Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

  www.fisioweb.com.br 



Trabalho realizado por:

Juliana V. S Zinni
Flávia Aparecida Pussi
E-mail: juliana.zinni.fuzaro@gmail.com
Formadas em Fisioterapia pela Universidade Camilo Castelo Branco - UNICASTELO

Orientadora:
Profa. Gisela Naif Caluri
Co-orientador:
Sérgio Henrique Borin


Lesão de ligamento cruzado anterior
Uma revisão bibliográfica


RESUMO

Este trabalho consiste de uma revisão bibliográfica sobre lesão do ligamento cruzado anterior e seu tratamento fisioterapêutico.

O joelho é a maior articulação do corpo, estando bastante susceptível a lesões, o que contribui para a alta incidência de lesões do ligamento cruzado anterior.

A fisioterapia é um método terapêutico aplicado na recuperação dos pacientes com este tipo de lesão, submetido ou não a cirurgias. Baseia na utilização técnicas como cinesioterapia, eletroterapia, crioterapia e outras técnicas apropriadas para este tipo de lesão.

Procurou-se através desta revisão bibliográfica, uma melhor compreensão das estruturas que compõem a articulação do joelho, e das suas funções, sendo dado ênfase às lesões e tratamentos do ligamento cruzado anterior. Discutiu-se os métodos indicados pelos autores pesquisados, formando uma revisão atualizada sobre os tratamentos a serem seguidos.
 

1 - INTRODUÇÃO

O ligamento cruzado anterior, faz parte da articulação do joelho, estando localizado na parte central da cápsula articular, fora da cavidade sinovial. Durante a flexão o feixe ântero-medial tensiona-se e o feixe póstero-lateral relaxa sendo que esse processo é invertido durante a extensão. Com a ruptura do ligamento cruzado anterior o joelho perde a atuação referente a este ligamento. A alta incidência de lesões neste ligamento leva a uma evidência de instabilidade do joelho impõe uma solução terapêutica que seja bem sucedida, uma vez que esta lesão pode trazer conseqüências desagradáveis para as atividades da vida diária (ARAÚJO, 2003).

Baseados no fato de que a maioria dos pacientes portadores de lesão do ligamento cruzado anterior necessita de reabilitação, e sabendo-se que a fisioterapia tem atuado cada vez mais nesta área, é necessário que o profissional da fisioterapia saiba como atuar, auxiliando na reabilitação destes pacientes.

O propósito deste trabalho é de estudar as características anâtomo-patológicas dos pacientes com lesão do ligamento cruzado anterior, descrevendo os tratamentos fisioterapêuticos utilizados no período de reabilitação.

A elaboração desta pesquisa surgiu do interesse em aprender mais sobre a atuação da fisioterapia nesta área, evidenciando as repercussões desses procedimentos em lesões com ou sem indicações cirúrgicas.


2 - REVISÃO DE LITERATURA

2. 1 - ANATOMIA DO JOELHO

Segundo DÂNGELO & FATTINI (2000), a articulação do joelho, é considerada uma das maiores e mais complexas estruturas da anatomia humana. Sua articulação é do tipo gínglimo, permitindo o movimento de flexão, extensão e um certo grau de rotação. A articulação do joelho é formada por três ossos, fêmur, tíbia, patela (osso sesamóide) ao qual, por ser um osso sesamóide, permite movimentos diferentes dos outros, e as estruturas são cápsula articular, estruturas extracapsulares e intracapsulares, e membrana sinovial.

Para SPENCE (1991), a articulação do joelho é complicada e fácil de ser lesionada, pelo tipo de articulação e movimentos restritos, é uma articulação condilar sendo que sua superfície no côndilo medial femural é mais larga na parte anterior e menos encurvada do que a superfície do côndilo femural lateral, por esta diferença estrutural a fase final da extensão envolve movimentos do côndilo medial do fêmur sobre a tíbia, também chamado translação.

2.1.1 - Cápsula articular

Para DÂNGELO & FATTINI (2000) a cápsula articular é delgada, membranosa em sua parte posterior, em sua parte anterior é formada em grande parte pelo tendão do quadríceps, patela e ligamento patelar, ela se insere posteriormente na superfície articular dos côndilos femorais e linha intercondilar, se fixa nos côndilos tibiais e ao longo das linhas oblíquas se estendendo até a tuberosidade da tíbia. Esta ausência da cápsula entre o tendão do quadríceps, na face anterior do fêmur esta constituída a bolsa supra patelar que pode ser fechada ou isolada da cavidade articular do joelho. Posteriormente a cápsula articular apresenta uma fenda na qual o músculo poplíteo se origina, sendo esta reforçada constituindo o ligamento arqueado.

Conforme WEINSTEIN et al.(2000), os tecidos fibrosos densos ( tendão, ligamento e cápsula articular) são de suma importância na estabilidade e mobilidade do sistema musculoesquelético, eles se diferem em forma local, estrutura, composição e função, tendo em comum a inserção no osso e a resistência à cargas. Os tendões demonstram a força do músculo para o osso, o ligamento e a cápsula articular estabiliza a articulação entre o osso adjacente e permitem a direção do movimento. Quaisquer tipos de lesão que os afeta podem desestabilizar a articulação e levar a perda da função.

2.1.2 - Estrutura extracapsular e intracapsulares

De acordo com DÂNGELO & FATTINI (2000), os ligamentos extracapsulares são os ligamentos colaterais mediais e laterais. O ligamento colateral medial se origina no epicôndilo medial do fêmur e se insere na face ântero medial da tíbia, e sua superfície profunda esta contactada a cápsula articular e menisco medial. O ligamento colateral lateral se origina no epicôndilo lateral do fêmur estendendo-se até a cabeça da fíbula.

As estruturas intracapsulares são: os meniscos lateral e medial que são estruturas cartilaginosas situadas no côndilo da tíbia apresentam-se mais espessos em suas bordas, os ligamentos transversos que se unem às porções anteriores dos meniscos laterais e mediais, e ligamentos cruzados que são responsáveis pela estabilidade do joelho (DÂNGELO & FATTINI, 2000).

Segundo ROCKWOOD et al. (1994), os ligamentos cruzados foram descobertos por Galeno em 170 d.C., não sendo descrita sua função. O primeiro registro sobre uma ruptura de ligamento cruzado descrito foi em 1850. A descrição inicial da tríade de lesão do ligamento cruzado anterior, menisco medial e ligamento colateral medial, contribuindo desta maneira para um avanço no tratamento dos ligamentos cruzados. O ligamento cruzado anterior mede aproximadamente 38mm de comprimento e 10 mm de largura, originando-se na face póstero – medial do côndilo femoral lateral, inserindo-se na interespinha da tíbia, a maior parte do seu suprimento sangüíneo é dado pela artéria genicular média e sua inervação é feita pelo nervo tibial (ROCKWOOD et al., 1994).

Segundo DÂNGELO & FATTINI (2000), eles se estendem da fossa intercondilar do fêmur à tíbia, respectivamente, anterior e posterior a eminência intercondilar. Os ligamentos cruzados se encontram estirados em todos os movimentos, obtendo estiramento máximo com a perna em extensão, desta maneira o ligamento cruzado anterior impede o deslizamento do fêmur sobre a tíbia posteriormente, enquanto o ligamento cruzado anterior impede o deslizamento do fêmur sobre a tíbia para frente.

Para SPENCE (1991), os ligamentos cruzados recebem esta denominação pelo trajeto onde um cruza com o outro, por causa de suas estruturas pelos quais realizam muitas funções; quando o joelho está em extensão o ligamento cruzado anterior é esticado prevenindo a hiperextensão, estando o joelho flexionado, o ligamento cruzado posterior é esticado prevenindo o deslizamento posterior da tíbia.

Conforme WEINSTEIN et al. (2000), o ligamento cruzado anterior é a principal estrutura que controla o deslocamento anterior do joelho é composto por feixes ântero medial e póstero lateral, o feixe ântero medial estende e o póstero-lateral encurta durante a flexão.

AMATUZZI et al. (1992), referem em seus estudos que durante a flexão o ligamento cruzado anterior enrola-se sobre o ligamento cruzado posterior, a inserção tibial do ligamento cruzado anterior encontra-se à frente do eixo de flexão do joelho estando as demais inserções posteriores a este eixo. A porção ântero-medial do ligamento cruzado anterior tensiona-se desde os primeiros graus de flexão, enquanto a porção anterior do ligamento cruzado posterior faz a partir de 30 graus de flexão. O ligamento cruzado anterior tem função de estabilizar tíbia anteriormente, principalmente quando o joelho se encontra em extensão, e o ligamento cruzado posterior tem a função de estabilizar a tíbia posteriormente, quando o joelho se encontra em flexão.

Conforme CAMANHO (1996), O ligamento cruzado anterior é a principal estrutura que estabiliza o joelho sendo a mais forte, ele impede a anteriorização da tíbia em relação ao fêmur, sendo que a grande maioria das estabilidades ocorre por lesões nas fibras deste ligamento.




 

Figura 1 - Anatomia do joelho (NABARRETE, 2003).



2.2 - BIOMECÂNICA DO LCA E MECANISMO DE LESÃO

ROCKWOOD et al. (1994) citando Noyes, inúmeros testes descritos relatam que o ligamento cruzado anterior e osso são capazes de suportar um determinado peso antes da ruptura, sendo este valor para atividades que exijam esforços, já em atividades normais é exposto apenas 45Kg. Em adultos jovens o alongamento do LCA pode chegar até 25% do seu valor normal sem ruptura, tendo neste valor uma redução com o aumento da idade.

Para AMATUZZI et al. (1992), na avaliação clínica alguns aspectos devem ser levados em consideração, pois muitas vezes uma lesão leve para um esportista pode torná-lo incapaz de realizar suas atividades se não tratada, já para um individuo de vida sedentária uma lesão moderada pode ser solucionada com um tratamento conservador.

Segundo ROCKWOOD et al. (1994), as lesões do LCA ocorrem geralmente por mecanismos onde o estresse no ligamento é grande o suficiente para causar uma ruptura. As lesões podem ser parciais ou totais dependendo do movimento, força e alongamento, seu trauma pode ser direto ou indireto. Quase sempre a lesão é dada por uma manobra de torção, e desaceleração súbita geralmente seguida de estalos e hemartroses presente dentro de poucas horas, ou ainda abdução com rotação externa e hiperextensão.

Conforme WEINSTEIN et al. (2000), a laceração do cruzado anterior ocorre a partir de uma torção valga e rotação de joelho estando o pé firme no chão (exercício de cadeia cinética fechada).

Para AMATUZZI et al. (1992), a pequena frouxidão provocada por uma insuficiência do ligamento cruzado anterior poderá determinar no joelho dos esportistas, a necessidade de uma intervenção para corrigir uma instabilidade. É necessário diferenciar no tratamento das lesões ligamentares do joelho todos os grupos de risco e procurar, na escolha correta de uma conduta terapêutica, aquela mais adequada para o paciente.

Para LOUDON et al. (1999), a laceração do ligamento cruzado anterior ocorre por um trauma súbito com rotação do pivô, recurvamento e desaceleração brusca do movimento.

O mecanismo de lesão é ocasionado por uma hiperextensão, rotações com o pé fixo no chão, onde freqüentemente são observadas lesões de ligamento colaterais e mediais, ambas envolvendo mecanismo de desaceleração do movimento (CAMANHO, 1996).

Para NABARRETE (2003), as lesões do ligamento cruzado anterior podem ser graduadas em graus: I onde a lesão é leve, com presença de edema, sensibilidade local, com rompimento de alguns ligamentos sem perda funcional; II lesão do tipo moderada, onde grande parte dos ligamentos encontram-se rompidos seguido de instabilidade na articulação, não demonstrando perda completa da integridade do ligamento; III – lesão do tipo grave, havendo rompimento completo das fibras ligamentares.


2.3 - PRINCÍPIOS PARA AVALIAÇÃO CLÍNICA

Conforme FATARELLI (2003), o ligamento cruzado anterior é um ligamento resistente podendo ocorrer lesões por vários fatores. A ruptura deste ligamento ocasiona respostas neuromusculares e biomecânicas complexas. A variabilidade dos indivíduos não é apenas anatomo-fisiológica, mas também pode ser causada por agentes da própria lesão e pela sua extensão.

O mesmo autor ainda cita que o primeiro princípio para estabelecer o programa fisioterapêutico é realizar uma avaliação individual considerando os dados coletados durante a
anamnese e testes específicos e complementares da clinica médica e fisioterapêutica.

 

Figura 2 - Posicionamento do ligamento cruzado anterior (CASTRO 2003)



2.3.1 - Exame físico

Para FATARELLI (2003), o exame físico deve evidenciar a presença de edemas, hipertrofia do quadríceps, cicatrizes de traumas ou cirurgias anteriores e ainda alterações na marcha e limitação de movimento, característica típica nas lesões do joelho. Na palpação pode estar presente a dor, edema, anormalidades na superfície articula e crepitações, sendo estes fatores informações importantes para um inicio correto de tratamento. Pode ocorrer ainda limitação da mobilidade articular, principalmente devido à dor e ao espasmo, debilidade muscular, rigidez, contratura e bloqueio articular. O movimento passivo pode apresentar-se diminuído por algumas das razões citadas acima ou ainda pela frouxidão ou ruptura ligamentar, podendo assim, haver presença de híperextensão, que deve ser investigada bilateralmente para distinguir se há um aumento da rotação, no sentido anterior em relação ao fêmur, ou se há um componente genético.

2.3.2 - Anamnese

Deve inicialmente ser investigado sobre o movimento que causou a lesão, onde o paciente explicará na anamnese como foi o ocorrido. O aumento de volume na articulação (edema) também deve ser investigado, se não for evidente pode ser característica de um não extravasamento deste líquido. É importante lembrar que a presença da hemartrose aguda é indicadora de lesão do LCA, podendo ser confirmada por exames complementares. (ROCKWOOD et al. 1994).

A dor pode ser intensa e duradoura, mínima passageira ou estar entre os dois extremos. Sendo descrita como dor localizada profundamente na articulação, podendo estar sem localização específica, freqüentemente é localizada na parte anterior ou lateralmente. Sendo a pontada intensa. A dor pode se tornar leve e constante ou desaparecer completamente, (GARRICK & WEBB, 2001).

De acordo com SNIDER (2000), um terço dos pacientes relatam estalos no momento da lesão, o derrame articular pode ocorrer com rapidez posteriormente à lesão, a maioria dos pacientes apresenta dor ao realizar movimentos e dificuldade na deambulação, em um estágio mais tardio pode ocorrer falseios seguidos de dor e edema, que podem se tornar reptitivos.
Segundo AMATUZZI et al (1992), a hemartrose pode ser provocada por uma lesão do ligamentos cruzado anterior.

 

Figura 3 – Fibras do ligamento cruzado anterior lesionadas (www.grupodojoelho.com.br, 2003).


 

Figura 4 – anatomia do ligamento cruzado anterior juntamente com os meniscos
(http://orthoinfo.aaos.org/fact/thr_report.cfm?Thread_ID=374&topcategory=Spanish, 2003).


2.4 - EVOLUÇÃO E EXAME CLÍNICO

Como apresentado por HOPPENFELD (2001), a inspeção visual deve ser iniciada assim que o paciente chegar para ser avaliado. Deve-se realizar uma análise cinésiológica da marcha em todos as suas fases e observar as alterações e observar como o paciente deambula, se este apresenta todas as fases da marcha integras, pedir para o paciente se despir acompanhando cuidadosamente cada etapa feita pelo paciente na tentativa de detectar a utilização movimentos anormais, para compensar qualquer tipo de dor ou rigidez. Deve ser investigada a presença de edema, simetria de todos os músculos, verificando se não há existência de hipotrofias, e anormalidades na angulação denominadas de joelho em valgo, varo e recurvato.

Para CAMANHO (1996), a inspeção visual estática nos direciona para achados de desalinhamento dos membros, alterações no contorno do joelho, presença de edemas, equimoses, escoriações e qual carga que este membro esta submetido no momento, dificilmente se encontrará limitação da flexão e extensão, exceto quando esta vem acompanhada de dor. Já na inspeção dinâmica deve-se observar como se encontram a marcha deste paciente, a presença de bloqueios intra-articulares e a movimentação de flexão e extensão do joelho.

Segundo FATARELLI (2003) no que diz respeito aos sinais e sintomas da lesão do ligamento cruzado anterior demonstra que na maioria das vezes eles são característicos como dor até 24hs, edema de imediato ou até uma hora após a lesão inicial, estalido no momento da lesão, limitação da ADM e dificuldade para realizar outros tipos de atividades. Porém com a melhora do quadro o paciente pode voltar as atividades da vida diária, podendo apresentar recidivas, habitualmente apresentadas em lesões ligamentares crônicas. Normalmente as lesões crônicas são descritas por falseios articulares, tendo como principal problema o comprometimento de outras estruturas não atingidas pela lesão inicial. Com o passar do tempo o individuo, pode apresentar um agravamento do quadro e relatar dificuldades em suas AVDs.


2.5 - PALPAÇÃO ÓSSEA

Deve ser realizada com o paciente sentado na borda da maca, posição esta mais eficaz para a avaliação, o avaliador pode usar suas pernas para fixar as pernas do paciente, no caso do paciente impossibilitado de se sentar, deita-lo em decúbito dorsal com o joelho fletido a 90 graus. A articulação deve ser examinada em flexão, pois desta maneira a pele se adere melhor aos ossos tornando os contornos mais nítidos estando os músculos, tendões e ligamentos em torno do joelho relaxados durante a flexão. A orientação durante a palpação é dada pelo posicionamento correto das mãos do examinador, bem como um bom conhecimento na parte anatômica a ser examinada, (HOPPENFELD, 2001).

Para CAMANHO (1996), a palpação deve ser feita de maneira detalhada em todas estruturas do joelho incluindo ligamentos e linhas articulares trazendo desta forma informações importantes sobre a lesão, deve-se descartar ainda qualquer tipo de luxação ou subluxação da patela e instabilidade femoropatelar, para que o diagnóstico seja mais preciso.

De acordo com HOPPENFELD (2001), deve se palpar na face medial a linha entre o fêmur e a tíbia, o platô tibial medial, o tubérculo tibial até a saliência do platô, côndilo femoral medial, tubérculo adutor localizado entre o músculo vasto medial e tendinosos da coxa. Na face lateral palpa-se a proeminência óssea da face lateral que são: platô tibial lateral, tubérculo lateral, côndilo femoral lateral que possui grande parte recoberta pela patela, cabeça da fíbula no mesmo nível que o tubérculo tibial, sulco troclear responsável pelo deslizamento da patela e a própria patela que é facilmente palpada quando o joelho esta em extensão.


2.6 - PALPAÇÃO DOS TECIDOS MOLES

HOPPENFELD (2001) observa que na face anterior deve ser examinada a integridade do quadríceps, tendão infrapatelar, bolsa infrapatelar superficial, bolsa pré-patelar, bolsa pés anserine (pata de ganso). Na face medial deve ser verificados a integridade do menisco medial, ligamento colateral medial, músculo sartório, grácil e semitendinoso. Já na face lateral as estruturas a serem examinadas são: menisco lateral, ligamento colateral lateral, ligamento tibiofibular ântero superior, tendão do bíceps femoral, trato iliotibial e nervo fibular comum. Por fim, na face posterior são verificados a fossa poplítea, nervo tibial posterior, veia poplítea, artéria poplítea e o músculo gastrocnêmico.


2.7 - TESTES ESPECIAIS

De acordo com HOPPENFELD (2001), para se testar a instabilidade do joelho e integridade do ligamento cruzado anterior, o paciente deve estar em decúbito dorsal, com os joelhos flexionados a 90 graus e pés apoiados. O fisioterapeuta deve fixar os pés do paciente, sentando-se sobre eles, as mãos devem ser posicionadas de modo que envolva o joelho e os polegares estejam sobre as linhas articulares (medial e lateral), os outros dedos apóiam-se nas inserções dos tendões. Em seguida deve-se deslocar a tíbia anteriormente, se esta deslizar demonstrando sinal de deslocamento anterior significa que há uma lesão no ligamento cruzado anterior. Este teste é conhecido com teste de gaveta.

Para CIPRIANO (1999), o teste de gaveta deve ser realizado com o paciente em decúbito dorsal com a perna fletida e pé repousando sobre a maca o fisioterapeuta deve colocar a mão por trás do joelho flexionado e puxar a tíbia exercendo uma tração no sentido anterior. Conforme o movimento apresentado determina-se se há lesão do ligamento cruzado anterior e o grau desta lesão.

Segundo GARRICK et al. (2001), o teste que nos dá a maior certeza de uma lesão no ligamento cruzado anterior é o teste de Lachman que se diferencia do teste de gaveta apenas na angulação da flexão do joelho, neste deve estar com a flexão entre 20 graus e 30 graus, como no teste de gaveta, deve se observar o deslocamento anterior realizado entre o fêmur e a tíbia, devendo ser considerado durante o deslocamento a firmeza do ponto final deste deslocamento o que vai ser muito importante para determinar a gravidade da lesão ocorrida no ligamento cruzado anterior.

Os mesmos autores nos dizem ainda que o primeiro joelho a ser examinado deve ser o não lesionado, par obter a calma do paciente e estabelecer qual o normal de deslocamento da articulação deste paciente.

De acordo com SNIDER (2000), o teste de Lachman pode ser feito de uma maneira alternativa, o paciente deve estar decúbito dorsal com a perna fletida de 15 graus a 20 graus o examinador deve colocar seu joelho embaixo do joelho do paciente pressionando a parte proximal da coxa, estabilizando assim o fêmur. Com a outra mão deve se envolver a parte proximal da tíbia, que será tracionada no sentido anterior, este método é muito utilizado quando a perna do paciente for volumosa, pois da uma maior segurança para o fisioterapeuta na hora de examina-la. Se ocorrer o deslizamento anterior da tíbia o resultado do teste é considerado positivo.

Para CIPRIANO (1999), no teste de Lachman o paciente deve estar em decúbito dorsal com a perna em flexão de 30 graus, o fisioterapeuta deve com uma mão estabilizar a coxa e com a outra mão puxar a tíbia em sentido anterior, os sinais positivos apresentados são amolecimento e rotação anterior da tíbia sobre o fêmur. É um teste mais confortável, pois o paciente estará com o joelho semi fletido o que evitará espasmos na musculatura durante a realização do teste.

Segundo ROCKWOOD et al. (1994), o teste de MacIntosh, nos evidência a mudança e eixo do joelho, fato este que muitas vezes é descrito pelo paciente durante a anamnese. Este teste é realizado com o joelho em extensão e estresse em valgo, é realizado com uma mão no joelho e a outra no tornozelo, deve-se durante o teste flexionar o joelho, o sinal a ser mostrado pelo joelho lesionado é o de luxação do platô tibial para frente quando a flexão estiver em cerca de 20 graus a 40 graus.

Conforme WEINSTEIN et al. (2000), o teste do deslocamento do pivô (pivot shift) demonstra subluxação anterior e redução da tíbia com redução da tíbia com a flexão e extensão do joelho de 10 graus a 40 graus, em decorrência de ruptura do ligamento cruzado anterior.

Para LOUDON et al. (1999), o teste de desvio do pivô, o paciente deve permanecer em decúbito dorsal com a perna relaxada e quadril fletido a 30 graus com uma discreta rotação interna o fisioterapeuta deve estabilizar o pé do paciente com uma mão, enquanto a outra deve permanecer perto da cabeça da fíbula, deve-se aplicar uma força em valgo sobre o joelho, enquanto é mantida uma rotação interna da tíbia, os achados positivos são que em aproximadamente 30 graus a 40 graus a tíbia sofrerá uma subluxação seguida de um som surdo.

Os mesmos autores ainda, nos descrevem o teste da instabilidade rotatória ântero-lateral, este é uma modificação do teste de MacIntosh, que geralmente é usado para pacientes com pernas mais pesadas ou com dificuldade de ficarem relaxados durante a avaliação, neste teste o paciente deve rolar por sobre o lado íntegro com o lado medial do pé repousando sobre a mesa de exame e a pelve rodada aproximadamente 30 graus posteriormente. O joelho está, portanto rodado internamente e em extensão. Quando ele for flexionado passivamente, será obtida a redução sugerida por MacIntosh a 20 graus a 40 graus.

Segundo ROCKWOOD et al. (1994), existe ainda o teste de Losee que é feito pelo fisioterapeuta segurando com uma mão o pé da perna lesionada e com a outra mão deve estar sobre a patela e o polegar deve estar posicionado sob a cabeça da fíbula. No inicio do teste o joelho deve estar flexionado a 40 graus, durante o teste a perna deve ser estendida e o pé rodado internamente, criando assim um valgismo que ira empurrar a cabeça da fíbula anteriormente, podemos então sentir o platô tibial subluxando e o teste nos indicando um sinal positivo.

Conforme CIPRIANO (1999), no teste de Losee o paciente deve estar em decúbito dorsal o fisioterapeuta deve segurar a perna do paciente com uma mão realizando rotação externa flexionando-a no sentido do abdômen até 30 graus, com a mão oposta segurar o joelho estando o polegar atrás da cabeça da fíbula e seus dedos em cima da patela, será então realizado o estresse em valgo e uma pressão para frente ao mesmo tempo em que o joelho é estendido. O teste estará positivo quando o fisioterapeuta sentir a subluxação anterior da tíbia.

De acordo com HOPPENFELD (2001), os teste para verificação de grandes e pequenos derrames articulares. O teste para grandes derrames deve ser feito quando a uma suspeita da presença de grande quantidade de líquido, deve se estender a perna do paciente fazendo com que ele relaxe a musculatura principalmente de quadríceps, logo a seguir deve-se empurrar a paleta para o interior do sulco troclear e soltá-la rapidamente, a confirmação da existência de líquido se dá pela força feita exercida dentro da articulação pela movimentação deste fluido para as laterais. Já no teste para derrames menores, não há existência de liquido suficiente para deslocando a patela, sendo assim o teste deve ser realizado com a perna do paciente estendida e forçar a passagem do fluido contido no espaço suprapatelar, na face lateral e medial do joelho, quando o fluido estiver sendo forçado, deve-se percutir suavemente para ter a confirmação da presença de liquido nas faces laterais e mediais do joelho.

Para SNIDER (2000), o teste de sinal de calombo demonstra o excesso de líquido articular, este teste localiza pequenos derrames intra-articulares, deve ser realizado com o joelho em extensão e repouso sobre a maca, deve –se deslizar a mão para cima, movimentando o líquido articular ao longo da área medial à patela, em seguida deve-se deslizar o líquido para baixo na parte medial do joelho, o excesso de líquido criará um calombo que pode ser verificado.

Segundo SNIDER (2000), o teste de joelho lateral é realizado com o paciente em decúbito dorsal com o joelho estendido, se o paciente apresentar incapacidade de estender totalmente o joelho no lado com lesão é indicador de lesão de ligamento cruzado anterior.

Para CIPRIANO (1999), teste de Slocum o paciente deve estar em decúbito dorsal com o pé sobre a maca em rotação interna de 30 graus, o fisioterapeuta estabiliza o pé do paciente e com suas mãos exerce uma pressão no sentido anterior, é semelhante ao teste de gaveta sendo sinal positivo de deslocamento da tíbia no sentido anterior.

O mesmo autor cita o teste de esforço em abdução, o paciente deve estar na posição decúbito dorsal, o fisioterapeuta deve efetuar o teste em extensão, a perna deve ser puxada lateralmente, se houver o afastamento entre a tíbia e o fêmur é indicio de lesão.


2.8 - EXAMES COMPLEMENTARES

Conforme FATARELLI (2003), exames como radiografia e ressonância magnética auxiliam na comprovação de lesão ou fraturas do joelho e ainda na reconstrução ligamentar analisando os pontos de fixações corretos para o enxerto. As imagens apresentadas pela ressonância magnética ajudam no diagnóstico da lesão do ligamento cruzado anterior por ser um exame fidedigno além de não ser invasivo, confirmando assim a lesão ligamentar.


2.8.1 - Ressonância Magnética

De acordo com ROCKWOOD et al.(1994), ressonância magnética tem auxiliado na avaliação da integridade dos ligamentos cruzados, porém o ligamento cruzado anterior só é visto na ressonância magnética se a técnica for bem efetuada. Para se considerada uma boa imagem, ela deve conter, cortes contínuos, coronais e sagitais. Quando o ligamento cruzado anterior estiver integro será observado a estrutura ligamentar escura e homogênea, com os cortes bem feitos pode ser acompanhado o trajeto para verificação da integridade do mesmo.

Segundo GARRICK et al.(2001), a ressonância permite a visualização do ligamento, porém uma avaliação feita pelo teste de Lachman pode se apresentar mais eficaz para a avaliação da estrutura funcional do joelho. Sendo assim a ressonância magnética não é um exame rotineiramente solicitado. A Ressonância magnética é um teste com alto custo financeiro e se demonstra menos eficaz que a artroscopia.

Para CAMANHO (1996), é um exame importante para avaliar lesões ligamentares, apresenta poucas falhas sendo estas somente em lesões parciais. Nos fornece diagnósticos mais precisos sobre o local da lesão, presença de fragmentos e pode nos conduzir a avaliação sobre possíveis seqüelas.


2.8.2 – Artrografia


Para ROCKWOOD et al. (1994), a artrografia na década de 80 era um dos exames mais comuns, com o surgimento da ressonância magnética sua utilização teve um déficit devido suas desvantagens de imagem, pois sua visualização exige mais habilidades do examinador. Na artrografia os ligamentos são vistos como linhas retas em toda sua extensão, as rupturas são identificadas por curvas onduladas ou ausência destas linhas.


2.8.3 - Tomografia computadorizada


Conforme ROCKWOOD et al.(1994), a tomografia não é eficaz devido a visualização eventual dos ligamentos cruzados.

Segundo AMATUZZI etal. (1992), este tipo de exame não conseguiu corresponder ao esperado, que era diagnosticar as lesões por um método invasivo, pois para um diagnostico preciso as imagens devem ser perpendiculares para uma melhor visualização das estruturas. O uso da tomografia ficou restrito sendo utilizada somente como auxílio em diagnóstico de outros exames complementares.


2.8.4 - Exame artroscópico

Conforme ROCKWOOD et al. (1994), este exame deve ter uma exploração global de todo o ligamento, a visualização é freqüentemente normal, porém deve ser avaliado os 20% proximais do ligamento para se obter um diagnóstico preciso.

Segundo GARRICK et al. (2001), a artroscopia é um exame preciso na avaliação do ligamento cruzado anterior, ela permite a visualização de rupturas e identifica ligamentos intactos.

Para AMATUZZI et al. (1992), a artroscopia permitiu aos ortopedistas um grande avanço. Pode-se detectar com precisão lesões internas do joelho e adequar condutas necessárias.

Conforme NABARRETE (2003), a artroscopia consiste em várias incisões de tamanho pequeno pelas quais são inseridos os instrumentos que possuem um sistema de lentes e iluminação o qual possibilita uma melhor visualização das estruturas de dentro da articulação, acoplando esse artroscópio há uma câmara de televisão em miniatura, que transmite as imagens para uma tela maior, o qual permite uma visualização dos meniscos, cartilagens e ligamentos, podendo em determinados casos, diagnosticar tipo e grau da lesão e se necessário, a reparação ou correção da lesão. O tempo de duração e recuperação depende da complexidade do problema. De forma que cada artroscopia é única para cada paciente e o tempo de recuperação dependerá do mesmo.


2.8.5 - Exame radiográfico (RX)

De acordo com GARRICK et al. (2001), no caso de uma lesão do ligamento cruzado anterior deve-se realizar radiografias em incidências ântero-posterior e perfil. Geralmente nas lesões de ligamento cruzado anterior o encontro de fraturas é raro, com exceções do platô tibial, onde se insere o ligamento cruzado anterior são mais evidentes.

As radiografias com incidência antero-posterior, perfil e merchant são negativas, porém podem revelar uma avulsão na inserção tibial do ligamento cruzado anterior ou ainda da margem cápsular lateral da tíbia (SNIDER 2000).

Segundo AMATUZZI et al. (1992), radiografias deverão ser feitas em todos casos de lesões, ela é fundamental para afastar fraturas articulares, deslocamentos epifisários ou para detectar pequenos arrancamentos que poderão caracterizar lesões de natureza grave.

Conforme CAMANHO (1996), é fundamental para avaliação, pois demonstrará a presença de fraturas associadas demonstrando assim a gravidade, geralmente é realizada em perfil com o joelho em flexão ou ântero-posterior. Ao persistirem dúvidas sobre presença de avulsões pode ser realizada ainda a radiografia em incidência oblíqua.

O mesmo autor cita que, pode ser realizada a radiografia em estresse onde o joelho é submetido a um deslocamento em valgo, varo e também ântero-posterior com diferentes cargas e graus de flexão do mesmo modo que é realizado nos exames clínicos, é utilizado para comparar os graus de deslocamento da tíbia em relação ao fêmur.


2.9 - MÉTODOS DE TRATAMENTO

Para ROCKWOOD et al. (1994), a deficiência do ligamento cruzado anterior permite o desenvolvimento de condutas em métodos operatórios ou não operatórios para o tratamento. A comparação é pouco difícil entre os estudos pelas muitas variáveis encontradas: duração, retrospectivos versus prospectivos, incidência de patologia meniscal e ligamentar associada, lesão cartilaginosa associada, alinhamento do joelho e características do paciente como, peso condicionamento e estilo de vida.

O mesmo autor relata que, o ligamento cruzado anterior não tratado adequadamente pelo método conservador, leva a uma frouxidão anterior, instabilidade rotatória e rotura meniscais, tendo um aumento nas alterações radiográficas da diminuição do espaço articular e osteoartrite.

A principal dificuldade ao tratar de indivíduos com este tipo de lesão é prever a instabilidade funcional que pode seguir-se, já o prognóstico é mais difícil de ser avaliado, pode-se dizer que um pequeno número de pacientes com lesões isoladas de ligamento cruzado anterior podem evoluir ou não apresentar nenhuma instabilidade funcional em suas atividades práticas,
porém em um número um pouco maior de pacientes apresentarão algum tipo de instabilidade (ROCKOOD et al., 1994).

Para SNIDER (2000), o tratamento de uma lesão de ligamento cruzado anterior deve ser diferenciado de acordo com a idade do paciente, prática de atividades e presença de lesões associadas.


2.9.1 - Tratamento conservador

O programa de tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível visto que, os princípios para um tratamento adequado são de não deixar estabelecer qualquer tipo de atrofia muscular que possa ocorrer posteriormente à lesão, causando assim uma deficiência no joelho lesionado (ROCKWOOD et al., 1994).

O mesmo autor relata que a função do ligamento cruzado anterior é de impedir a movimentação anterior tendo em vista a sua ruptura é importante reabilitar a musculatura posterior da coxa e preservar a força do quadríceps. Podem ser aplicados métodos que incluem a natação e fortalecimento sem sustentação de peso, como andar de bicicleta. Tendo a força do paciente atingido os padrões aceitáveis, o mesmo deve receber suportes como órteses e retornar às suas atividades de vida diária.

De acordo com SNIDER (2000), o tratamento inicial deve ser repouso aplicação de crioterapia, compressão e elevação do membro, associado com imobilização e uso de muletas se necessário. O tratamento pode variar de fisioterapia e aplicação de órteses.

Para AMATUZZI et al. (1992) na lesão parcial ou total do ligamento cruzado anterior, deve ser considerado o tipo de paciente, suas atividades diárias e suas pretensões físicas. Para praticantes de esportes o tratamento conservador nas lesões de ligamento cruzado anterior é extremamente prejudicial, pois provoca uma diminuição sensível no nível e no tipo de atividade, sendo na maioria dos casos impossível o retorno à atividade física.

O mesmo autor diz que, a conduta terapêutica deverá ser instituída por imobilização, se possível removível para possibilitar o uso de gelo local em aplicações de 1/2 horas 3 vezes ao dia ou mais. A imobilização rígida se necessária deve ser restrita ao menor tempo possível. A retirada da carga corporal é fundamental, sendo obrigatório o uso de muletas continuadamente. Exercícios fisioterapêutico são instituídos, específicos para o tipo de lesão ligamentar. O tratamento pode, muitas vezes ser conservador, mas tratamento conservador não significa não tratar. A marcha deve ser proibida para não se agravar mais ainda lesão e seu reinício deve ser gradativo. O uso de antiinflamatórios é aconselhado, pois diminui a presença de hematomas, facilitando os exercícios fisioterapêuticos. Finalmente o paciente deve estar ciente dos riscos de uma possível instabilidade futura que poderá necessitar de uma reconstrução (AMATUZZI et al., 1992).

Segundo GABRIEL et al., (2001), a fase de imobilização tem como objetivo a diminuição de edemas que pode ser feita por tubo gessado ou calhas com o intuito de proteger a articulação de movimentos bruscos, deve-se realizar a elevação da extremidade facilitando o retorno venoso serão iniciados exercícios isométricos e deambulação será com carga sendo indicada somente pelo médico ortopedista.

O mesmo autor descreve que a fase de pós-imobilização tem como objetivo evitar edemas e ganhar fortalecimento muscular juntamente com o ganho de ADM. É iniciada logo após a retirada do tubo gessado sendo colocada uma bandagem elástica até que a musculatura do paciente apresente um tônus muscular. Nesta fase pode ser utilizado gelo como analgésico e antiinflamatório. Na fase de pós-imobilização é iniciado exercício de cadeia fechada e posteriormente mais ou menos duas ou três semanas é iniciado o fortalecimento de exercícios de cadeia aberta.

FATARELLI (2003) relata que, a atrofia do quadríceps se dá em resposta de adaptação ao sistema de controle motor para evitar o deslocamento anterior da tíbia. Assim deve-se promover um fortalecimento desta musculatura que ajudará a evitar sobrecargas na articulação que conduzam a um deslizamento anterior da tíbia. Após três semanas da lesão do ligamento cruzado anterior deve ser investigado se há instabilidade articular ou entorses recidivos, nesta fase é possível iniciar com exercícios de resistência em toda musculatura da perna. No processo final de reabilitação os exercícios devem ser somente voltados para as atividades diárias do indivíduo, devendo ser variados velocidades e movimento que estes serão realizados.
Conforme NUNES et al., (2003), o tratamento das lesões de ligamento cruzado anterior é dividido em duas fases distintas. O tratamento na fase aguda e crônica. A fase aguda inicia-se logo após o trauma e aponta principalmente por diminuir a dor e a inflamação, restabelecer amplitude de movimentos e restituir o controle muscular e proteção contra novas agressões, é feito uso de compressão e gelo associados ou não a analgésicos, exercícios de flexo-extensão assistidos e alongamentos requerendo o aumento da ADM, uso de muletas para descarga parcial do peso, até que se restabeleça completamente a ADM e interrompa o processo inflamatório.

O mesmo autor ainda cita que na fase crônica o início do tratamento é atingido depois das metas anteriores, e tem por base quatro parâmetros que são: a) Treinamento muscular, tem seu inicio de uma maneira mais intensa após a fase aguda, sua intenção é aumentar a resistência e força dos grupos musculares que cruzam o joelho, deve ser dado maior destaque aos grupos musculares posteriores como isquiotibiais e gastrocnêmio. Os exercícios são realizados em cadeia aberta e fechada, visando aumentar a resistência e força dos músculos trabalhados, os exercícios de cadeia aberta devem ser usados com muito discernimento, pois podem provocar lesões na articulação femoropatelar, e os de cadeia fechada provocam a anteriorização da tíbia ,sendo por isso os mais recomendados. b) Treinamento proprioceptivo é definido como a capacidade inconsciente de sentir o movimento e posição de uma articulação no espaço. A propriocepção é trabalhada por meio de exercícios de equilíbrio, postura do joelho no espaço, tempo correto de atuação dos músculos flexores e outros. A repetição extenuante deste treinamento consciente fará com que o mesmo se torne automático, e inconsciente preparando o paciente a usar seus músculos flexores antes de colocar o pé contra qualquer obstáculo, mesmo o solo.Varias técnicas existem para se treinar a propriocepção do joelho e em média se necessita de quatro a seis semanas de trabalho para um bom resultado final. c) Tratamento conservador com órteses protetoras que pode ser utilizado na volta do paciente ao esporte, visto que as mesmas impedem a anteriorização da tíbia apenas quando são submetidas a pequenos esforços e não o fazem quando submetidas a esforços funcionais. É relato uma melhora funcional com o uso das órteses, que consciente ou inconscientemente aumentam a atenção do paciente para com seu joelho, diminuindo assim as oportunidades de novos falseios. d) Reeducação esportiva visto que todas atividades esportivas que envolvem saltos, giros, mudanças bruscas de direção e velocidade ocasionam stress ao joelho com deficiência de ligamento cruzado anterior, adequando com isso chances de aparecimento dos falseios de repetição. A prática de atividades esportivas deve ser estimulada com baixo risco para o joelho.

Para ROSA (2001), os objetivos do tratamento devem ter como meta o desenvolver e manter as qualidades articulares como propriocepção, suprimento nutricional e propriedades mecânicas, desenvolver e manter as qualidades físicas como estabilidade articular e mobilidade articular, desenvolver e manter qualidades musculares e qualidades fisiológicas, desenvolver e manter habilidades motoras como coordenação, sinergia e destreza, desenvolver e manter qualidades funcionais, pricipalmente as atividades de vida diária. Na conduta fisioterapêutica deve ser composta por termoterapia para diminuição da dor, eletroterapia, cinesioterapia para restabelecer qualidades fisiológicas, propriocepção, suprimento nutricional e propriedades mecânicas e físicas da articulação além se ser utilizada para desenvolver e manter qualidades fisiológicas, restabelecer habilidades motoras.

Segundo PEPPARD (2001), a reabilitação do ligamento cruzado anterior, necessita de restauração da amplitude de movimento, força e da capacidade funcional. A reabilitação deve ser realizada com um nível de esforço adequado, melhorando assim a cicatrização da lesão. Os equipamentos utilizados como prancha, devem proporcionar resistência zero para esta articulação, deve ser fornecido em cargas que sejam próximas da suportada pelo homem, onde a graduação será escolhida visando uma segurança para que o paciente não sofra uma nova lesão. Quanto aos exercícios que necessitam de força do joelho, devem ser variados de acordo com o que o paciente suportar. Os exercícios de cadeia fechada, são indicados, pois darão ao joelho um tipo de estress diferente, neste tipo de exercício o quadríceps, os músculos posteriores da coxa e os glúteos são ativados reduzindo as forças de rotação da tíbia, que estariam presentes nos exercícios de cadeia aberta. Quando a cicatrização tecidual estiver apropriada, estando a força e ADM adequadas, o paciente deve retornar gradativamente as suas atividades de vida diária. No caso de um atleta deve-se incluir na reabilitação o estress que o mesmo sofre durante a sua atividade esportiva.

Para AYALA (2003), durante a fisioterapia é realizada de acordo com a alteração a ser tratada, o grau de dor e deficiência. A meta do tratamento é de aliviar a dor, desenvolver a potência e força muscular e manter íntegra a amplitude do movimento, sendo utilizados como recursos para aliviar a dor a aplicação de calor ou frio com finalidade de tirar inflamação e dor nos casos crônicos, hidroterapia, que pelo calor e apoio da água, aliviando a dor e facilitando o movimento, crioterapia nos casos agudos, podendo ainda ser usado a acupuntura para o alivio da dor. Já no desenvolvimento da força muscular e da mobilidade do membro pode ser conseguido por exercícios isométricos e técnicas de mobilização passiva, técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptivas e técnicas com o intuito de induzir reações posturais normais, exercícios de resistência com peso, e quando possível, exercícios de resistência a grandes pesos, pode ser utilizado com recursos ainda a hidroterapia, o uso da cama elástica com intuito de trabalhar a propriocepção e ganho de amplitude de movimento. O fisioterapeuta durante a sua terapia deve estar atendo os efeitos do tratamento e se necessário mudar, adaptar ou interromper as sessões.


2.9.2 - Tratamento pré-cirúrgico

Relata FATARELLI (2003) que, no pré-cirúrgico devem ser estabelecidas algumas medidas para que seja obtido o restabelecimento total da ADM, ausência de edema e dor, diminuição do padrão da marcha flexora, recuperação da força muscular e preparação psicológica para a reconstrução. Essas medidas fisioterapêuticas têm demonstrado uma rapidez na recuperação pós-cirurgica.


2.9.3 - Tratamento cirúrgico

Conforme NABARRETE (2003), o enxerto do tendão patelar, possui propriedades que indicam que seu tecido possui maiores propriedades biomecânicas, sendo retirado do mesmo joelho a ser operado. Tal cirurgia consiste na retirada de um fragmento ósseo da patela, o tendão patelar e um fragmento ósseo da tíbia. Este tendão é resistente e as presenças de fragmentos ósseas propiciam uma boa fixação do enxerto. A cirurgia é realizada retirando-se primeiramente o enxerto do tendão patelar em seguida é realizada a avaliação artroscópica da articulação através das vias infrapatelares medial e lateral, tratando as lesões artroscopicamente. Finalizada a artroscopia é realizada a lavagem articular com soro fisiológico e iniciada a reconstrução ligamentar. Para isto se utiliza um fio guia que será passado através da cortical medial do terço superior da tíbia, direcionada para o ponto isométrico da inserção do ligamento cruzado anterior, ao se direcionar o guia corretamente é feita à perfuração com uma broca formando um túnel tibial, este mesmo processo se realiza na perfuração no fêmur. Nos fragmentos ósseos são colocadas amarras de aço que servirão como sistema de fixação do enxerto através dos túneis perfurados. Após a colocação do enxerto na posição correta é realizada a fixação ao fêmur e à tíbia com as amarras de aço e os parafusos. Dando a eles o máximo de tensão possível como joelho à 30 graus e a perna rodada externamente. Apesar de suas desvantagens tais como: ruptura do tendão patelar; disfunção fêmuro-patelar; alterações radiológicas e outras é atualmente a mais utilizada, podendo conter algumas alterações no seu procedimento, mas acima de tudo com resultados satisfatórios, e vantagens como: menor tempo para a recuperação, retorno as atividades físicas mais rápido. Com diminuição do tempo cirúrgico e melhor aspecto estético, por sua incisão ser pequena. A recuperação depende também de um acompanhamento fisioterápico logo após a cirurgia, para que não se tenha nenhuma seqüela.

Para ROSA (2003), em uma reconstrução intra-articular do ligamento cruzado anterior com enxerto do tendão patelar, o ligamento cruzado anterior rompido é removido e são perfurados túneis ósseos em tíbia e fêmur. A incisura intra-condilar pode ser alargada caso esteja muito estreita. O terço central do tendão patelar com pedaços ósseos nas duas pontas é então pego e colocado em furos preparados na tíbia e fêmur. A fixação do enxerto é conseguida com suturas e reforçada com parafusos sem cabeça ou presilhas. Os locais ósseos doadores são cobertos com o osso esponjoso retirado dos furos na tíbia e fêmur.

Conforme ROCKWOOD et al. (1994), considerando a cirurgia necessária, o ortopedista dispõe de três alternativas: separação primária, reconstrução intra-articular e reconstrução combinando a intra e extra-articular, porém antes de estabelecer o método a ser utilizado é importante estabelecer pré requisitos que mostrarão o sucesso da operação. Para uma reconstrução ser bem sucedida o paciente deverá ter todos movimentos funcionais, e ter o mínimo de complicações futuras.

O mesmo autor relata que o ligamento reparado deve ser adequadamente protegido. A substituição do ligamento lesionado deve ser por uma estrutura de igual resistência.

Conforme WEINSTEIN et al. (2000), o tratamento das lesões do cruzado anterior têm como opções indicações cirúrgicas e não cirúrgicas sendo aplicadas para cada caso, sendo assim as indicações cirúrgicas são mais comuns em idosos e indivíduos jovens atletas. A reconstrução do ligamento cruzado anterior pode ser feito pela substituição dos tendões do grácil e semimembranoso, estas estruturas podem ser colocadas pelo artroscópio evitando formação de cicatrizes e diminuindo complicações tardias. O programa de reabilitação começa no dia subseqüente a cirurgia podendo se estender até 12 meses sendo esta duração dependente do nível de atividades que o paciente deseja adquirir (WEINSTEIN et al., 2000).

Segundo AMATUZZI et al. (1992), na reconstrução do ligamento cruzado anterior não deve ser realizado sutura pois, o mesmo não aceita sutura e sempre deverá ser reconstruído, intra ou extra articularmente. O fato deve se usar uma técnica de reconstrução na lesão ligamentar aguda foi muito combatida até os meados da nossa década.

“Existem dois tipos de reconstrução: as intra-articulares e as extra-articulares; as primeiras são aquelas que introduzem dentro da articulação elementos homólogos ou artificiais (implantes) com a finalidade de substituir os ligamentos cruzados lesados ou insuficientes, e as extra-articulares são aquelas que, reforçando os sistemas periféricos de estabilização do joelho, exerceriam as funções de um ligamento cruzado anterior, já que essas técnicas são usadas especificamente para ele” (AMATUZZI et al., 1992)

O mesmo autor ainda relata que, a fisioterapia deve ser iniciada logo após a cirurgia, sendo somente encerrada na alta do paciente, deve-se especificar os exercícios dependendo do tipo da lesão, é iniciado com imobilização pós-operatória preservando esta por dois dias somente, sendo contra-indicado o uso de apoio durante a imobilização. Logo após a retirada da imobilização é recomendado o uso de muletas até a recuperação completa da ADM articular.

A reconstrução do ligamento só tem sentido quando se promove o fortalecimento dos isquiotibiais como medida de precaução, o novo ligamento deve ser mais resistente do que o anterior e com cicatrização total do processo cirúrgico podendo assim ser preparado para suportar as constantes movimentações do joelho promovidas pela anteriorização da tíbia (FATARELLI, 2003).


2.9.4 - Tratamento pós-cirúrgico

FATARELLI (2003) afirma que logo após a cirurgia é comum a presença de dor, edema e logo após uma diminuição da ADM, existindo uma grande possibilidade de um surgimento de atrofia do quadríceps, que pode ser causada por estímulos dos receptores da articulação, estes estímulos são provocados pelo edema. Na fase pós-cirúrgica a fisioterapia deve ter como meta à diminuição de edema para que desta maneira possa-se evitar uma possível inibição reflexa do músculo quadríceps, é recomendado o uso de gelo e a elevação do membro ajudando na diminuição do edema.

Conforme FATARELLI (2003), pela presença de edema e dor a ADM pode apresentar-se limitada, já com a redução do edema e da dor pode-se iniciar uma movimentação passiva visando a recuperação da mesma. É recomendado ainda que as tarefas realizadas envolvam pouco ou nenhum esforço do ligamento cruzado anterior evitando assim lesões adicionais que agravem o quadro do paciente. Em uma fase mais avançada da recuperação são introduzidas tarefas com contração isométrica exigindo assim maior esforço do ligamento.

O mesmo autor observa que o treinamento com exercícios de resistência em longas séries de repetições e baixa carga devem ser iniciados na fase primária do tratamento, já os exercícios de força com poucas repetições e altas cargas devem ser realizados posteriormente.

Deve ser realizado ainda um treinamento proprioceptivo, este treinamento é fundamental em exercícios que estimulam resposta muscular. Podem ser usados como exercícios de ganho de propriocepção os que estimulam a capacidade do paciente em reconhecer a posição estática ou dinâmica em que a articulação se encontra, (FATARELLI, 2003).

Segundo ARAÚJO et al. (2003), relata que os exercícios e técnicas proprioceptivas são de importância fundamental devendo ser obrigatórios em todos os programas de reabilitação das lesões de ligamento cruzado anterior, citam ainda que há uma maior necessidade de investigações cientificas para uma melhor confirmação a respeito da propriocepção.

Para ALMEIDA (2003), a fase pós-operatória imediata tem como meta controlar a dor e o inchaço, iniciar e manter a extensão completa, impedir a atrofia muscular e iniciar o treinamento da marcha. Logo após a alta hospitalar deve ser iniciado a fase de reabilitação tendo esta como meta inicial , manter a extensão completa, manter a mobilidade patelar normal,aumentar a amplitude de movimento e desenvolver força muscular suficiente para o desempenho das atividades de vida diária. O início da terapia tem como meta obter a completa flexão durante as seis primeiras semanas, nesta fase é realizado extensão ativo assistida com auxilio da perna contra-lateral. Um dos principais objetivos desta fase é desenvolver resistência muscular, para que o paciente possa deambular sem o auxilio de muletas. Muitos pacientes conseguem deixar de usar muletas na segunda a quarta semana, quando a dor e o edema são mínimos e controle muscular do membro inferior está presente. Antigamente, a maioria dos programas de reabilitação pós-cirúrgico de ligamento cruzado anterior davam enfoque aos exercícios de cadeia cinética aberta, exercícios estes realizados com o pé, em posição livre ou não estacionária. Um exemplo clássico de um exercício de cadeia cinética aberta é aquele de extensão do joelho. Na posição sentado os exercícios de cadeia cinética fechada. realizados com o pé na posição fixa, reduzem as forças de translação tibial anterior da tíbia sobre o fêmur, dando carga compressiva fisiológica a articulação. Quando o paciente atingir a flexão completa inicia-se um programa com bicicleta ergométrica, onde a meta é pedalar pelo menos 20 minutos por dia com o aumento gradual da resistência respeitando a tolerância do paciente. Já na quarta semana após a cirurgia, o paciente pode iniciar outros exercícios em cadeia cinética fechada, como subir degraus. Pode também ser iniciado um programa de natação em torno da terceira ou quarta semana. Os exercícios de natação incluem exercícios de chutar com uma prancha, bicicleta aquática e caminhada e corrida dentro da água.

Conforme ALMEIDA (2003), a fase intermediária de reabilitação começa em torno de oito semanas e continua até se completarem quatro meses. Durante esta fase, a finalidade é em primeiro lugar continuar a desenvolver resistência e força muscular, proteger o enxerto realizado no ligamento cruzado anterior de forças intensas de rotação anterior, proteger articulação patelofemoral de cargas excessivas que a prejudiquem e iniciar o treinamento proprioceptivo.

O mesmo autor ainda cita que os exercícios isométricos para o fortalecimento dos isquiotibiais podem ser iniciados. O paciente é orientado a aumentar o tempo dedicado aos exercícios, em vez de aumentar a carga muito rapidamente. O programa de exercícios deve ser aumentado para 20 a 30 minutos, duas vezes por dia. A dor patelofemoral é comumente encontrada nas reconstruções do ligamento cruzado anterior, sendo uma das razões mais comuns de impossibilidade de se prosseguir no programa de reabilitação. É importante tentar minimizar sua ocorrência, por uma série de razões.

ALMEIDA (2003) ainda relata que, na fase final as metas são continuar o fortalecimento muscular, o treinamento proprioceptivo, iniciar o programa de corrida, indicar o treinamento da agilidade e retornar aos esportes. Deve ser dada continuidade ao programa de fortalecimento da fase intermediária. Se o paciente não apresentar dor ou edema, tiver ADM total e não ter marcha claudicante, inicia-se o programa de corrida em linha reta, é iniciado um programa de caminhadas rápidas ao ar livre ou uma esteira rolante ou trote dentro da água, inicialmente, em dias alternados. Nos dias em que não fizer exercícios, deve seguir com o fortalecimento muscular. Quando o paciente for capaz de caminhar um ou dois quilômetros ou saltitar dentro da água por vinte minutos, estará pronto para passar para corrida ao ar livre. É permitida apenas corrida em linha reta, em superfície nivelada ou macia. São realizados tanto movimentos de corrida para frente que enfatizam a função do quadríceps, como para trás, que focalizam a função dos músculos isquiotibiais. O paciente deve ser controlado de perto para se detectar a ocorrência de dor ou edema. É então adicionado ao programa o exercício de pular corda, que desenvolve tanto a resistência muscular como a propriocepção da articulação. Antes de se avançar para os exercícios de agilidade, o paciente deve ser capaz de completar o programa de corrida com velocidade sem dor ou edema. Posteriormente, a maioria dos pacientes está pronta para começar os exercícios de agilidade. Quando o paciente puder completar os exercícios de agilidade sem apresentar dor ou inchação, poderão ser iniciados exercícios específicos para esportes.

De acordo com RISBERG et al. (2001), o programa de tratamento consiste em exercícios de equilíbrio, de estabilidade articular dinâmica, exercícios pliométricos, exercícios de agilidade e exercícios específicos para o esporte. Este programa esta dividido em algumas fases. Fase pós-operatória precoce tem como meta a extensão passiva completa e redução do edema, inicia-se pós alta hospitalar onde é realizado um programa com o objetivo do ganho de ADM completo e redução de edema. São utilizados para redução do edema, exercícios de dorsiflexão e flexão plantar associados com elevação do membro. São utilizadas ainda muletas até restauração da extensão completa do joelho.

Os mesmos autores ainda relatam que na fase onde se inicia a marcha, deve-se ter como objetivo adquirir a marcha normal, controle e equilíbrio em apoio bipodal, controlar o equilíbrio em apoio unipodal e controle da estabilidade da perna não lesada. O tratamento é realizado com o auxilio de muletas sendo liberada descarga de peso conforme a tolerância do paciente, é utilizado crioterapia pós o treinamento na intenção de evitar o edema, os exercícios são realizados em bicicleta ergométrica, marcha no chão, marcha no rolo, exercícios de agachamento e exercícios para o gastrocnêmio, exercícios iniciados com apoio de uma perna, a não lesada, sendo progressivo para a perna lesada, exercícios de equilíbrio, exercícios de avanço e exercícios de degraus. Na fase de equilíbrio e estabilidade articular dinâmica , tem como objetivo o controle de equilíbrio tanto bipodal como unipodal, controle de equilíbrio em superfícies irregulares. O treinamento é feito com apoio unipodal na esteira de equilíbrio e com os olhos fechados, é utilizado exercícios no step e equilíbrios de alcance utilizando a perna lesada, é realizado ainda exercícios de subida de degraus com ambas as pernas. Já na fase de fortalecimento muscular, tem como meta o fortalecimento muscular são realizados exercícios de deslizamento, apoio em uma perna com carga e olhos fechados, agachamento no step sendo progressivo o aumento da flexão, exercício de avanço com carga e é iniciado salto com duas pernas.

Para AYALA (2003), após a cirurgia, o membro é amparado por um gesso ou uma atadura de pressão e tala posterior, devendo com isso ser aplicados exercícios de glúteos, exercícios isométricos para quadríceps e movimentos para os pés, que promoverão uma contração satisfatória do quadríceps somente quando a dor diminuir e a elevação do membro inferior estirado não são geralmente tentada nos primeiros dias. Quando a imobilização é removida, são iniciados exercícios de mobilização e de fortalecimento do joelho, devendo-se tomar cuidado de evitar excessivos movimentos de alavanca no joelho até que a incisão cicatrize. A hidroterapia é uma forma efetiva de tratamento nos estágios iniciais da imobilização, o calor e apoio da água, ajudando a vencer a apreensão e facilitando o movimento ativo. A tala posterior é mantida durante a marcha até que o paciente consiga a extensão total ativa do joelho, flexão e bom controle do movimento. Uma vez restabelecida a confiança em si próprio, a reabilitação avança rapidamente e o paciente retoma gradualmente suas atividades normais. Podem ser fornecidas, com o término da terapia, indicações principalmente para de como evitar um novo episódio de lesão. As prinicpais são: deve ser feito um bom alongamento antes e depois de cada treino, tornar cuidado com os excessos, principalmente após o treino quando o seu corpo já está aquecido, aquecer bem o corpo antes de treinos fortes ou dias frios, cuidar sempre dos seus músculos, deixando-os fortalecidos, nunca ultrapasse o limite do seu corpo.



3 - MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica, onde foi utilizado levantamento atualizado com informações e esclarecimento sobre o tema.

A revisão constou de pesquisas em livros, artigos, dissertações de mestrado, periódicos especializados, que foram consultados em bibliotecas públicas e particulares, além de consultas via internet.

Para tais consultas, foram utilizadas como palavras chave: lesão do ligamento cruzado anterior, LCA, fisioterapia na lesão do ligamento cruzado anterior, ACL, reconstrução do ligamento cruzado anterior e “anterior cruciate ligament”.

A pesquisa foi realizada entre 1991 e 2003, visando a atualização sobre o tema, podendo contribuir de forma mais positiva para sua discussão e análise do material coletado referente às patologia e os recursos fisioterapêuticos cabíveis.

Estes dados foram analisados com o objetivo de fornecer um apoio teórico consistente para a realização da discussão sobre o tema.



4 - DISCUSSÃO


Com base nas bibliografias pesquisadas, a lesão de ligamento cruzado anterior, apresenta inúmeras contradições em relação aos tipos de cirurgia e protocolos de tratamento.

A deficiência do ligamento cruzado anterior permite o desenvolvimento das condutas operatórias e não operatórias para o tratamento (ROCKWOOD et al. 1994).

Para SNIDER 2000, a conduta de tratamento do ligamento cruzado anterior deve ser diferenciado com a idade do paciente, prática de atividades e presença de lesões associadas.
FATARELLI 2003 relata que os tratamentos pré-cirúrgicos devem ser estabelecidos, algumas medidas, para que seja obtido o restabelecimento total de ADM, ausência de edema e dor, diminuição da marcha flexora, recuperação da força muscular e preparação psicológica para a reconstrução ligamentar cirúrgica.

Segundo WEINSTEIN et al., 2000, a reconstrução do ligamento cruzado anterior, pode ser feita pela substituição do grácil e semimembranoso, estas estruturas podem ser colocadas pelo artroscópio evitando formação de cicatrizes e diminuindo complicações tardias. O programa de reabilitação começa no dia subseqüente a cirurgia podendo se estender até 12 meses sendo esta duração dependente do nível de atividades que o paciente deseja adquirir.

Para ROSA 2003, em uma reconstrução intra-articular do ligamento cruzado anterior com enxerto do tendão patelar, o ligamento cruzado anterior rompido é removido e são perfurados túneis ósseos em tíbia e fêmur. A incisura intra-condilar pode ser alargada caso esteja muito estreita. O terço central do tendão patelar com pedaços ósseos nas duas pontas é então pego e colocado em furos preparados na tíbia e fêmur. A fixação do enxerto é conseguida com suturas e reforçada com parafusos sem cabeça ou presilhas. Os locais ósseos doadores são cobertos com o osso esponjoso retirado dos furos na tíbia e fêmur.

“Existem dois tipos de reconstrução: as intra-articulares e as extra-articulares; as primeiras são aquelas que introduzem dentro da articulação elementos homólogos ou artificiais (implantes) com a finalidade de substituir os ligamentos cruzados lesados ou insuficientes, e as extra-articulares são aquelas que, reforçando os sistemas periféricos de estabilização do joelho, exerceriam as funções de um ligamento cruzado anterior, já que essas técnicas são usadas especificamente para ele” (AMATUZZI et al., 1992).

NUNES et al. 2003, cita que na fase crônica o início do tratamento é atingido depois das metas anteriores, e tem por base quatro parâmetros que são: a) Treinamento muscular, tem seu inicio de uma maneira mais intensa após a fase aguda, sua intenção é aumentar a resistência e força dos grupos musculares que cruzam o joelho, deve ser dado maior destaque aos grupos musculares posteriores como isquiotibiais e gastrocnêmio. Os exercícios são realizados em cadeia aberta e fechada, visando aumentar a resistência e força dos músculos trabalhados, os exercícios de cadeia aberta devem ser usados com muito discernimento, pois podem provocar lesões na articulação femoropatelar, e os de cadeia fechada não provocam a anteriorização da tíbia ,sendo por isso os mais recomendados. b) Treinamento proprioceptivo é definido como a capacidade inconsciente de sentir o movimento e posição de uma articulação no espaço. A propriocepção é trabalhada por meio de exercícios de equilíbrio, postura do joelho no espaço, tempo correto de atuação dos músculos flexores e outros. A repetição extenuante deste treinamento consciente fará com que o mesmo se torne automático, e inconsciente preparando o paciente a usar seus músculos flexores antes de colocar o pé contra qualquer obstáculo, mesmo o solo.Varias técnicas existem para se treinar a propriocepção do joelho e em média se necessita de quatro a seis semanas de trabalho para um bom resultado final. c) Tratamento conservador com órteses protetoras que pode ser utilizado na volta do paciente ao esporte, visto que as mesmas impedem a anteriorização da tíbia apenas quando são submetidas a pequenos esforços e não o fazem quando submetidas a esforços funcionais. É relato uma melhora funcional com o uso das órteses, que consciente ou inconscientemente aumentam a atenção do paciente para com seu joelho, diminuindo assim as oportunidades de novos falseios. d) Reeducação esportiva visto que todas atividades esportivas que envolvem saltos, giros, mudanças bruscas de direção e velocidade ocasionam stress ao joelho com deficiência de ligamento cruzado anterior, adequando com isso chances de aparecimento dos falseios de repetição. A prática de atividades esportivas deve ser estimulada com baixo risco para o joelho.
Assim, com base nos autores, mesmo com tratamento diferentes há evidencias que estes são eficazes, oferecendo, melhor reabilitação ao paciente que sofreu lesão do ligamento cruzado anterior.



5 - CONCLUSÃO

Concluímos que os autores pesquisados têm uma mesma opinião sobre como avaliar a lesão, tendo somente divergências em quais os teste e graus dos mesmos que devem ser aplicados. Fica claro que uma anamnese completa e detalhada é ainda o melhor método de diagnosticar as lesões do ligamento cruzado anterior.

Quanto aos tratamentos, todos tem um mesmo objetivo, sendo as diferenças somente na conduta aplicada, variando de acordo com a idade, sexo e atividade exercida. Sendo assim cabe a cada fisioterapeuta escolher a conduta a ser seguida desde que tenha um bom embasamento anâtomo-patológico e consiga desta maneira atingir os objetivos propostos para cada paciente. A fisioterapia quando aplicada de maneira ponderada e cuidadosa contribui muito para o sucesso da resolução do problema, tendo a lesão indicação cirúrgica ou não.



6 – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALMEIDA, M. F. Lesão do ligamento cruzado anterior tratamento fisioterápico. Disponível em: < http://www.mfafisioterapia.hpg.ig.com.br >.Acesso em 24 set. 2003.

AMATUZZI, M. M.; ROSSI, J. D. M. B. A. Patologia do joelho. s. ed. São Paulo, 1992, p. 1, 35, 37, 106 – 108.

ARAÚJO, A. D. S.; MERLO, J. R. C.; MOREIRA, C. Reeducação neuromuscular e proprioceptiva em pacientes submetidos à reconstrução do ligamento cruzado anterior. Revista Fisioterapia Brasil, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 217 – 222, mai./jun. 2003.

CAMANHO, G. L. Patologias do joelho. ed 1. São Paulo: Sarvier, 1996. p. 2, 4, 16, 173 – 175, 177 – 181.

CASTRO, J. O. M.; PEREIRA, P. P.; TELINI, A. C. Anatomia e biomecânica do ligamento cruzado anterior. Disponível em: < http://www.grupodojoelho.com.br >. Acesso em: 27 ago 2003

CIPRIANO, J. J. Manual Fotográfico de testes ortopédicos e neurológicos. ed. 3. São Paulo: Manole Ltda, 1999. p. 318 – 326.

DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar: para o estudante de medicina. ed. 2. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 192 – 196.

FATARELLI, I. F. C.; ALMEIDA, G. L. Estudo do Controle Motor e da Biomecânica na Lesão e Reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior. Campinas, fev 2003. p. 38 – 49. Tese (Doutorado em Biologia Funcional e Molecular na área de Fisiologia) – Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas.

GABRIEL, M. R. S.; PETIT, J. D.; CARRIL, M. L. S. Fisioterapia em traumatología ortopedia e reumatologia. ed. 1. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. p. 162 –163.

HOPPENFELD, S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades. ed. 1. Rio de Janeiro: Atheneu, 2002. p. 180 – 196, 206.

LOUDON, J. K.; BELL, S. L.; JOHNSTON, J. M. Guia clínico de avaliação ortopédica. ed. 1. São Paulo: Manole Ltda, 1999. p. 162 – 173.

NABARRETE, A. A. Incidência de Lesão no Ligamento Cruzado Anterior. Disponível em: < http://www.riototal.com.br >. Acesso em: 24 set. 2003.

NUNES, J. F; CASTRO, J. O. M; MARCHETTO, A; PEREIRA, P. P. Tratamento conservador das lesões do LCA. Disponível em: < http://www.grupodojoelho.com.br >. Acesso em: 18 ago.2003.

PEPPARD, A. Reabilitação do joelho. In: CANAVAN, P. K. Reabilitação em medicina esportiva: um guia abrangente. ed. 1. São Paulo: Manole Ltda, 2001. p. 305 – 308.

RISBERG, M. A.; MORK, M.; JENSSEN, H. K.; HOLM, I. Projeto e execução de um programa de treino neuromuscular após a reconstrução do ligamento cruzado anterior. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, s. l., v. 31, n. 11, p. 5 – 10, nov. 2001.

ROCHWOOD JR., C. A.; GREN, D. P.; BUCHOLZ, R. W. Fraturas em adultos. ed. 3. São Paulo: Manole Ltda, 1994. p. 1831 – 1852.

ROSA FILHO, B.J. Fratura do platô tibial. Disponível em: < http://www.wgate.com.br >. Acesso em: 08 out. 2003.

ROSA FILHO, B.J. Lesão do ligamento cruzado anterior (LCA), com reconstrução através da técnica cirúrgica intra-articular com enxerto do tendão patelar. Disponível em: < http://www.wgate.com.br >. Acesso em: 18 ago. 2003.

SNIDER, R. K. Tratamento das doenças do sistema musculoesquelético. ed. 1. São Paulo: Manole Ltda, 2000. p. 311 – 321.

SPENCE, A. P. Anatomia humana básica. ed. 2. São Paulo: Manole, 1991. p. 173 – 174.

WEINSTEIN, S. L.; BUCKWALTER, J. A. Ortopedia de Turek: princípios e suas aplicações. ed. 5. São Paulo, 2000. p. 30 – 31, 593 – 594, 596 – 597.

YOUR ORTHOPAEDIC CONNECTION. American academy of orthopaedic surgeons. Disponível em: < http://orthoinfo.aaos.org >. Acesso em: 27 ago 2003
 



Obs.:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seus autores.
- Publicado em 14/04/04




© 2002 - World Gate Brasil Ltda

Todos os Direitos Reservados