Lesões da coluna vertebral de causas
diversas são observadas em indivíduos que praticam esportes de várias
modalidades.
A coluna vertebral por meio de suas estruturas está envolvida no
mecanismo de transmissão e coordenação dos movimentos entre os membros
superiores e inferiores. Essas estruturas incluem ossos, articulações,
músculos, ligamentos e os discos intervertebrais que, agem continuamente
no sentido de potencializar a força a ser desprendida pelos membros,
quando do posicionamento espacial do indivíduo e no suporte de seu corpo
sob a ação da força da gravidade. Cada região da coluna vertebral tem
características próprias, as quais são responsáveis por funções
específicas.
A coluna cervical é responsável pela sustentação da cabeça, permitindo
amplo arco de movimento devido a sua estrutura. As lesões nesta região
estão relacionadas à sua fragilidade principalmente durante sua
exposição aos traumas.
LESÕES DA COLUNA TORÁCICA
A coluna torácica é um segmento do
esqueleto axial adaptado para promover a estabilização e sustentação do
tronco e sustentação da região cervical. Esta região tem como
característica a presença de uma cifose fisiológica, e um grau restrito
de movimento, promovido pelas costelas, as quais aumentam a estabilidade
torácica. Nessa região os discos intervertebrais são menores e menos
flexíveis em relação aos demais segmentos vertebrais.
Lesões da coluna torácica são raras nos atletas. Na maioria das vezes
elas ocorrem nos esportes com alta velocidade e impacto. Entre as lesões
mais freqüentes temos as dos tecidos moles, hérnia de disco e as
fraturas vertebrais.
LESÕES DE
TECIDOS MOLES
A principal lesão observada na coluna
torácica de atletas está relacionada ao acometimento de tecidos moles,
como: distensões, contraturas e contusões por meio de trauma direto.
O diagnóstico destas lesões é realizado por meio de anamnese completa,
interrogando a respeito do protocolo de treinamento do atleta, aumento
na prática de determinado exercício com sobrecarga da região e possíveis
traumatismos. O exame físico é focado na região da dor, procurando com a
inspeção e palpação localizar e delimitar a área afetada. Caso a região
dolorosa for extensa e mal delimitada, parece indicar distensão ou
contratura muscular; no entanto caso haja um ponto doloroso bem
delimitado deve-se suspeitar de contusão local ou fratura. Radiografias
simples são realizadas para identificação de possíveis fraturas, nas
lesões traumáticas. Na ausência de trauma deve ser imediatamente
instituído tratamento conservador. O objetivo principal deste é o
retorno às atividades o mais breve possível, mantendo condicionamento
cardíaco e pulmonar adequado durante o afastamento dos esportes, e
reabilitação precoce, inicialmente com exercícios isométricos, e
alongamentos progressivos.
O uso de órteses (coletes) não tem influência em sua recuperação.
Medidas no sentido de atuar sobre o fator desencadeante, podem evitar
recidivas.
HÉRNIA
DISCAL TORÁCICA
Apresenta incidência em torno de 1,6 /
1000 na população em geral, com freqüência maior em homens e na quinta
década de vida. Raramente é associada à atividade esportiva. A história
relatada pelo atleta varia de acordo com a sua localização, extensão e
início dos sintomas. Em geral a história de trauma é pouco freqüente, Os
discos mais acometidos são o nono, décimo e décimo primeiro.
O sintoma mais comum é dor na parede torácica, unilateral, no dermátomo
correspondente à raiz afetada, especialmente quando a compressão for
lateral. Quando a compressão for devido a uma hérnia central, com
compressão medular, pode não ocorrer dor torácica, porém ao exame físico
e neurológico observa-se espasticidade, paraparesia e sinais de
liberação do sistema piramidal nos membros inferiores. A pesquisa dos
reflexos dos membros inferiores, do reflexo cutâneo abdominal, de clônus
e do reflexo de Babinski podem permitir o diagnóstico de uma hérnia de
disco torácica.
A ressonância magnética é o método de eleição para o seu diagnóstico.
Na sua impossibilidade, a tomografia computadorizada ou mielografia. O
tratamento clínico geralmente é eficaz, por meio de antiinflamatórios,
analgésicos e medidas fisioterápicas. Bloqueio radicular seletivo pode
ser indicado nas dores intercostais intratáveis.
O tratamento cirúrgico é pouco realizado e indicado nas compressões
medulares centrais sintomáticas com lesão neurológica progressiva. Com o
advento da cirurgia vídeo-endoscópica, a morbidade do tratamento
cirúrgico diminuiu; possibilitando reabilitação precoce e eliminando a
necessidade de incisão ampla, com na toracotomia convencional, porém em
alguns casos a toracotomia convencional é indicada.
FRATURAS
DA COLUNA TORÁCICA
Quatro tipos de fraturas são observadas
na atividade esportiva: do processo transverso ou da costela (nas
proximidades da articulação transverso costal); do corpo vertebral por
extensão forçada; do corpo vertebral por compressão e as fraturas com
luxação.
As fraturas do processo transverso são estáveis e relacionadas ao trauma
direto da região paravertebral, na região correspondente a articulação
costal transversa. O principal sintoma é dor local, que se acentua
durante os movimentos respiratórios. Ao exame físico observa-se equimose
e intensa dor à palpação. O paciente pode apresentar aumento da cifose
ou escoliose antálgica. O diagnóstico pode ser confirmado
radiograficamente e quando necessária tomografia computadorizada e
cintilografia óssea.
O tratamento é clínico com analgésicos e reabilitação precoce. A
utilização de órteses para imobilização é controvertida, visto que a
fratura é estável e alguns pacientes relatam desconforto devido a
imobilização. O retorno às atividades esportivas deverá ser gradual e
dependerá do limiar de dor do atleta.
As fraturas do corpo vertebral por extensão forçada (hiperextensão) são
desencadeadas por movimentos bruscos, os quais tracionam as estruturas
anteriores da coluna, principalmente o ligamento longitudinal anterior e
o periósteo, podendo promover avulsão óssea e lesão da placa terminal.
Este tipo de fratura incide em atletas durante a adolescência, enquanto
não ocorre a maturidade do esqueleto axial, com persistência de tecido
cartilaginoso nos planaltos vertebrais. Entre as modalidades esportivas,
a ginástica olímpica impõe aos atletas movimentos abruptos, podendo
desencadear estas lesões.
O diagnóstico é realizado com a anamnese e exame físico, que reproduz a
dor ao se realizar uma extensão forçada da coluna. A visibilização da
fratura é difícil com radiografias simples. A tomografia computadorizada
e a ressonância magnética facilitam o seu diagnóstico.
O tratamento envolve medidas analgésicas e utilização de órteses
tóraco-lombares (colete de Boston) por um período entre 8 a 12 semanas.
As fraturas por compressão do corpo vertebral são as mais freqüentes
nessa região, devido à falha da região anterior do corpo vertebral
quando um movimento de flexão é aplicado na coluna. A maioria das
fraturas por compressão nos atletas não causa descontinuidade do muro
posterior do corpo vertebral, portanto não oferecem riscos de compressão
medular por desprendimento de fragmentos ósseos dentro do canal
vertebral.
Nos atletas jovens a presença de acunhamento vertebral pode ocorrer na
ausência de trauma, sendo devido a uma osteocondrite da placa terminal
(doença de Scheurmann). Nos atletas idosos as fraturas por compressão
podem ocorrer após traumas triviais, devido à osteoporose.
Ao exame físico, acentuação antálgica da cifose dorsal, com espasmo
muscular paravertebral, dor à palpação e limitação do arco de movimento.
O exame neurológico deve ser minucioso no sentido de identificar
alterações neurológicas consequentes a traumas raquimedulares.
O diagnóstico é confirmado por meio de radiografias simples com
incidências ântero-posterior e de perfil, que permitem visibilizar
alterações na altura do corpo vertebral. A tomografia computadorizada
permite evidenciar o traço de fratura, além de avaliar a integridade do
canal vertebral. O diagnóstico de doença de Scheurmann (dorso curvo com
hipercifose) deve ser afastado em atletas jovens.
As fraturas com acunhamento vertebral anterior de até 25%, geralmente
não acometem as estruturas vertebrais posteriores, mantendo a
estabilidade da coluna . As fraturas com até 50 % de acunhamento
vertebral podem se associar às lesões ligamentares posteriores e
comprometimento do canal vertebral.
As fraturas com acunhamento vertebral, superior a 50 % estão associadas
a traumas com maior energia, sendo geralmente instáveis e com grande
possibilidade de apresentarem lesões do canal vertebral. O tratamento
destas fraturas deve ser individualizado de acordo com a idade, a
gravidade da fratura e a modalidade esportiva praticada pelo atleta. O
objetivo do tratamento é proporcionar analgesia, evitar deformidades
crônicas residuais, prevenir lesões neurológicas e reabilitar o atleta
para que retorne com a menor brevidade para suas atividades.
Nas fraturas com acunhamento vertebral anterior de até 50%, sem sinais
de instabilidade, o tratamento é realizado com órteses (colete de
Boston) de polipropileno, feitas sob medida, abrangendo toda a coluna
tóraco-lombar com apoio pélvico. O período de imobilização varia entre 8
à 12 semanas, mantendo durante este período o condicionamento físico e
cardio-pulmonar. O retorno ao esporte pode ser iniciado assim que o
atleta não sentir dor. As fraturas com mais de 50% de acunhamento
vertebral anterior e sinais de instabilidade devem ser tratadas
cirurgicamente.
As fraturas com luxações da vértebra estão relacionadas à traumas de
alta energia. Os esportes mais propensos a este tipo de lesão são
automobilismo, motociclismo, esportes de inverno e paraquedismo. Este
tipo de fratura está relacionado à lesão neurológica em 85% a 100% dos
casos. Nessa situação os pacientes são politraumatizados com múltiplas
lesões graves, necessitando equipe médica de várias especialidades.
O diagnóstico desta lesão inclui, desde radiografias simples até a
ressonância magnética, devido ao alto índice de lesão neurológica. A
abordagem terapêutica é multidisciplinar (enfermeiros, fisioterapeutas e
psicólogos), pois as seqüelas físicas e sociais podem ser graves. O
tratamento cirúrgico é indicado para a restituição da anatomia da
região, sendo realizado assim que o paciente apresente condições
clínicas.O tratamento cirúrgico precoce permite antecipar o início da
reabilitação, prevenindo complicações pulmonares e dermatológicas, como
as escaras.
LESÕES DA
COLUNA VERTEBRAL LOMBAR
A coluna lombar é vulnerável à lesões nas
diversas práticas esportivas. A dor na região lombosacra pode ter origem
em várias estruturas, sendo que o espasmo e a contratura da musculatura
paravertebral as causas mais freqüentes. Porém as articulações
inter-apofisárias posteriores, as articulações sacro-ilíacas, os discos
intervertebrais e a própria estrutura óssea são importantes na etiologia
das síndromes dolorosas desta região.
As lesões mais freqüentes são: as musculares e ligamentares; fraturas;
afecções dos discos intervertebrais; a espondilólise e espondilolistese
. Porém distúrbios da transição lombosacra e articulações sacro-ilíacas,
que serão abordados no final desse capítulo, também desencadeiam dor
lombar.
LESÕES
MUSCULARES E LIGAMENTARES
As dores lombares são freqüentes, com
maior incidência em profissionais que trabalham em atividades
industriais do que em atletas. Portanto, as lesões musculares e
ligamentares nos atletas podem ser semelhantes a aquelas de indivíduos
que não praticam esportes.
O diagnóstico das lesões dos músculos e ligamentos inicia-se através da
anamnese, onde se realiza argüição das características do mecanismo do
trauma que causou a lesão, permitindo um raciocínio clínico, que será
complementado pelo exame físico.
Durante o exame físico deve-se localizar o local da dor através da
inspeção e da palpação. Nos atletas que sofrem quedas, que desencadeiam
flexão brusca da região lombar (ginástica olímpica), faz se necessário à
palpação dos ligamentos posteriores, a fim de ser detectado sua lesão
parcial ou total.
A fim de complementar a investigação de
lesão dos tecidos moles, se solicita a ultrasonografia, que permite
avaliar a integridade da musculatura paravertebral e a ressonância
magnética, que individualiza as estruturas anatômicas, permitindo uma
melhor avaliação das estruturas ligamentares.
O tratamento inicial das lesões musculares e ligamentares, é realizado
durante as 48 horas iniciais com compressas de gelo. Analgésicos e
relaxantes musculares auxiliam no alívio da dor, permitindo o início do
processo de reabilitação. O tempo de cicatrização das fibras musculares
e ligamentares varia entre 6 a 8 semanas. Durante as primeiras 4 semanas
é necessário o afastamento do atleta de atividades físicas e também se
recomenda a utilização de órtese e dar inicio a exercícios isométricos.
A partir da quinta semana o atleta é estimulado a retornar
progressivamente às atividades físicas habituais até completa melhora da
dor.
O principal critério para o retorno às atividades físicas, de forma
competitiva, é a ausência completa da dor.
FRATURAS
DA COLUNA LOMBAR
Fraturas da coluna lombar são raras nos atletas, devido a grande massa
muscular presente na região. A energia necessária para causar uma
fratura deve ser intensa, estando relacionada a esportes de alta
velocidade, como o automobilismo, motociclismo e esportes de inverno.
A classificação das fraturas da coluna tóraco-lombar é baseada no
conceito de estabilidade das "três colunas". A coluna anterior é
constituída pelo ligamento longitudinal anterior, a porção anterior do
corpo vertebral e o disco intervertebral. A coluna média é representada
pelo restante do corpo vertebral, disco intervertebral e ligamento
longitudinal posterior. A coluna posterior inclui o processo espinhoso,
os ligamentos interespinhosos e supra-espinhosos, as articulações
inter-apofisárias posteriores, e os pedículos.
As fraturas com lesão de duas colunas são classificadas como instáveis.
Cada fratura deve ser abordada individualmente, sendo o seu diagnóstico
realizado por história, exame físico e com o auxílio dos métodos
radiológicos. As radiografias simples em incidência ântero-posterior e
de perfil possibilitam a visualização da fratura e da estrutura óssea. A
tomografia computadorizada fornece informações a respeito do canal
vertebral e possível compressão do saco dural por fragmentos ósseos. A
ressonância magnética permite avaliação da estrutura ligamentar, do
disco intervertebral e das estruturas nervosas presentes no saco dural.
O tratamento das fraturas é iniciado no local aonde ocorreu o trauma
através de imobilização do atleta e sua remoção para um centro médico. A
manipulação indevida do atleta pode causar danos transitórios ou
permanentes, podendo promover incapacidades não somente para a prática
esportiva, mas também para o convívio social. As fraturas consideradas
estáveis são tratadas com o uso de órteses (colete de Putti ou de
Boston), feitos sob molde, por um período entre 8 à 12 semanas. As
fraturas instáveis geralmente necessitam estabilização cirúrgica, com
tempo de recuperação mais prolongado.
LESÕES DOS DISCOS
INTERVERTEBRAIS
Lesões discais são muito comuns nos
atletas, sendo divididas didaticamente em degeneração discal, hérnias de
disco e lesão traumática do disco .
A degeneração discal ocorre principalmente em atletas idosos, estando
relacionada à perda de água e das propriedades visco-elásticas do disco
intervertebral. A principal conseqüência desses processos é a
incapacidade para a absorção de impactos, desencadeando instabilidade da
coluna lombar. Para suprir esta instabilidade decorrente da degeneração
discal ocorrem dois fenômenos importantes relacionados à dor: contratura
da musculatura paravertebral, na tentativa de suprir a instabilidade
local, e a longo prazo degeneração discal e instabilidade (hipermobilidade),
que poderão desencadear um processo degenerativo nas articulações
inter-apofisárias posteriores e a formação de osteófitos ( bicos de
papagaio) como tentativa do organismo em estabilizar a região. Ambos os
mecanismos estão relacionados à dor crônica, com diminuição do arco de
movimento, porém sem manifestações neurológicas ou dores radiculares.
O diagnóstico clínico é difícil, devido a inespecificidade dos sintomas.
Radiografias simples possibilitam a visibilização da diminuição do
espaço discal e das alterações degenerativas. O exame mais sensível e
específico é a ressonância magnética, que mostra o grau de hidratação e
a visibilização perfeita da degeneração discal.
O tratamento clínico procura compensar as instabilidades que ocorrem na
coluna lombar, através de exercícios de fortalecimento da musculatura
abdominal e lombar. O uso da órtese lombar (colete de Putti) pode
aliviar os sintomas. Na atualidade, técnicas cirúrgicas de fixação e
estabilização permitem correção da instabilidade, porem o retorno do
atleta às atividades físicas dependerá de sua capacidade de recuperação
e da atividade física por ele exercida.
As hérnias discais podem ocorrer em qualquer faixa etária , com
manifestações clínicas variadas, desde indivíduos assintomáticos até
lombociatalgias incapacitantes. Existe nos atletas dificuldade em se
relacionar a hérnia discal com a sua atividade esportiva. Esta relação
pode ocorrer nos casos de hérnias discais traumáticas agudas e
sintomáticas. O seu diagnóstico é realizado através da anamnese e exame
físico, sendo confirmado por meio de exames subsidiários como tomografia
computadorizada e ressonância magnética.
O tratamento das hérnias discais nos atletas deve ser individualizado,
diretamente relacionado ao quadro clínico. O tratamento inicial é sempre
conservador, com utilização de medicação analgésica, anti-inflamatórios
e reabilitação fisioterápica. A indicação de tratamento cirúrgico
somente quando houver falha do tratamento conservador. A avaliação dos
critérios de melhora clínica no atleta são distintos daqueles utilizados
na população em geral, pois melhora acentuada da dor pode ser suficiente
para um indivíduo qualquer, entretanto uma pequena dor, durante uma
atividade física, pode comprometer o desempenho físico do atleta. Não
existem, na atualidade, protocolos no sentido de indicação do momento
adequado do tratamento cirúrgico. A indicação deve ser realizada por
consenso entre médico(s) e o atleta, sendo importante a participação da
diretoria técnica durante todo o período do tratamento.
A técnica cirúrgica a ser utilizada deve proporcionar a remoção da
hérnia discal, com descompressão da raiz nervosa, preservação das
facetas articulares e reparação da estruturas incisadas. Relatos na
literatura indicam até 90% de excelentes resultados em atletas de elite,
submetidos a microdiscectomia em um único nível, com o retorno às
atividades competitivas.
A reabilitação do atleta deve ser iniciada o mais breve possível, se
ministrando exercícios isométricos e de hidroterapia. O retorno
progressivo as atividades físicas deve ser estimulado, estando o atleta
apto a retornar ao esporte competitivo após um período aproximado de 3
meses.
As lesões traumáticas do disco intervertebral estão relacionadas com
queda de sua própria altura, principalmente ao cair sentado. O
diagnóstico desta lesão é difícil, pois o quadro clínico pode variar
desde uma simples dor lombar, até uma lombociatalgia de intensidade
variável. A dor tem um componente relacionado ao espasmo da musculatura
paravertebral, porém a dor discogênica também è fator Importante na sua
gênese devido a lesão do ânulo fibroso, o qual é inervado por fibras do
sistema simpático. A ciatalgia referida no trauma agudo do disco
intervertebral ocorre quando existe compressão mecânica devido a um
fragmento herniado, ou pelo processo inflamatório existente na
vizinhança da raiz nervosa.
A radiografia simples não auxilia no diagnóstico, sendo necessário a
realização da ressonância magnética, que poderá demonstrar lesão aguda
do disco intervertebral.
Nos adultos jovens as lesões discais podem estar relacionadas a fraturas
do anel apofisário. O mecanismo de lesão está relacionado ao
aparecimento de hérnias discais paramarginais, que exercem pressão sobre
o ânulo fibroso, tracionando e arrancando um fragmento ósseo do anel
apofisário no planalto vertebral. O diagnóstico desta lesão é realizado
por tomografia computadorizada, que permite demonstrar o fragmento ósseo
arrancado e com a ressonância magnética demonstra a hérnia marginal
comprimindo a raiz no forame.
O tratamento das lesões traumáticas do disco intervertebral é realizado
com analgésios, anti-inflamatórios, reabilitação fisioterápica e
afastamento de atividades físicas até desaparecimento da dor. O
tratamento cirúrgico está indicado caso haja falha do tratamento
conservador, conforme descrito no tratamento das hérnias discais.
ESPONDILÓLISE E ESPONDILOLISTESE
O aumento do número de jovens atletas nas
últimas duas décadas e a crescente competitividade para a busca contínua
do melhor do desempenho nas diversas modalidades esportivas, têm
contribuído para o aparecimento de dores lombares persistentes nos
atletas.
A persistência de dor lombar, na ausência de sinais clínicos de
compressão radicular, pode ser indicativo de fratura por fadiga do istmo
vertebral, o que caracteriza a espondilólise traumática geralmente na
quinta vértebra lombar.
O istmo vertebral é a região mais vulnerável aos microtraumas
repetitivos. Estes ocorrem nas várias atividades físicas de um individuo
em crescimento, tais como judô, ginástica olímpica, lutas, levantamento
de peso, futebol americano e esportes que exigem saltos, os quais
apresentam maior incidência de espondilólise . Os atletas envolvidos com
esportes que exigem movimentos de rotação repetitiva, extensão ou flexão
acentuadas, podem apresentar incidência entre 11% a 63% de lesão. Esta
afecção é 2 vezes maior no sexo masculino, sem predileção racial.
Existe predisposição familiar, porém sem comprovação de fatores
genéticos. A história clínica fornece os elementos para o diagnóstico. O
exame físico geralmente não é característico, sendo que a dor lombar
pode ocorrer na região central ou lateral; caso a lesão for unilateral
perceptível à palpação, o atleta poderá apresentar posição antálgica,
com modificações posturais.
O diagnóstico é confirmado com radiografias da região lombosacra de
frente, perfil e oblíquas. Porém na fase inicial da espondilólise a
lesão somente é visível em exames que demonstram alta sensibilidade,
como a cintilografia óssea e a ressonância magnética, porém a tomografia
computadorizada permite a visualização nítida da lesão na fase inicial
através dos cortes paralelos ao ístmo vertebral.
O tratamento da espondilólise em atletas casuais ("atletas de
fim-de-semana") é mais conservador, enquanto que nos atletas
profissionais, o afastamento da atividade pode causar comprometimento
emocional e impactos financeiros.
Inicialmente é preconizado afastamento da prática esportiva, com uso
contínuo de órtese lombosacra, durante 3 meses, mantendo o seu
condicionamento físico com um programa de reabilitação e treino da
capacidade cardio-pulmonar. Após este período deve-se realizar o
controle da espondilólise através da tomografia computadorizada. O
tratamento cirúrgico é raramente indicado e somente quando ocorrer falha
do tratamento clínico, ou nos casos que evoluíram com espondilolistese
progressiva, sendo nesse caso indicada a artrodese póstero-lateral com
fixação do segmento acometido. A espondilolistese é diagnosticada
através de radiografias simples, ficando mais evidente por meio de
radiografias dinâmicas em perfil, em posição de flexão e extensão
forçada. A mielografia dinâmica permite a visibilização da
instabilidade, além de demonstrar compressão do saco dural, durante a
flexão e extensão forçadas.
A espondilolistese pode ocorrer em atletas com espondilólise bilateral.
O escorregamento vertebral geralmente ocorre entre os 9 e 15 anos de
idade. A freqüência de grandes escorregamentos é duas vezes maior nas
mulheres. O tratamento do atleta com espondilolistese depende
basicamente do grau de escorregamento vertebral e de sua sintomatologia.
Caso o escorregamento for menor do que 50% e o atleta estiver
assintomático, restrições físicas são desnecessárias, porém recomenda-se
acompanhamento radiográfico até os 16 anos de idade . Caso o
escorregamento for maior que 50%, o atleta deve ser orientado a não
realizar esportes de alto impacto. Estes atletas devem ser acompanhados,
pelo menos a cada 6 meses até o final do crescimento ósseo. A artrodese
está indicada quando ocorre falha do tratamento conservador. Para
realizar o alinhamento anatômico da coluna vertebral, quando o
escorregamento é maior que 50% é indicada a via anterior associada e
artrodese por via posterior. O tempo ideal para a consolidação da
artrodese varia de 3 a 6 meses. Após a consolidação atleta está apto a
retornar às atividades físicas. O controle da consolidação é realizado
por meio de radiografia simples e tomografia computadorizada.
OUTRAS LESÕES
As alterações degenerativas das
articulações sacro-ilíacas podem desencadear em atletas dor lombar
incapacitante prejudicando a prática esportiva. Estas lesões sempre
foram consideradas muito raras, porém atualmente estas disfunções são um
problema frequente em atletas de elite, no entanto sua incidência é
pouco relatada na literatura médica.
Esta lesão ocorre através de sobrecarga dos membros inferiores,
transmitida para a região pélvica em esportes de alto impacto e longa
duração como em maratonistas.
O diagnóstico desta lesão é clínico e dificilmente realizado por
radiografias simples. Outros métodos como a cintilografia óssea,
tomografia computadorizada e ressonância magnética permitem o seu
diagnóstico. O tratamento envolve reabilitação e orientação dos atletas
e da equipe técnica, prevenindo a recidiva.
A presença de megapófise à radiologia é geralmente assintomática. Porém
a fusão unilateral entre o processo transverso da vértebra L5 e o sacro
também pode desencadear dor lombar. Esta dor ocorre no lado
contralateral da fusão, devido à maior instabilidade e mobilidade
unilateral na transição lombosacra.
O tratamento desta lesão é difícil, e a recidiva da dor freqüente. A
artrodese do lado em que não ocorreu a fusão é uma alternativa
cirúrgica, quando houver falha do tratamento conservador.
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