresentando-se como um campo aberto a mais pesquisas para estabelecer a fisiopatologia e a melhor forma de tratamento.



BIBLIOGRAFIA:


• AGNE; Jones E. Eletrotermoterapia: teoria e prática. Santa Maria: Orium, 2004.

• ALMEIDA, Saulo Fontes de, BARROS, Alexandre; BARROS, Fernando;. Enfermidade de Dupuytren: avaliação de 100 casos. Revista Brasileira de Ortopedia. v. 32, n. 3, p. 177-183, mar. 1997.

• BARROS FILHO, Tarcísio E. P. de; LECH, Osvandré. Exame físico em ortopedia. São Paulo: Sarvier, 2001.

• BOSCHEINEN-MORRIN, Judith; CONOLLY, W. Bruce; DAVEY, Victoria. A mão: bases da terapia. Barueri: Manole, 2002.

• CHAMBRIARD, Claude et al. Fasciotomia percutânea na correção da deformidade da articulação metacarpofalângica na contratura de Dupuytren. Revista Brasileira de Ortopedia. v. 31, n. 4, p. 347-350, abril. 1996

• CORAL , Patrícia et al. Doenças de Dupuytren e de Ledderhose associadas ao uso crônico de anticonvulsivantes: Relato De Caso. Arquivos de Neuropsiquiatria. v. 3 B, n. 57, p. 860-862, 1999.

• FERNANDES, Hildo; FRIDMAN, Monik ; SILVA, Jefferson Braga. A técnica da palma aberta na contratura grave de Dupuytren. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 34, n. 1, p. 51-54, jan. 1999.

• FIORI, João Mauricio et al. Tratamento da moléstia de Dupuytren pela técnica de incisão longitudinal reta, complementada com Z-plastia. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 30, n. 4, p. 207-212, Abr., 1995.

• FREITAS, Afrânio Donato de , NEDER FILHO, Antônio Tufi ; PARDINI Jr., ARLINDO G. Contratura de Dupuytren: tratamento pela técnica da palma aberta. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 32, n. 4, p. 301-304, Abr. 1997.

• LECH, Osvandré et al. Membro Superior: Abordagem fisioterapêutica das patologias ortopédicas mais comuns. Rio de Janeiro: Revinter, 2005.

• MACHADO,C. M. Eletrotermofototerapia Prática. 3° Ed. São Paulo. Pancast, 2000.

 

Obs.:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seus autores.
- Publicado em 21/06/06

 


© 2006 - World Gate Brasil Ltda

Todos os Direitos Reservados