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Trabalho realizado por:
- Heloísa Silva Guerra

E-mail:
hsgfisioterapia@ig.com.br

- Fisioterapeuta formada pela Universidade Católica de Goiás;
- Especialista em Análise “Terapêutica do Movimento Humano Aplicada à Fisioterapia” pela Universidade Estadual de Goiás.


EXERCÍCIO FÍSICO NA TERCEIRA IDADE


A possível relação entre saúde, envelhecimento, exercícios físicos, capacidade funcional e qualidade de vida têm sido objeto de estudo de inúmeros trabalhos científicos atuais. Integrar todas essas variáveis é o objetivo de vários pesquisadores que almejam encontrar o segredo de um envelhecimento saudável.


Saúde não significa simplesmente a ausência de doenças. O termo saúde engloba aspectos físicos, psíquicos e sociais. Portanto, o indivíduo deve interagir com seu meio plenamente, necessitando para isso de uma capacidade funcional preservada1. Entende-se por capacidade funcional a capacidade de realizar as atividades de vida independentemente, incluindo atividades de deslocamento, atividades de autocuidado, sono adequado e participação em atividades ocupacionais e recreativas2. O conceito de qualidade de vida envolve a capacidade de realizar as atividades da vida diária sem comprometer o equilíbrio do organismo.


A qualidade de vida na terceira idade tem sido motivo de amplas discussões em todo o mundo, pois existe atualmente uma grande preocupação em preservar a saúde e o bem-estar global dessa parcela da população para que tenham um envelhecer com dignidade.


O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e a cada ano esse processo se torna maior nos países em desenvolvimento podendo ocorrer um aumento de até 300% no número de pessoas idosas, especialmente na América Latina3.


Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), para países em desenvolvimento, onde a expectativa de vida é menor, considera-se como idosos indivíduos com mais de 60 anos1. Embora a grande maioria dos gerontes seja portador de pelo menos uma doença crônica4, nem todos ficam limitados por essas doenças, e muitos levam uma vida perfeitamente normal com suas enfermidades controladas.Um idoso com uma ou mais doenças crônicas pode ser considerado saudável se comparado a um outro com as mesmas doenças porém sem controle, com seqüelas decorrentes e incapacidades associadas.


A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma nação envelhecida quando a proporção de pessoas com 60 anos atinge 7% com tendência a crescer 5. Neste contexto, o Brasil é considerado uma nação populacionalmente envelhecida porque 8,56% do total da população é formada por indivíduos com mais de 60 anos 6.


Segundo Clarck e Siebens7, o envelhecimento, uma parte integrante da vida, é tipicamente acompanhado por alterações fisiológicas graduais, porém progressivas, e por um aumento na prevalência de enfermidades agudas e crônicas.É muito comum ocorrerem distúrbios cardiovasculares, pulmonares, gastrintestinais, geniturinários, hematológicos, músculos-esqueléticos, endócrinos e metabólicos, doenças infecciosas, distúrbios neurológicos, psiquiátricos, cutâneos, oculares e do sono no idoso, o que resulta em mudanças significativas em sua vida, levando-o até mesmo ao isolamento. Esse quadro de alterações pode resultar em perda de função, que sem intervenção adequada e em tempo hábil causa a institucionalização precoce dos idosos. Desse modo são primordiais a promoção e a atenção à saúde do idoso, de maneira que englobe medidas preventivas, restauradoras e reabilitadoras8.


Uma das mais importantes alterações que ocorre com o aumento da idade cronológica é a diminuição da massa muscular esquelética, que gira em torno de 40%. Essa perda gradativa é conhecida como sarcopenia, termo genérico que indica a perda da massa, força e qualidade do músculo esquelético e que tem um impacto significante na saúde pública pelas suas bem reconhecidas conseqüências funcionais9. A força muscular é a adaptação funcional que sempre acompanha os níveis de massa muscular, sendo importante no dia-a-dia de todas as pessoas para a realização das mais diversas tarefas, em especial no idoso, pois geralmente este é um sedentário que perdeu a aptidão física geral. Recentemente documentou-se também a importância da força muscular para manter a homeostase e a hemodinâmica na vida diária10,11. A perda de força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo9.


Vários estudos mostraram que ocorre diminuição das fibras tipo II (rápidas ou fásicas), tanto em tamanho quanto em quantidade, enquanto a atrofia das fibras tipo I (lentas ou tônicas) ocorre em menor intensidade. Essas alterações na estrutura muscular poderiam de certa forma explicar o declínio funcional que ocorre no envelhecimento, já que a força de um músculo está diretamente relacionada ao seu tamanho, área de secção transversa, distribuição dos tipos de fibra muscular e quantidade de unidades motoras ativadas9,12,13.


Outra alteração fisiológica do envelhecimento é a perda de massa mineral óssea. Essa perda atinge tanto homens quanto mulheres, porém ocorre mais precocemente nestas últimas, iniciando por volta dos 45 anos numa taxa de 1% ao ano contra 0,3% em homens a partir dos 50 anos. Obviamente fatores nutricionais, hormonais, genéticos e níveis de atividade física interferem nessa perda e não o processo de envelhecimento somente9.


A intervenção pelos exercícios se constitui em uma medida eficaz para minimizar os efeitos das alterações fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento. Um idoso frágil e descondicionado, com limitações de força, equilíbrio e resistência, encontra dificuldades para realizar as mais simples atividades da vida diária como banhar-se e vestir-se; além de estar mais susceptível a quedas que podem resultar em fraturas e conseqüente imobilidade. Muitos dos déficits advindos com o avanço da idade são reversíveis, podendo o idoso melhorar sua capacidade funcional e autonomia, pela inserção do exercício físico em sua rotina diária1.


O exercício físico na terceira idade pode trazer benefícios tanto físicos, como sociais e psicológicos contribuindo para um estilo de vida mais saudável dos indivíduos que a praticam14. De acordo com Santarém15, alguns dos efeitos salutares do exercício físico são: o aumento do HDL-colesterol; a redução dos triglicerídeos; redução da pressão arterial e da tendência à arritmia pela diminuição da sensibilidade à adrenalina; redução da agregação plaquetária e estímulo a fibrinólise; aumento da sensibilidade das células à insulina; estímulo ao metabolismo dos carboidratos, estímulo hormonal e imunológico; redução da gordura corporal devido ao maior gasto calórico e tendência à elevação da taxa metabólica pelo aumento da massa muscular. Sendo assim, o exercício físico atua na profilaxia de doenças melhorando os fatores de risco para o desenvolvimento de diversas patologias.


De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) o exercício físico regular melhora a qualidade e expectativa de vida do idoso beneficiando-o em vários aspectos principalmente na prevenção de incapacidades16.


A prescrição de exercícios para o idoso é desafiante porque há muitas questões envolvidas, entre elas as clínicas e as psicológicas. Dessa forma se faz necessária uma avaliação geriátrica abrangente que contemple todos os aspectos inseridos no envelhecimento17. A escolha do exercício físico para pessoas idosas também é complexa pois muitas atividades que poderiam ser prazeirosas para a pessoa são inviáveis devido à perda de aptidão decorrente da idade avançada e do sedentarismo15.


Além do prazer, outros aspectos como a eficácia, a segurança e a motivação, devem ser levados em consideração pelos profissionais que atuam na geriatria. É interessante buscar caminhos que mostrem a real melhora da qualidade de vida dos gerontes18.


Na terceira idade os exercícios que atuam revertendo perdas como a da massa óssea, muscular e força, são os mais eficazes já que contribuem para uma maior autonomia funcional. O baixo risco de lesões, controle de freqüência cardíaca e pressão arterial são fatores que tornam certos exercícios seguros, portanto preferíveis nesta faixa etária. Por fim uma sensação agradável e de bem-estar deve envolver o indivíduo pra que este se sinta motivado a progredir com os exercícios15.


Segundo a SBME e SBGG, o programa ideal de exercícios físicos para os idosos deve durar de 30 a 90 minutos, se possível todos os dias da semana, incluindo exercícios aeróbicos, de força muscular, de flexibilidade e equilíbrio16.


A fisioterapia, cujo objetivo de estudo é principalmente o movimento humano, vem colaborar lançando mão de conhecimentos e recursos fisioterápicos, com o intuito de melhor compreender os fatores que possam acarretar perda ou diminuição da qualidade de vida e bem-estar nos idosos1. Dessa forma, a fisioterapia geriátrica é uma área que merece atenção e que é importantíssima no processo de envelhecimento, podendo o fisioterapeuta contribuir, além da reabilitação, na conscientização da população idosa exercendo seu papel de agente promotor de saúde e colaborar para o envelhecimento bem sucedido.



REFERÊNCIAS


1. PAPALÉU NETTO, Matheus.Gerontologia: A velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 2002.


2. JARDIM, José Roberto; RATTO, Octávio Ribeiro; DAL CORSO, Simone. Função
Pulmonar.
In: TARANTINO, Affonso Berardinelli. Doenças Pulmonares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. cap. 6, p. 113-121.

3. TRUELSEN, Thomas; BONITA, Ruth; JAMROZIK, Konrad. Surveillance of stroke: a global perspective. International Journal of Epidemiology. Great Britain, v.30, p. S11-S16, mar. 2001.

4. RAMOS, Luiz Roberto. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso São Paulo. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n3/15882.pdf>. Acesso em: 07 set. 2003.

5. ORGANIZATION WORLD HEALTH (WHO). Department of noncommunicable disease. Prevention and Health Promotion (NPH). About Ageing and Life Course. Disponível em: <http://www.who.int/hpr/ageing/index.htm>. Acesso em: 24 out. 2003.

6. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/ populacao/pop_Censo2000.pdf>. Acesso em: 28 set. 2003.

7. CLARK, Gary S.; SIEBENS, Hilary C. Reabilitação Geriátrica. In: DELISA, Joel A.; GANS, Bruce M. Tratado de Medicina de Reabilitação: Princípios e Práticas. São Paulo: Manole, 2002. cap. 39, p. 1013-1047.

8. IORIS, Mairele Nicolodi. Fisioterapia no Abrigo Bezerra de Menezes: uma abordagem da Fisioterapia na terceira idade. Estudos. Goiânia, v.30, n.2, p. 385-397, fev. 2003.

9. MATSUDO, Sandra Mahecha; MATSUDO, Victor Keihan Rodrigues; NETO, Turíbio Leite de Barros. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Revista Brasileira Ciência e Movimento. Brasília, v.8, n.4, p. 21-32, set. 2000.

10. PEREIRA, Alan Cláudio S. et al. Os efeitos do treinamento com pesos no sistema cardiopulmonar em idosos com idade entre 60 e 80 anos. Revista Digital Vida & Saúde. Disponível em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/revista/artigos/ vida_e_saude/v2n1a1.pdf>. Acesso em: 15 set. 2003.

11. SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: conceituações e situação atual. Disponível em:
<http://www.saudetotal.com/saude/musvida/exresist.htm>. Acesso em: 15 set. 2003.

12. KISNER, Carolyn; COLBY, Lynn Allen. Exercícios Resistidos. In:______. Exercícios Terapêuticos Fundamentos e Técnicas. São Paulo: Manole, 1998. cap.3, p. 55-109.

13. LEMOS, Rafael Raposo. Intensidades de Treinamento e seus Respectivos Ganhos de Força para Indivíduos de Terceira Idade.Revista Digital Vida & Saúde. Disponível em:http://www.saudeemmovimento.com.br/revista/artigos/vida_e_saude/v2n1a6.pdf>. Acesso em: 18 set. 2003.

14.CANAVÓ, Alice. Atividade Física para a Terceira Idade. Informe Phorte. São Paulo, ano 3, n. 9, p. 18, abril/maio/junho, 2001.

15.SANTARÉM, José Maria. Promoção da saúde do idoso: a importância da atividade física. Disponível em: <http://www.saudetotal.com/saude/musvida/idoso.htm>. Acesso em: 29 ago. 2003.

16. NÓBREGA, Antônio Cláudio Lucas da et al. Posição Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Disponível em : <http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudos_exibe.asp?cod_noticia=480 >. Acesso em: 08 fev. 2004.


17. SHANKAR, Kamala; RANDAL, Ken; NAYAK, Nirmala N. Exercícios para idosos. In: SHANKAR, Kamala. Prescrição de Exercícios. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. cap.22, p. 341-352.

18. FREITAS, Rafael de; CONSERVANI, Wilton. Treinamento de Força para Idosos. Disponível em: <http://www.fisiculturismo.com.br/artigos/nacionais/t-d-f-p-i.shtml>. Acesso em: 15 set. 2003.

19. SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: ativação das fibras musculares. Disponível em: <http://www.saudetotal.com/saude/musvida/ativa.htm>. Acesso em: 15 set. 2003.

 

 

Obs.:
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- Publicado em 26/06/06

 


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